CAPÍTULO 11

810 103 4
                                    

VERÔNICA WALKER

Muitas coisas aconteceram nesses últimos meses. Primeiro eu me entreguei a uma depressão profunda; me isolei de tudo e de todos e nem mesmo Naomi, que é minha parceira de cela, conseguiu me animar com seu jeito irreverente e único. Eu chorava toda vez que ouvia o choro de Agnes vindo da cela de Nina, no fim do corredor, e sentia como se houvesse um buraco profundo sangrando dentro do meu peito. Não tive coragem de falar com Lina no dia em que levaram sua bebê embora. O que eu poderia dizer a ela? Eu não conseguia dormir por conta própria, então a psiquiatra me passou alguns calmantes que me faziam apagar feito uma pedra de noite e parecer um zumbi durante o dia.

Até que, um dia, após um pesadelo horrível onde Dante entrava naquele presídio e ateava fogo em tudo, eu decidi que precisava, ao menos, conseguir correr. No sonho, eu morria queimada porque não tinha forças pra sair correndo com as outras. Estava presa na prisão que Dante colocou na minha mente e nas correntes invisíveis que me impediam de sair daqueles portões. Ele nunca me quis do lado de fora. Mas eu decidi que, pelo menos essa barreira, eu quebraria. E prometi a mim mesma que, se conseguisse, nunca mais tocaria no nome dele de novo. Eu fingiria que nada aconteceu e seguiria o resto da minha vida normalmente, cumprindo os 25 anos restantes da minha pena de vinte e sete. Sim, o tempo passa mais rápido do que podemos contar.

Depois de encarar o portão do pátio por dias, eu tomei coragem para dar o primeiro passo. Mesmo ouvindo a voz do Dante dentro da minha cabeça, eu me forcei a fazer. Por um instante, eu fui a atração entre as detentas. Todo mundo parou para me observar e se surpreenderam quando eu não entrei em combustão, de tanto que tremia. Infelizmente, era tarde. O sinal sonoro ecoou, avisando que todas deveríamos voltar para dentro. Naomi grudou em mim e disse que estava orgulhosa. Que o primeiro passo era o mais importante e que eu já era uma vencedora. Eu não me sentia, nem de longe, como uma vencedora.

No dia seguinte, eu fiz de novo e consegui ficar por mais tempo. Embora eu ainda não me sentia livre o suficiente para interagir com as outras, eu passei dias sentada tomando sol e vendo as meninas jogarem ping pong. Do outro lado do pátio, um grupo de mulheres duronas se exercitavam e conversavam entre si. Dentre elas, uma moça bonita, provavelmente da minha idade, me olhava o tempo inteiro.

— Você devia jogar com a gente. — Lina comenta

— Não é a minha praia. — respondo sentada — Eu era mais do vôlei e do futebol.

— A gente pode agilizar um campeonato de vôlei. — Naomi diz pensativa — Não seria assim tão difícil.

— É, acho que a diretora super apoiaria. — Lina apoia a ideia — Mas vocês vão ter que me ensinar um pouquinho, porque eu sou péssima nisso.

— Não tem mistério nenhum.

As duas trocam olhares e eu percebo já de cara que vão falar do elefante gigante no meio da sala. Desde que Luke se foi, eu nunca mais fui aos encontros em grupo.

— Então, Verônica, a gente sente sua falta lá no grupo. — Lina comenta enquanto as outras iniciam uma nova partida

— Eu aprecio isso. — suspiro — Embora eu ache que já tem bastante gente pra compartilhar.

— Mas sempre tem espaço pra você. — Naomi me olha — Você é nossa.

Sorri fraco.

— Eu imagino que estejam preocupadas comigo, mas eu estou bem. — murmuro — Olhem só pra mim, estou do lado de fora.

— Você não parece nada bem, Verônica. — Naomi me encara séria — Parece aqueles machucados fedidos que criam uma casca por fora, mas que quando a gente cutuca, explode em sangue e pus.

Laços Proibidos - Coração vs LeiOnde histórias criam vida. Descubra agora