CAPÍTULO 41

459 67 7
                                    

VERÔNICA WALKER

O rádio estava ligado em uma estação local que só tocava MPB e as melodias bem compostas das músicas atingiam a casa toda, apesar do volume não estar tão alto. Eu estava deitada na laje, as costas no concreto levemente aquecido pelo mormaço e os olhos no céu cinza de nuvens escuras. A estátua gigante do Cristo Redentor estava enevoada, cobrindo a parte superior do monumento, me impedindo de ver os braços abertos e sua cabeça. Eu não sabia ao certo quanto tempo havia passado ali, mas várias músicas já haviam tocado na estação de rádio e as nuvens pareciam mais intensas agora. Um estrondo alto se fez e anunciou que uma chuva forte estava se aproximando da capital, mas eu não me assustei com isso. Eu ouvi os passos do Dante saindo de dentro de casa e não demorou muito para que ele subisse os degraus da escada de madeira e chegasse até mim, se sentando ao meu lado e balançando as pernas pro lado de fora do parapeito. Eu permaneci deitada encarando o céu e logo senti algumas gotas grossas de chuva pingando sobre mim e entrando em contato com meu rosto ferido.

- Não entendo porque você passa tanto tempo aqui em cima, se torturando. - sua voz grave alcança meus ouvidos - Encarando o mundo do alto, sonhando e desejando estar lá embaixo, vivendo como uma pessoa normal, indo e vindo tranquilamente. Você não é como eles, não deveria se torturar desse jeito.

Ele me mantinha presa aqui, mas estava preocupado comigo? Isso não faz o menor sentido.

Os pingos de chuva foram ficando mais grossos e mais contínuos, fazendo com que os machucados em meu rosto começassem a arder.

- Não quero que perca tempo imaginando sua vida por aí sem mim, porque isso nunca vai acontecer, Verônica. - ele pareceu não se importar com a chuva, assim como eu, se molhando ao meu lado - Você nunca será uma mulher livre. Já se passaram três anos, devia se acostumar logo com isso.

A chuva caiu com tudo, causando relâmpagos e trovoadas, mas nenhum de nós dois se mexeu. Deitada, eu mal conseguia abrir os olhos, por conta da intensidade dos pingos e a sensação era a de estar derretendo. Eu queria que fosse verdade. Queria que a chuva forte pudesse derreter cada partícula do meu ser e me levar pra longe, correndo por entre os córregos que levam as águas para longe da favela. Para longe do Dante.

O grito de Sam me fez sair do transe. Talvez Dante estivesse certo e eu nunca seria uma mulher normal, vivendo uma vida normal e indo e vindo sem ele ao meu lado, mas Luke não precisa sair dessa mais traumatizado do que provavelmente já está. Eu ainda tenho uma chance de mandá-lo para casa são e salvo com sua filha ao seu lado. Não pretendo desperdiçá-la. Esse jogo de poder e tortura acaba hoje.

Me arrastei pra fora do blindado capotado e me surpreendi com a cena de Dante segurando Samantha pelos cabelos, com uma faca em seu pescoço. Luke tinha as mãos erguidas em rendição e Dom e Aimes colocavam suas armas calmamente no chão, enquanto se preparavam para negociar com o maníaco do outro lado. Dante sorriu ao me ver e eu vi Sam negar com a cabeça, como se reprovasse minha aproximação.

- Aqui, nesse mesmo lugar, vocês mudaram a minha vida. - Dante disse - Poético, não?

Luke e Dom se encaram, para logo depois olharem para mim. Eu respirei fundo, buscando algum jeito de barganhar e fazer a Sam sair ilesa disso tudo.

Tiros chamam nossa atenção ao virem de trás de Dante e eu percebo quando uma mulher de terno azul e Letty surgem atirando contra os capangas dele que sobraram. A mulher desconhecida por mim pula no capô do carro lilás e Letty para um pouco a frente, ambas com suas metralhadoras engatadas.

- Senhora Toretto. - Dante sorriu apertando mais as mãos ao redor de Sam, mantendo-a no lugar

Eu respirei fundo ao perceber que estávamos em vantagem sobre ele, uma pequena parte de mim criando esperança e a outra parte, a parte que carrega os resquícios da Verônica que ele destruiu, me dizia que aquilo estava fácil demais. Ele não se deixaria ser pego assim. Dante só é acessível quando ele quer.

Laços Proibidos - Coração vs LeiOnde histórias criam vida. Descubra agora