CAPÍTULO 26

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LUKE HOBBS

Eu estava em um típico sono leve da manhã, mas acordei quando me mexi na cama e senti que uma das minhas pernas estava sobre alguém. Abri meus olhos e notei que meu corpo estava atravessado no colchão, passando por cima de travesseiros e chegando até Verônica, que estava deitada de bruços, amassando seu rosto contra o travesseiro. Sua perna direita estava dobrada, atravessando a cama para o meu lado, seu joelho entre minhas pernas, alcançando a altura da minha virilha. Eu franzi o cenho ao notar que as cortinas do quarto eram finas e que a luz do sol já estava invadindo o local e me vi obrigado a permanecer de olhos abertos. Ergui apenas a cabeça, encarando o local ao nosso redor e notei que a porta estava semi aberta. Joguei a cabeça no travesseiro e respirei fundo, observando Verônica por algum tempo. A blusa de botões que fazia conjunto com as calças de seu pijama estava embolada e exibindo uma pequena parte de suas costas. Eu observei o local e vi marcas de vergões que pareciam ter sido causadas com uma surra intencional, utilizando um objeto para ferir como um chicote ou talvez um fio. Eu fechei os olhos por alguns instantes e respirei fundo, me lembrando do dia em que ela deu à luz ao pequeno Luke. Enquanto a médica cuidava dela, eu tive um vislumbre de seu corpo nu de costas e me lembro de ter ficado impactado não com a largura de seus quadris e nem com o tom bonito de sua pele, mas com as marcas que ela carregava. Eu me peguei tendo pesadelos com aquele parto por meses, sempre revivendo a angústia e a agonia daquele momento. Meus pensamentos foram interrompidos por um barulho sutil vindo da cozinha e eu abri os olhos.

Respirando fundo, eu me mexi devagar e, me certificando de que não estava a acordando, eu sentei na cama e mexi o pescoço, sentindo-me menos tenso. Estalei os ombros, cotovelos e os dedos, me colocando de pé e sentindo meu corpo arrepiar pelo contato com o ar condicionado mais forte no quarto. Cobri Verônica com o edredom, percebendo que ela nem mesmo se moveu e forcei meus pés a caminharem para fora do quarto, encostando a porta com cuidado. Quando chego ao fim do pequeno corredor, percebo que a televisão da sala está ligada no canal de desenhos e que Samantha está sentada em uma das duas banquetas do balcão, enquanto está atenta aos objetos em sua frente. Há três tigelas com frutas picadas, duas canecas e um copo cheio com leite e três pratos com fatias de pão e ela está espalhando cream cheese em cada um deles de forma paciente.

— Bom dia. — murmuro chamando sua atenção

Ela sorri e eu vou até o balcão, me inclinando sobre o mesmo para lhe dar um beijo na testa.

— Bom dia, papai. — ela responde ainda focada em sua tarefa

Percebo que nossas bolsas estão jogadas no chão e que a pistola da Verônica ainda está no balcão, que ela deixou na madrugada quando eu cheguei, mas que há um pano de prato cobrindo-a. É meu acordo com a Sam, ela não deve tocar em armas, então suponho que tenha jogado as bolsas pro chão para arrumar espaço no balcão, mas ignorou a arma. Eu me abaixei para pegar uma blusa na bolsa.

— Eu encontrei algumas coisas na geladeira. — ela comenta — Não é o café da manhã gigante que gostamos, mas dá pra matar a fome.

Eu ri ao vestir a camiseta e peguei a sacola com os frascos dos meus remédios, me dirigindo até o balcão da pia da cozinha.

— Seu pai não te ensinou a não vasculhar a geladeira dos outros? — brinco ao encher um copo com água da bica e engolir algumas pílulas

— Ele me ensinou a não morrer de fome, enquanto os adultos dormem. — ela rebate afiada, também rindo

Enquanto engulo meus remédios pra dor, olho no relógio digital perto da TV e vejo que são quase nove da manhã. Eu dormi demais.

— Verônica não tem ingredientes para um café da manhã reforçado em casa, porque nós tomamos café juntos após o treino, lembra? — a olho

Laços Proibidos - Coração vs LeiOnde histórias criam vida. Descubra agora