CAPÍTULO 27

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VERÔNICA WALKER

Eu tinha uma mala aberta e um sonho: colocar minhas roupas novas dentro dela. Eu acabei de me dar conta de que não vou à praia há, pelo menos, cinco anos, e que eu não tenho traje de banho, já que todas as minhas roupas precisam, no mínimo, cobrir minhas cicatrizes. Bom, talvez eu tenha dois sonhos, o de colocar as roupas novas dentro da mala e o de ter coragem para usá-las nessa viagem. Em um pico de adrenalina, após sair de uma sessão de terapia, eu passei no shopping e me permiti fazer compras como uma mulher normal. Lingerie, trajes de banho, vestidos, roupas leves para curtir o verão europeu. Eu até passei numa liquidação especial +18, só que ainda não tive coragem de abrir a caixa e a escondi no alto do armário do banheiro. Enquanto eu tirava as etiquetas das roupas e as dobrava, eu me perguntava o que estava para acontecer nos próximos dias. Eu não saio dos Estados Unidos desde que o DSS me extraditou e confesso que viajar em férias não estava nos meus planos, mas meu terapeuta disse que seria bom para a minha saúde mental ver outra cultura, ter tempo livre e conhecer novas pessoas. Claro que depois de sair do shopping com as sacolas, eu já tive vontade de desistir e ligar pro Luke várias vezes, mas eu realmente estava ansiosa para ir. Eu só não sabia se queria usar biquíni pela primeira vez em cinco anos na frente dele.

Usando saquinhos zip lock para me ajudar, eu guardei as roupas, acessórios e sandálias na mala nova e fechei o zíper, lacrando a mesma com um cadeado de viagem. Na minha mochila de sempre, eu guardei documentos, necessidades básicas e as chaves da outra mala. Eu estava ansiosa com a possibilidade de viajar e Jakob me ajudou a acelerar o processo de atualização do meu passaporte. Depois de alguns dias de espera, viajamos em algumas horas.

Você sabe que pode me ligar pra qualquer coisa, não sabe? — eu vi Jakob erguer uma das sobrancelhas na tela do tablet, durante nossa chamada de vídeo

— Eu sei, mas acho injusto te ligar e interromper seu tempo com sua esposa. — digo — Embora eu ache que ela seja apenas fruto da sua imaginação. — implico

Acha que eu sou casado com uma amiga imaginária? — ele ri de volta

— Bom, eu nunca a conheci. — dou de ombros

Calma, essa hora está pra chegar. — responde ainda rindo — Mais breve do que achamos, talvez.

É a minha vez de rir e tomar um longo gole de chá.

Está tomando café a essa hora? — ele franze o cenho ao ver a caneca na minha mão

— É chá de camomila. — reviro os olhos — Meu terapeuta me proibiu de tomar café depois das quatro da tarde. Estava piorando minhas crises de ansiedade.

Você está mesmo animada pra viajar, hein? — comenta — Acho que nunca te vi tão empolgada.

— Empolgada e com medo. — desabafo — E se eu der alguma crise e estragar o clima das férias?

Vai ficar tudo bem, ok? — ele me tranquiliza — E, além do mais, você vai estar com a minha irmã por perto. Não há nada que ela não faria para te ajudar.

Eu o observo por um momento. Jakob não é muito de falar sobre seu relacionamento com o irmão ou com o pai, mas sempre lembra da irmã e seus olhos sempre brilham por isso.

— Você devia voltar pra ela. — incentivo — Mostrar que está vivo e que ela pode se orgulhar do cara excelente que você é.

Não, a Mia não consegue esconder nada do Dom. — ele coça a cabeça — E isso faria ela ter que escolher entre eu e ele e eu não quero isso.

— Mas qual é o problema do Dom saber que você está vivo e bem? — franzo o cenho — É estranho pensar que o homem que vive tentando me incluir na família seja assim tão hipócrita com o próprio sangue. Fala sério, Jake, você está cuidando deles à distância por anos. Não sente vontade de voltar pra casa?

Laços Proibidos - Coração vs LeiOnde histórias criam vida. Descubra agora