CAPÍTULO 5

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VERÔNICA WALKER

A aeronave militar era gigante e após uma longa jornada de um silêncio constrangedor no carro, onde apenas meu choro era ouvido, o agente Careca-Mal-Encarado empurrou minha cadeira de rodas pela rampa e me ajudou a embarcar. Quando levantamos voo, o sol estava se pondo e eu fiquei admirando pela janela. Eu estava com uma sensação assustadora na boca do estômago. Depois de tantos anos presa nos limites daquela favela, estar aqui fora parecia errado. Principalmente por estar indo de volta para o meu país, lugar que eu não piso há mais de dez anos.

— Serviço de bordo. — o homem põe uma bandeja sobre a mesinha em minha frente

Há pão, um pedaço de bolo e um copo de suco, acompanhados dos comprimidos que o médico me passou. Eu pego um dos guardanapos e seco meus olhos.

— Eu posso perguntar seu nome? — pergunto baixo

— Isso importa? — ele se senta do outro lado do corredor, com sua bandeja

— Bom, talvez não, já que na minha cabeça eu já te arrumei um apelido bem bacana e que funciona muito bem. — resmungo — Tudo bem se não quiser falar. — dou de ombros

— Qual apelido? — me olha

— Isso importa? — uso suas palavras contra ele

Ele sorri e eu dou uma mordida pequena no bolo, não conseguindo sentir o gosto direito.

— Agente Hobbs. — ele diz

— Seu primeiro nome é agente? — implico, mas ele não responde — Com um nome desse, é melhor ser o Careca-Mal-Encarado mesmo.

Respiro fundo arrumando a coberta em minhas pernas.

— Enfim, obrigada, agente Hobbs. — agradeço

— Não há de quê, detenta.

Eu fico um tempo em silêncio encarando a bandeja com a comida, ainda sem coragem de começar a comer. Começo a sentir minhas mãos suarem de nervosismo. Eu passei muito tempo sob as garras do Dante, como vai ser minha vida agora? Será que eu sobrevivo sem ele?

Começando a tremer, eu engulo dois comprimidos que dizem serem calmantes em caso de dor. Hobbs me olha em sinal de reprovação.

— Não deveria tomar dois de uma vez. — ele diz — Principalmente com o estômago vazio.

— E isso importa? — o encaro mal humorada

Eu acho que ele estava disposto a me dar uma má resposta, mas quando me encarou seu olhar suavizou ao ver o meu estado. Lábios pálidos, mãos tremendo e suando.

— Você deveria. — diz — Com a criança dentro de você.

Suspiro.

— Você tem filhos? — pergunto sentindo o efeito das pílulas deixando minha cabeça pesada

Ele se remexeu desconfortável e mordeu seu pão.

— Tenho. — confirma — Uma menina.

— Você é pai de menina? — eu o olho de surpresa, vendo seu perfil — Aposto que ela faz você de gato e sapato.

— Ela, com certeza, tenta. — ele comenta — Às vezes consegue, confesso.

Respiro fundo e afundo na poltrona, me enfiando sob a coberta.

— Algum conselho? — murmuro

— Bom, você, assim como eu, será um responsável solo, aparentemente. — ele diz e eu ergo as sobrancelhas com a descoberta dele ser solteiro — O melhor conselho que eu posso te dar é; siga suas intenções. Confie na ligação de vocês.

Laços Proibidos - Coração vs LeiOnde histórias criam vida. Descubra agora