✂ Quatro ✂

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Ísis

— Que lugar é esse?

Gael dá a volta em seu carro gigante e para ao meu lado na calçada. Estamos diante dos portões de uma chácara. E pelo o que eu notei, acho que o ateliê dele fica por aqui por perto, tenho a sensação de que passei por esse lugar quando ia até o famigerado trabalho.

— Essa é a Casa Rosa dos Ventos. — Seu dedo longo apontou para uma placa de mármore na parede. Todo o muro era construído com pedras escuras e grandes. Tinha todo um charme. — É uma fundação não governamental que acolhe mulheres.

— Aaw, isso é muito massa!

— Sim. Aqui chegam mulheres de todo o lugar do estado. E ninguém cobra nada para deixá-las ficar. A maioria vem em total desespero e sem nada, porque estão fugindo de maridos agressivos ou de alguma situação de abuso, seja cometida por pais ou chefes. Há muitas pessoas trabalhando em empregos semelhantes à escravidão.

— Eu posso imaginar. — Meus olhos percorrem todos os detalhes do portão. As grades vazadas me permitem observar o lado de dentro. Há um jardim cheio de flores e uma piscina pequena na frente. — Esse lugar é bem bonito. E que bom que ele existe, não é?

— Verdade. — Gael pigarreou, aprumando a postura. — Pronta para entrar? As pessoas que trabalham aqui fazem isso de forma totalmente voluntária e com muito boa vontade. São mulheres gentis e bastante amorosas com todos.

 São mulheres gentis e bastante amorosas com todos

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— Espera... e-eu... devo mesmo ficar aqui? Digo, posso estar tomando a vaga de alguém que realmente precise.

Ele abanou a cabeça, como se o meu pensamento fosse totalmente idiota.

— Relaxa, Ísis. Acho que ficar aqui por um tempo não tem problema.

— E depois? E quando me chutarem?

Seus olhos se estreitaram. Lá estava a famigerada falta de paciência.

— É impressionante a sua capacidade de ser cismada.

— É impressionante a sua capacidade de ser um mala!

— Como é?

— É o que você ouviu. Uma mala sem alça, ainda por cima.

Gael coçou a lateral da cabeça de um jeito enérgico, depois me deixou pra trás e foi até a campainha, e assim que apertou o botão quase camuflado perto do portão, eu estremeci.

Não que eu não achasse que o pessoal fosse bacana, mas o Gael estava certo. Eu já levei tanta porrada da vida que ser cismada é quase um atalho para me manter viva.

Penso em sair correndo, até chego a olhar para os lados, mas desisto.

Na verdade, meu corpo me faz desistir.

Não me lembro qual foi a última vez em que comi, porém, meu estômago dá um ronco alto me fazendo perceber que já faz bastante tempo. E junto desse ronco me vem também um queimor na barriga que se espalha como um enjoo. Respiro fundo, mas não é o suficiente.

Procura-se Uma NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora