✂ Cinco ✂

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Ísis

Meu coração deu umas três piruetas no ar e depois caiu direto no meu estômago, após escorregar do peito e desabar. Ou, talvez, ele estivesse apenas batendo atrás das minhas orelhas, bombeando sangue para a minha cabeça que doía ainda mais.

Como eu fui dar uma mancada dessas?!

— Gael! — A voz da dona Adriana me salvou. — Querido, eu não estava te esperando, mas fico feliz que tenha vindo.

Ele ainda me olhava lá dos seus um metro e oitenta e muitos de altura, mas aos poucos seu lábio se repuxou um pouco no canto, abrindo um sorrisinho que demonstrou sua covinha da bochecha esquerda.

E quando finalmente parou de rir pra mim — ou melhor, de mim —, e encarou a dona Adriana, eu pude sair do caminho, retornando para dentro da sala, indo até perto das estantes.

Era ridículo que eu estivesse tão desnorteada. Tipo assim, é claro que eu falei merda e minha bocona se abriu além da conta, porém, numa boa, ele é gostoso. Ele é gostoso pra caramba. E o fato de Gael ser um pé no saco não diminui sua beleza. IN-FE-LIZ-MEN-TE!

Eu bem que gostaria de empurrar a vergonha para longe e apenas continuar irritada, mas não pude.

— Bom dia, Adriana. Como você está?

— Um pouquinho preocupada com a Ísis. Ela se irritou quando soube do seu pedido. Tive receio de que ela nos abandonasse. — Um sorriso todo fofo surgiu no rosto da dona Adriana.

Tive o ímpeto de explicar que a minha irritação não tinha nada a ver com ela, mas sim com o demônio loiro, porém, quem disse que o infeliz ficou calado!

— Será que você não consegue entender que é o melhor, Ísis?! Se eu pedi isso à Adriana, foi por uma boa causa.

— Ah é, e de que suposta boa causa estamos falando?

— Sinceramente! — Ele bufou. Lá estava seu péssimo gênio. O sorriso tinha definitivamente sumido.

Ótimo. Assim também posso começar a usar essa raiva que acordou aqui no meu peito.

— Sinceramente o quê, Gael? Porque você não fala logo o que pretende comigo? Anteontem você queria me matar, ontem me defendeu e me trouxe pra cá. Mas e aí? Qual é a sua real intenção? E seja lá o que for, saiba que eu não vou ficar à sua disposição que nem uma otária!

Ele coçou a testa e pousou as mãos na cintura em seguida.

— Adriana, poderia nos dar licença, por favor? Eu quero conversar com ela.

— Não, dona Adriana, pode ficar.

— Adriana, eu realmente preciso ficar sozinho com a Ísis. — Gael contrapôs, lançando um olhar enviesado pra mim.

Bufei tal qual uma criança contrariada e cruzei os braços.

Dei as costas para os dois e caminhei até a janela, afastando ainda mais as cortinas para observar o jardim.

Eu queria ir até lá.

Ou melhor, talvez fosse melhor ir embora de uma vez.

— Com licença. — Ouvi a dona Adriana dizer.

Logo a porta foi fechada.

E vai ver eu estivesse louca, mas a atmosfera começou a pesar. Eu senti uma pressão no peito, então me virei. Encarei Gael que continuava parado perto da porta e tentei decifrar o que aquela cara bonita e idiota dele queria dizer.

Procura-se Uma NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora