✂Vinte e Oito ✂

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Ísis

— Eliza? — Gael indaga, olhando pra mim com as sobrancelhas franzidas.

Dou dois passos para trás. Parece que uma mão invisível está fechando os dedos em volta da minha garganta. De repente até respirar dói.

Levo meu olhar até Sérgio. Ele me fita em súplica, porém, eu conheço esse homem o suficiente para estar um passo a frente de seu fingimento.

E não é isso que me espanta; o que me assusta é ele estar vivo.

Ou talvez eu tenha enlouquecido de vez...

Quando falei com Marta ao telefone e ela me falou que estavam atrás de mim, suspeitei que fosse a minha mãe e a polícia.
Apenas eles. Não esse monstro maldito.

— Ísis, fala alguma coisa. — Gael diz. Ele busca meu olhar de um jeito que parte o meu coração. — Amor, quem são essas pessoas? Fala comigo. O que está acontecendo?

— Gael, está tudo muito claro aqui. — Maria Helena toma a palavra. — Este homem ligou para a nossa casa em busca desta... menina. Ele a viu na televisão e na internet e a reconheceu de pronto.

— Reconheceu? Reconheceu de onde?

— De onde? — Sérgio falou, aproximando-se da porta. — Desculpe, mas ela é a minha mulher. Então que tipo de pergunta é essa?

— Não ouse entrar na porra da minha casa. — Gael vociferou, se plantando na entrada, impedindo que Sérgio avance mais algum passo. — E eu não sei que tipo de patifaria a Maria Helena está armando agora, mas sinceramente, que palhaçada!

— Senhor, a dona Maria Helena não armou nada. Ela está falando a verdade. Esta moça aí dentro é a minha filha e a esposa do Sérgio. E se o senhor não quiser entrar em problemas é melhor deixar o caminho livre para nós dois, porque a minha filha tem muita explicação para nos dar.

— Não... EU NÃO TENHO NADA PRA FALAR! — As palavras pularam da minha boca expondo toda a agonia que aquelas lembranças me causavam. — Gael, por favor, pelo amor de Deus, não os deixe entrar. Por favor. Por favor!

— Você os conhece mesmo, Ísis?

— Querido, como ainda têm dúvidas? — Maria Helena se intrometeu. — Eu te disse que essa menina não era confiável e que você nem a conhecia direito. E está vendo aí? Dito e feito! Ela enganou você e a todos nós!

— Mamãe é melhor irmos. — Camila falou, puxando o braço da mãe. — A senhora já fez o que tinha que fazer. Eles que se resolvam. Quem sabe assim o Gá comece a dar valor a quem sempre esteve sendo sincera com ele. Não é?

Gael ignorou aquelas palavras e se virou pra mim.

Eu estava sufocando entre os soluços e quase não conseguia ver nada por causa das lágrimas.

O pavor estava correndo pelo meu corpo como insetos peçonhentos.

— Você tem razão, querida. Acho que... fiz o que precisava. — Maria Helena olhou diretamente pra mim. — Eu disse, garota, uma hora ou outra eu iria acabar com esse show. E... tardou, mas não falhou.

Quis retrucar e avançar na cara daquela perua, mas ela se foi junto da filha e o que sobrou foi o homem da minha vida me olhando com sérias dúvidas e desconfianças e o meu maldito passado personificado em forma de um marido monstruoso e uma mãe sádica.

— Liza, pegue suas coisas e vamos embora. — Minha mãe murmurou, massageando as têmporas com as pontas dos dedos. — Já chega de tanta baixaria. Vamos pra casa. Ande, vista-se. Tire essa... essa pouca vergonha. Vá se trocar!

Procura-se Uma NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora