✂ Um ✂

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Gael

Aquela... aquela criatura pequena e desaforada me mordeu?

— Gael, você está bem?

Ignorei a pergunta de Heitor e saí correndo. Ela estava adiante com o vestido flutuando em volta de seu corpo magro e baixo. Se eu não estivesse com os órgãos ferrados, conseguiria ter mais fôlego e disposição para alcançá-la.

Maldita doença!

— GAROTA, VOLTA AQUI AGORA! — Esbravejei, chegando ao jardim.

Olhei para a passarela recém-montada e subi nela. Os funcionários começaram a surgir por todos os lados, curiosos e confusos.

— GAROTA! VEM AQUI AGORA!

Pousei as mãos na cintura e puxei ar, soltando-o com força em seguida. Meu braço latejava de dor, e após dobrar um pouco a manga da minha camisa social, constatei que as marcas dos dentes dela adornavam a minha pele, formando várias meias-luas contornadas por uma vermelhidão latente.

— O que faremos? A garota não pode ter evaporado. — Heitor disse, usando a mão como uma aba para proteger os olhos do sol, enquanto me encarava lá de baixo.

Bufei, impaciente.

— Reúna todo o pessoal na cozinha. Não deixe ninguém sair.

— E o que você vai fazer?

— Vou encontrar a ladra. — Dei outra olhada em volta. — E ainda quero que ligue para a polícia. Hoje ela sai daqui direto para uma cela ou eu não me chamo Gael Matarazzo!

— Filho, será que envolver a polícia não é um pouco demais?

Não falei nada, apenas arqueei as sobrancelhas. Heitor compreendeu o recado.

Ele sacudiu a cabeça com exasperação e foi dizendo aos empregados que o seguissem. E apesar de curiosos, tiveram que obedecer, pois, ao contrário daquela carcaju raivosa, os outros sabem a quem deve obediência.

— Tudo bem... — Falei para mim mesmo, ordenando minha mente. — Sair ela não saiu. Tampouco pulou o muro. Mas para onde ela... Ah, claro! — Corri até o final da passarela e desci os degraus, atravessando o jardim em seguida, indo direto para um beco estreito que levava até a área da piscina.

Uma piscina que eu quase nunca usei, porque aqui é o meu local de trabalho. Um local que eu considerava seguro. Até agora.

Injuriado e com o coração esmurrando as costelas, esquadrinhei o entorno, mas tudo o que vi foi a churrasqueira lá do outro lado, a mesa gigante de madeira marrom que ficava numa área coberta, próxima à cozinha improvisada que abrigava todos os eletrodomésticos necessários para alguma festa que fosse dada ali e...

Espreguiçadeiras... mesinhas... um chuveiro grande... uma mangueira vermelha jogada sobre a grama verdinha...

Franzi o cenho e girei nos calcanhares, mas dei de cara com a parede da casa.

— Não é possível que ela... — Sentindo um tremor, corri até a beirada da piscina e congelei no lugar.

Um pedaço do meu vestido boiava sobre a água.

UM. PEDAÇO. DO. MEU. VESTIDO.

Não, não, não!

Tirei o celular do bolso e o atirei longe, então, no segundo seguinte mergulhei, empurrando a água com os braços e as pernas, abrindo espaço, tentando alcançar a mulher estatelada no fundo da piscina.

Meus pulmões queimavam de tanto prender o fôlego e os meus olhos ardiam por causa do cloro, contudo, consegui pegá-la.

Abarquei seu corpo com os braços e emergi, mantendo sua cabeça no alto.

Procura-se Uma NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora