✂ Prólogo ✂

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Ísis

— Você tem certeza de que vai dar conta de tudo? — O homem magricela e narigurado à minha frente perguntou, olhando-me com ar de descrença.

Eu estiquei bem o corpo, aprumando a postura. Até arrebitei um pouco o queixo, querendo demonstrar como eu estava confiante — mesmo que eu não estivesse nem um pouquinho certa do que ia fazer.

Quer dizer, eu sabia o que precisava fazer. Eu tinha que limpar. Limpar todo o ateliê de um cara ricaço que contratou uma equipe só para dar uma geral no espaço, porque parece que vai ter uma festa ou algo assim.

E quando o Rafa — o cara magricela e narigudo que está me encarando — sugeriu que eu fizesse parte da equipe que ele ia coordenar, eu aceitei na hora. Afinal, grana não cai do céu. E quando você vem do interior, lá de onde o Judas perdeu as cuecas — porque as botas ele perdeu antes —, você meio que topa qualquer coisa para pagar o aluguel e ter o que comer.

E no meu caso, eu não tenho o que comer e estou devendo o aluguel da semana para a dona Vilma que, não por acaso, é a mãe do Rafa.

Os dois são donos de uma vila com casinhas minúsculas onde eu moro.

Na verdade, tenho quase certeza de que a dona Vilma fez o Rafa me chamar só para que eu pagasse logo.
E pela cara do narigudo, ele odiou a ideia. Acho que a última coisa que o Rafa queria era ficar responsável pela garota caipira que não tem onde cair morta e praticamente mora de favor em uma de suas casas.

E isso é péssimo. É péssimo mesmo. Só estou há míseras quatro semanas no Rio de Janeiro, e já quase passo fome, perco a casa e ainda coleciono desafeto.

Talvez a vida não goste tanto assim de mim.

— Posso fazer isso. — Respondi, a voz firme e alegre.

Ultimamente tudo pode estar péssimo, mas não vou me permitir desanimar. Se eu ficar amargurada, aí sim que as coisas vão desmoronar.

E eu tenho planos, metas.

Preciso ter dinheiro logo. O mais rápido possível.

— Então entra e se liga nas instruções que eu anotei e colei lá na parede da cozinha. E quando acabar, fica junto com os outros esperando do lado de fora, perto da piscina. Ouviu? — Enfatizou, arqueando uma sobrancelha. — Nada de ficar perambulando por aí.

Assenti.

— Tudo bem.

— Eu volto logo.

— Espera, você não vai supervisionar a galera?

Rafa retirou as chaves do carro de dentro do bolso e abriu um sorriso torto. Um sorriso que não combinava muito com sua cara sempre amarrada.

— Eu tenho outro compromisso. Mas já orientei todo mundo. Vocês vão dar conta.

Abri a boca para perguntar mais coisas, porém, ele se enfiou dentro de seu carro quadrado e velho e, sem esperar, deu a partida e se foi.

Resmunguei por entre os dentes e bati o pé com força no chão.

Calma, Ísis, calma. Você consegue. Você precisa conseguir!

Apenas seja... invisível. Isso! Passe reto, não fale com ninguém. Não respire perto de coisas caras e nem... abra a boca.

Você consegue. Você pode!

Repetindo isso, empurrei o portão alto e pesado e entrei.

E paralisei.

Procura-se Uma NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora