✂ Dez ✂

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Ísis

Eu ainda estava com olhos ardendo um pouco e com o nariz ligeiramente entupido por causa do choro quando chegamos à tal loja onde ele iria comprar o meu anel.

Estávamos numa parte tão rica da cidade que eu nem fazia ideia que existia. Parecia novamente outro mundo. De repente era como se ao aceitar me casar com Gael, eu fosse teletransportada para uma realidade que só era possível em filmes, séries e novelas.

E quando entramos no estacionamento da loja e um bando de seguranças apareceu para nos guiar pelo elevador até onde o próprio dono do lugar nos esperava, eu comecei a compreender o quão importante meu futuro esposo era.

Não que eu não soubesse que Gael era rico demais da conta, mas agora parecia que tudo estava sendo esfregado na minha cara, só pra que eu entendesse de uma vez que estava me metendo em algo que não tinha volta — e que não combinava em nada comigo.

— Tente sorrir. — Gael murmurou assim que as portas do elevador se abriram.

E eu até teria sorrido, mas meu queixo foi parar no chão. Ou melhor, láááááá no subsolo.

Uau! — Sibilei atônita, chocada com o hall da loja.

Alguns seguranças estavam por ali e um deles nos mostrou o caminho. Eu fiquei o tempo todo olhando por cima dos ombros, tentando assimilar aqueles lustres, o piso escuro que brilhava sob os meus pés, as pilastras e o teto super alto.

Não vi nada de jóias, mas reparei no belo sofá em um tom de vermelho bordô que ficava próximo a uma enorme janela com vista para a rua chique lá fora; tinha também uma mesa de centro toda de vidro e um monte de outros móveis combinando que fazia tudo parecer uma sala de castelo ao invés de uma loja de anéis e tal.

— O que achou? — Gael me perguntou quando entramos em outro elevador.

Eu me apoiei na parede metálica e sacudi a cabeça.

— Tem certeza que não erramos de lugar e acabamos invadindo a casa da Família Real?

— Não seja tola. — Ele riu rapidamente. — É só a loja do Gutiérrez.

— Anrram, uma loja...

— Ísis, eu preciso que pareça menos estupefata. Será que você pode arregalar menos os olhos quando estivermos com o dono deste lugar?

— Desculpa, Alteza, mas eu não estou acostumada com nada disso.

— Alteza, é? Acho que combina mesmo comigo essa coisa de príncipe.

Bufei numa risada irônica.

— Você nunca seria um príncipe.

— Por quê? — Ele parecia genuinamente confuso.

Cruzei os braços e arqueei uma das sobrancelhas.

— Um verdadeiro príncipe não acha que os sonhos de uma dama são uma coisa boba. — Fiz aspas bem exageradas com os dedos. — E um legítimo príncipe jamais iria ficar arrastando uma mulher para todo lado e dando ordens como se ela fosse uma criança burra, e nem mesmo obrigaria essa mulher a se casar com ele.

Ele ficou em silêncio me encarando. Eu sustentei seu olhar por alguns segundos, mas depois abaixei a cabeça, fitando meus sapatos velhos.

— E como um príncipe de verdade se comportaria? Na sua opinião, claro.

— Ummm... — Entortei os cantos dos lábios, pensando um pouquinho. — Eu acho que um príncipe de verdade é nada mais e nem nada menos do que um homem gentil, protetor, amoroso, romântico. E não falo desse romance todo cheio de frufru, entende? Falo dos detalhes. Tipo, perguntar como a outra pessoa está, se preocupar com o dia dela, dividir os segredos, as alegrias e as frustrações. E... nunca machucar. Um príncipe jamais machucaria a sua garota. Nem falaria coisas feias. Muito pelo contrário. Ele iria cuidar dela, fazê-la sorrir, levá-la para ver coisas bonitas e abraçá-la forte quando tudo parecesse desmoronar. E quando a vida ficasse muito difícil, ele iria lembrá-la de que ela não está mais sozinha, e que dois é melhor do que um para enfrentar as dores. — Quando acabei de falar notei que as lágrimas tinham voltado. Meu olhar encarava o nada e um nó grande estava ali na minha garganta.

Procura-se Uma NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora