✂ Vinte e Dois ✂

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Gael

O Heitor até tenta disfarçar o sorrisinho, mas eu noto a felicidade dele, só não entendo o motivo dessa alegria, afinal de contas não era ele que estava com os dois pés atrás com essa história de casamento?

— Então você foi buscar as alianças... — Comenta enquanto estica o pescoço para bisbilhotar a caixinha que acabei de colocar sobre a mesinha de centro.

Estamos no apartamento dele, porque eu simplesmente acabei ficando por aqui quando voltei da joalheria. Não sei o que me deu. Apenas não consegui ir até a minha casa e ver a Ísis, principalmente após a noite que tivemos.

Mesmo que nada demais tenha rolado, lógico. Afinal, só dormimos. Só isso.

Como eu sou idiota!

Acho que lá no fundo a forma como ela reagiu ao acordar foi o que me pegou em cheio. Ela parecia genuinamente apavorada. Será que era tão ruim assim estar ao meu lado? Sou tão desprezível assim?

Bom, pra ela talvez eu seja.

Não a julgo. Fiz escolhas péssimas e a chantageei.

— É o anel de noivado dela. — murmuro, sentado, encarando a caixinha.

— E o vestido? Tudo pronto?

— Sim. Está no meu quarto. Vou entregar para ela mais tarde.

Heitor fica calado, mas com o canto do olho eu o vejo cruzar as pernas e bebericar seu chá gelado. Parece uma velhinha fofoqueira esperando uma brecha pra começar a falar.

Resisto o quanto posso, mas depois...

— Vai, fala. O que você está pensando, Heitor?

— Nada não, eu só acho engraçado que...

Ih, lá vem!

— Calma. É só que eu pensei que te veria mais alheio a isso, sabe? Você sempre disse que era só um acordo.

— E é exatamente isso.

— Sei não, hein. Eu estou te vendo nervoso. Parece realmente que você está ansioso pelo noivado e o casamento, como um verdadeiro noivo estaria.

Tento rir com deboche, mas o máximo que consigo é esboçar uma careta.

— Não seja maluco.

— Não é um julgamento, Gael. Eu juro. Na verdade, é bom te ver animado com algo que não tem a ver com trabalho. E para ser sincero, notei que desde que a Ísis apareceu você anda mais leve e menos atrelado ao serviço. Parece até que... resolveu viver.

— Um paradoxo ridículo, não acha? Eu estou morrendo, Heitor. Já era. E nada disso fará diferença.

— Engano seu.

Levanto, exasperado.

Dou alguns passos pela sala, inquieto. Parece que está tudo de cabeça pra baixo dentro de mim.

— Não é engano... — Sibilo meio aéreo, parando perto da janela. — Do que adianta estar ou não nervoso? Estar ou não animado? Eu vou morrer! E assim que o meu caixão for selado, acabou. Nada adiantará.

Mesmo que eu falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria. É só o amor que conhece a verdade, o amor é bom, não quer o mal. — Ele cantarola, fazendo-me virar para olhá-lo.

Heitor sempre gostou de cantar, ele tem até um violão. Porém, algo muito maior me faz ficar abalado ao ouvir isso.
Essa canção era a música dos meus pais. Eles ouviam sempre e cantavam pra mim.

Procura-se Uma NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora