✂ Vinte e Sete ✂

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Interior do Rio de Janeiro, semanas antes...

— No que está pensando, passarinha?

Levanto a cabeça lentamente e observo pelas frestas dos fios loiros do meu cabelo a figura alta do meu marido.

Lá está ele; como ele ainda consegue sorrir?

— Querida, que carinha é essa? Ei, não precisa ficar assim...

— Não me toca. — Balbucio, levantando do chão, indo rapidamente até o outro lado do quarto.

Abraço meu corpo e me encolho no canto.

— Eliza, pelo amor de Deus, eu já pedi desculpas!

Abaixo a cabeça e vou escorregando pela parede até estar sentada novamente no chão gelado do quarto luxuoso que se tornou minha gaiola de vidro.

— Eu quero ficar sozinha, Sérgio. Por favor.

Ouço o som de suas botas encontrando o piso, depois o tapete, aproximando-se, aproximando-se, aproximando-se...

Sérgio fica de cócoras na minha frente e toca no meu braço.

— Você se cortou de novo... Porra, eu já disse pra parar com essa merda!

— Faz sentido, não é? Só você pode me ferir. Entendi.

— Nunca foi a minha intenção. — As pontas de seus dedos arrumaram meu cabelo alisado atrás das minhas orelhas. — Você escorregou, Eliza. Eu tentei te segurar, mas não consegui. Foi um acidente.

— Você me empurrou...

— Não... — A voz de Sérgio soa agoniada. Ele ergue minha cabeça. — Eu nunca machucaria a minha passarinha. Eu cuido de você, Eliza. Você sabe...

— Para...

— Eu não quis te empurrar. E-eu... eu estava com aquela panela quente nas mãos e esbarrei em você, foi só isso...

— Não foi assim...

— Para, Eliza, para de criar coisas, por favor. Você está acabando comigo... com nós dois. Por favor, por favor, para. Para de me magoar assim, para... eu imploro... — Seus braços envolveram meu corpo e ele me puxou para seu colo.

Não me movi, acho que nem respirei.

Sérgio afundou o rosto no meu pescoço e chorou. Ele chorou de soluçar.

Fiquei estática sentindo seu corpo vibrar contra o meu.

— Eu te amo, passarinha. Eu te amo. Eu me casei com você. Sou o seu marido, sou tudo o que você tem e você é tudo o que eu tenho, então, por favor, por Deus, para de me machucar assim. Só... confia no meu amor. Confia em mim. Por favor...

Fecho os olhos e respiro o cheiro de xampu caro que exala de seus cabelos negros.

Não tenho nada o que dizer. Não consigo.

— Está tudo bem, Eliza. Enquanto estivermos juntos, tudo ficará bem. Eu prometo.

(...)

Assim que Sérgio saiu para comprar o nosso almoço a minha mãe chegou.

Eu sabia que os dois revezavam entre si para me vigiar. Eles diziam que era para o meu bem, para que eu não fizesse mais a besteira de atentar contra a minha vida, porém, era mentira.

Procura-se Uma NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora