✂ Trinta e Um ✂

92 18 258
                                    

Ísis

Agora eu sabia como uma laranja se sente depois de ser espremida até a última gota.

A coitada é retorcida, esmagada, retorcida, esmagada...

Eu me sinto exatamente assim; como uma laranja toda esbagaçada com dores por todos os lados e um gosto horrível na boca.

Não que laranjas tenham boca e tal.

— Seja bem-vinda de volta, Ísis.

Demoro um pouco para perceber o médico ao meu lado e tomo um genuíno susto.

De repente tudo vai voltando e as memórias me acertam como vários socos.

E por falar em socos...

— Cadê o Gael? O que ele fez com o Gael? O que o Sérgio fez, doutor?!

Só me dou conta de que agarrei o braço do doutor quando ele se desvencilha devagar, me fazendo ficar deitada de novo.

— Primeiramente, acalme-se. A senhorita acabou de passar por circunstâncias muito complicadas.

Franzo o cenho, mas até isso dói.

Instintivamente escorrego a mão pela minha barriga. Tem algo repuxando e pinicando perto da minha costela.

— O que aconteceu?

— Bom, você...

— O bebê. — Balbuciou olhando em volta. — O bebê... o meu filhinho. O que aconteceu com ele? Doutor...

— Ísis, por favor, respire devagar e olhe pra mim. Por favor, eu preciso que fique tranquila, caso contrário terei que sedá-la.

— Ele morreu? Foi isso, não foi? O tiro... o tiro matou o meu bebê?

— Não, Ísis, não...

— Eu só queria proteger ele, doutor. Só isso... — Sinto a quentura das lágrimas escorrendo pela lateral do meu rosto. — Foi por isso que eu fugi do Sérgio. Eu não queria que o meu filho nascesse ali naquele inferno... e daí veio o Gael e... e eu não podia contar. Ele... e se ele não entendesse? E se eu falasse do bebê e ele quisesse saber do resto? Não! Não...

— Eu garanto que está tudo bem tanto com a senhorita quanto com o bebê.

— É verdade mesmo?

— Claro. E quanto mais você se acalmar, melhor para os dois.

Respiro bem fundo. Dói. Dói muito, mas dói mais ainda saber que quase matei meu filho.

Mas o que eu podia fazer? O Sérgio poderia cometer uma loucura pior...

Eu só queria pará-lo, nem pensei direito.

— Desculpa, meu bebê... Desculpa... a sua mãe é doida. Me perdoa. Eu só queria parar aquele homem... só isso. Me perdoa...

— Eu tenho certeza de que o seu bebê sabe que a senhorita não fez nada por mal.

— O senhor acha?

— Claro. — O médico sorriu, afagando meus cabelos. — Tente ficar calma, assim passará mais segurança para ele, está bem? Agora tudo de ruim já passou. Os dois estão a salvo.

Podemos até estar a salvos, mas as coisas ruins não passaram.

O Gael já sabe de tudo e quando ele assimilar as minhas mentiras e todo o resto — e quando souber desse bebê — o que garante que ele ainda vai me querer? Talvez eu seja mesmo a culpada de toda a merda que me acontece.

Procura-se Uma NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora