✂Trinta ✂

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Dois dias depois...

Gael

— A imprensa está infernal lá fora.

Termino de vestir a roupa que Benê me trouxe e depois vou até a cama para pegar minha carteira e as chaves. Não fico mais nenhum dia aqui nesse leito.

— Ainda não entendi o que diabo está fazendo no meu encalço, Leon.

— Amigos são para isso, ou não?

Lanço um olhar enviesado para ele, mas o francês babaca nem liga.

Há dois dias estou nesse maldito inferno.

Já tentei ver a Ísis diversas vezes, mas ela ficou medicada direto. E a única vez em que pude ir até ela, eu acabei ficando bem longe, atrás dos vidros da ala da UTI.

Foi terrível.

Mas agora acabou. Já me dei alta. E vou cuidar dela.

— Como você entrou aqui mesmo?

— O que acha? Como uma pessoa normal, é lógico. — Leon se sentou na minha antiga cama e tocou no meu terno que estava estendido ali. — Essa marca é do Morgan? Eu pensei que não fabricassem mais essas porcarias. Esse tecido é péssimo.

— Não seja invejoso.

— Bom, de todo modo, a senhorinha gentil lá fora me deixou entrar. Eu falei que era seu amigo.

— A Benê certamente não se lembrou do imbecil que você sempre foi comigo.

— Águas passadas. Mas e aí, vamos? Hoje resolvi bancar o motorista.

— O Eduardo disse que vinha buscar, mas já deixei claro que não vou sair do prédio tão cedo. Ainda preciso saber da minha mulher.

Apanhei meu relógio e dei uma olhada em volta para ver se não estava esquecendo nada.

— Sabe, no começo eu levei na brincadeira. Achei mesmo que era tudo um capricho seu, mas você gosta da garota, não é? É amor mesmo.

— Claro que é.

— Que bom. — Leon falou tão sério que até me fez olhá-lo. — Estou sendo sincero. Juro. E... a notícia da sua doença já vazou pra imprensa. Eu fiquei sabendo ontem.

— Ótimo...

— Gael, sem implicância agora, eu realmente sinto muito. Mas não vou ficar lamentando e dizendo essas coisas clichês, porque no fundo você é um homem muito sortudo.

— Que bela sorte essa minha!

— É claro que sim. E daí que você pode morrer hoje ou daqui alguns meses? Não estamos todos nesse mesmo barco? — Retrucou. — E na verdade, você conseguiu muita coisa, Gael. Mesmo que me doa admitir, você é um dos melhores no nosso ramo, se não for o melhor. E ainda encontrou uma boa mulher pra dividir seus dias. Se isso não for sorte, então não sei o que é.

Olho bem na cara dele, mas não há nenhum rastro de falsidade.

De repente eu me dou conta de que durante todos esses anos, Leon meio que se tornou um amigo.
Não um amigo que eu possa confiar completamente, mas ele sempre esteve lá, bem ou mal, falando merda ou tentando puxar o meu tapete, ele foi uma constante na minha vida.

Eu nunca vou gostar dele, mas acho que já não consigo mais odiá-lo.

— Obrigado. — Digo, pegando meu terno. — E isso daqui é um Armani, seu francês de bosta. Que tipo de estilista é você?

Procura-se Uma NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora