✂ Quinze ✂

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Gael

Heitor ainda estava na sala do ateliê juntando os papéis da contabilidade quando voltei. Ele parou entre os movimentos e levantou a cabeça, arqueando uma sobrancelha grisalha pra mim.

— Eu pensei que você ia ficar com a Ísis.

Sentei no sofá e apoiei os cotovelos nos joelhos, curvando-me para frente.

— A Ísis não está sozinha. Ela não precisa de mim agora. Ou seja, tudo sob controle.

— É mesmo? — Acho que detectei ironia em sua voz, mas não dei bola.

O Heitor gostava de injetar suposições em suas falas. E eu não estava com humor pra isso.

A última coisa que eu queria era ter que trabalhar durante a festa e ele me fez fazer isso.
Justamente por causa disso, meu humor ficou péssimo. Impressionante.

— Gael meu filho, isso em sua cara é uma careta?

— Ah tenha santa paciência!

— Calma, eu só fiquei curioso.

— Resguarde-se no direito de não expor suas curiosidades. Obrigado. — Resmunguei.

Olhei de soslaio para alguns funcionários que entraram para buscar mais bandejas, depois voltei a encarar Heitor que terminava de guardar os papéis e as pastas em sua maleta de couro marrom.

— Sabe, eu não sabia que a Ísis tinha amigos no nosso círculo.

Arqueei as duas sobrancelhas.

— O quê?

— Bom, é que você disse que ela estava acompanhada.

— Ah. — Pigarreei, ajeitando-me naquele sofá desconfortável. — Ela está com o filho do Gutiérrez.

— O jovem Gustavo?! Poxa, eu não sabia que ele já havia retornado da Itália.

— Pois pode ver que ele voltou.

— Que interessante. — Heitor se sentou no outro sofá, mas ainda me observava de um jeito que eu não gostava nem um pouco. — Ele é mesmo um rapaz muito gentil, não acha? Foi ele quem ficou responsável pelas alianças?

— É.

— Gustavo é talentoso, tenho certeza que a Ísis vai adorar o anel que ele fizer.

— Ah, ela já adorou, pode apostar.

— Está irritado com isso?

— É o quê?

— Notei uma pontinha de estresse na sua voz. Mas, sabe como é, eu posso estar ficando velho e surdo.

— Não, você está ficando velho e maluco. — Pigarreei novamente e decidi me levantar. Aquele sofá era horrível. — Além do mais, eu não sabia que você gostava tanto assim daquele sarden... do Gustavo.

— Bom, podemos apenas dizer que eu gosto de pessoas esforçadas. E ao contrário do pai dele, o Gustavo é um rapaz que não tenta se favorecer subindo nas costas dos outros. Ele estudou e se esforçou sempre. Por isso, eu o admiro.

— Nossa, que fã absoluto que você é dele.

— Não se preocupe, ainda sou seu fã também, Gael.

Eu ri, mas eu não estava exatamente achando graça.

— Sabe o que eu estou pensando?

— Eu adoraria saber.

— Eu convidei ao Gutiérrez. Não sei o que o Gustavo está fazendo aqui.

— Bem, ele é filho dele, então é natural que venha.

Procura-se Uma NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora