29. Não se preocupe, meu pai é o Lobo Mau

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A noite estava serena na Floresta da Meia-Noite, exceto pelo vento que balançava os galhos das árvores, fazendo-os ranger quando se tocavam. Ocasionalmente, uma ou duas corujas piavam do alto das árvores.
Tom, sentado ao lado do tronco largo de uma árvore, observava as aves que alçaram voo quando um lobo uivou a poucos metros de distância. O garoto ouviu o som, mas permaneceu imóvel no mesmo lugar.

Até que um som de galho quebrando atrás de alguns arbustos à sua frente chamou sua atenção. Tom olhou atentamente a tempo de ver um lobo de pelagem cinza surgindo entre as folhas. No entanto, esse não era um lobo comum; ele era muito maior, com olhos prateados, garras e presas afiadas, e patas grandes adornadas com pelos macios que facilitavam sua aproximação silenciosa.
O lobo se aproximou de Tom, que não se moveu. O animal ficou cara a cara com ele, seus olhos ferozes normalmente suficientes para fazer suas presas fugirem aterrorizadas, mas Tom permaneceu firme, encarando o ser à sua frente.
Tom soltou uma gargalhada, olhando para o lobo, que inclinou a cabeça de lado, aparentemente confuso.

"Por que está rindo, Tom?", perguntou o lobo, infiltrando-se na mente do garoto, esperando por uma resposta que só veio alguns momentos depois, quando Tom finalmente parou de rir.

— Sério, pai? É com esse olhar feroz que você assusta suas presas?

"Funciona com coelhos e cervos na floresta", a voz grave do lobo ecoou na mente de Tom como um eco rouco.

— Você deve melhorar esse olhar de lobo, tem que passar mais medo e ser assustador — comentou o garoto. — Digno de um Alfa.

O lobo, ao ouvir isso, deu alguns passos para trás, inspirou o ar e, em seguida, assumiu uma postura predatória, exibindo os dentes e soltando um rosnado selvagem em direção a Tom. Isso o fez recolher os joelhos para perto do corpo, abraçando as pernas, enquanto o animal voltava à sua postura inicial.

"Assim está melhor?", perguntou o lobo. Tom relaxou as pernas, recuperando o fôlego do susto. "Desculpe se te assustei."

— Não me assustou... — respondeu Tom — só um pouquinho.

"Mas me responda, por que você está aqui na floresta à noite, sozinho? Pensei que você estivesse em casa dormindo", perguntou o lobo, estreitando os olhos com advertência para o garoto, que abaixou a cabeça. "Você sabe muito bem que a floresta é...

— Perigosa? — Ele completou levantando a cabeça, olhando nos olhos prateados do lobo. — As coisas mais perigosas que andam nessa floresta à noite são da nossa família.

"Mas você devia sentir medo", parecia até uma ironia. "A noite esconde muita coisa.

— Não se preocupe, meu pai é o Lobo Mau — brincou Tom, em seguida, se inclinou e, com o impulso, ficou de pé. — E já estou indo para casa. — Enquanto alongava os músculos, ele viu o tamanho real do lobo à sua frente; o animal era quase da altura de seu ombro.

Tom olhou por alguns segundos para o Lobo, pensando em como desejaria muito fazer o que todos os membros de sua família faziam: transformar-se e vagar pela floresta com eles e o restante da alcateia.
No entanto, essa realidade estava um tanto distante de acontecer. O garoto virou o rosto em direção aos arbustos de onde o Lobo emergira das sombras da noite. Uma mistura de frustração e tristeza cruzou sua expressão.

"Sinto muito, filho", disse o Lobo, percebendo a expressão no rosto do garoto. "Espero que, um dia, seu lado lobo desperte, e você possa correr à noite com a alcateia."

— Não se preocupe, tenho certeza de que esse dia chegará. — Tom sorriu, tentando afastar a tristeza que o consumia todas as noites em que sua família vinha para a floresta para libertar seu lado lobisomem. — Tenha uma boa corrida.

𝗝𝗼𝘃𝗲𝗻𝘀 𝗦𝗼𝗯𝗿𝗲𝗻𝗮𝘁𝘂𝗿𝗮𝗶𝘀: ᴜᴍ ɪɴɪᴍɪɢᴏ ɴᴀs sᴏᴍʙʀᴀs  Onde histórias criam vida. Descubra agora