1 dia atrás
Os últimos raios de sol se escondiam por trás das altas árvores de carvalho no fim do cemitério. O céu estava em tons alaranjados e vermelhos, e uma brisa gélida soprava nos cabelos ondulados de Leya. Ela caminhava pelo local sem se importar com o frio que acompanharia o anoitecer, vestindo apenas uma camisa de mangas curtas vermelha e uma saia curta preta. Em uma das mãos, a mulher carregava uma adaga afiada.
Leya andou por mais alguns minutos até parar em frente a um túmulo com uma lápide de mármore. Ela franziu o cenho e mordeu o lábio, seguido por um sorriso travesso se formando em sua face angelical.
— Faz 165 anos que não faço isso — disse ela, olhando para o túmulo coberto por flores secas. — Espero não estar enferrujada.
Leya ergueu a mão livre à frente do corpo e, com a outra segurando a adaga, fez um corte na palma da mão, impregnando a lâmina com seu sangue. Ela se abaixou delicadamente, afastou as flores secas com a faca e tocou a grama aparada sobre o túmulo. Com a mão escorrendo sangue até a ponta dos dedos, desenhou graciosamente um círculo com uma estrela de cinco pontas no centro.
A mulher ergueu o corpo e se endireitou, olhando para os dedos encharcados em tons escarlates antes de lambê-los. Observou o desenho e atirou a adaga ao chão, que caiu tilintando contra uma lápide próxima. Leya apontou as mãos em direção à estrela e sussurrou:
— Eu, a semideusa da Transição Espiritual, o invoco. Venha até mim, Nolan Shiny.
Seus olhos azuis fixaram-se no círculo enquanto ele brilhava. Sobre ele, surgiu um homem alto e belo, com barba rala e cabelos castanhos como avelã. Seus olhos eram de um tom castanho claro, e ele usava um sobretudo escuro e calças marrons. Em seu pescoço, havia um cordão de corrente vermelha com um pingente que trazia o mesmo símbolo desenhado na grama abaixo de seus pés.
O homem olhou para as próprias mãos com os olhos arregalados, admirado, como se estivesse vendo a coisa mais linda de sua vida. Em seguida, fechou os punhos gentilmente, olhou ao redor para o cemitério já escuro, onde as primeiras estrelas surgiam no céu. Só então ele percebeu a presença da mulher à sua frente. Ele estufou o peito e contraiu a mandíbula.
— Quem é você? — perguntou ele com a voz áspera.
A mulher jogou o cabelo para trás e deu um passo à frente, erguendo o queixo com uma altivez desdenhosa e apontou para ele.
— Ei, você não devia falar assim com quem te trouxe dos mortos das profundezas do submundo sobrenatural. Você sabe quem eu sou?
O homem percebeu que havia sido muito grosseiro, algo de que se arrependeu rapidamente, pois aquela mulher à sua frente o havia trazido de volta do submundo. Ele a observou atentamente, notando sua beleza angelical. É isso, pensou ele, ela é um anjo. Quando ainda vivia no mundo dos vivos, Nolan explorava o mundo sobrenatural, pesquisando e estudando criaturas e seres místicos. Em um de seus tomos, escreveu sobre os anjos e suas aparições no mundo mortal, além de algumas páginas sobre os nefilins, descendentes dos caídos. Definitivamente, ela poderia ser um anjo ou talvez uma nefilim.
Mas por que me trouxe de volta?, pensou ele, tentando encontrar a resposta nos olhos azuis dela, que brilhavam com uma intensidade sobrenatural.
— Desculpe se ofendi você — disse ele em um tom baixo, que saiu como um lamento. — Não sabia que estava na presença de um ser divino, um anjo.
Leya estreitou os olhos, sem entender de onde o homem tirara essa conclusão absurda. "Eu, um anjo?", pensou ela, segurando-se para não cair na gargalhada. "Espera aí, posso usar isso a meu favor."
Ela sorriu graciosamente, piscou os olhos e disse:
— Não se preocupe! Hoje estou de bom humor. — Leya caminhou até onde a adaga estava e se virou para o homem, olhando-o nos olhos. Enquanto empurrava discretamente a faca para trás de uma lápide próxima com a bota, ela fez isso de maneira sutil para que ele não percebesse e se ele visse aquele objeto manchado de sangue, poderia suspeitar que ela não era quem ele achava que fosse e questionaria suas verdadeiras intenções. Mantendo a adaga fora de vista, ela evitava levantar suspeitas e fortalecia seu disfarce, garantindo que Nolan continuasse acreditando em sua suposta divindade.
— Por que me trouxe de volta? — perguntou ele, fazendo Leya erguer uma sobrancelha.
Ela se aproximou com uma expressão séria, os olhos azuis fixos em Nolan. Parou diante dele e respondeu:
— Tenho um dever para você!
Ele franziu o cenho.
— Mas, por que eu? — indagou apreensivo. — Eu estava no submundo sobrenatural. Por que tanto trabalho para me tirar de lá, se aí fora tem várias pessoas vivas ao seu dispor?
Ele tinha razão, Leya certamente poderia encontrar alguém melhor para o serviço, mas esse Nolan Shiny era o mais adequado para esse trabalho, pois faria de tudo por sua família, especialmente para salvar seu filho.
— Olhe, eu sei qual será o dever que seu filho terá que cumprir — disse ela com seriedade. — E lhe digo mais, não é nada bom. Você não tem ideia do que os anciãos planejaram para ele.
O homem arregalou os olhos castanhos, sua mandíbula se contraiu, e os punhos se fecharam com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos.
— Então me diga! — pediu ele. — Por favor!
A mulher suspirou, seus lábios se curvaram em um sorriso travesso, e um brilho de satisfação surgiu em seus olhos. Essa era a sua chance, ela percebeu a tristeza e agonia que transparecia no rosto de Nolan.
— Faça algo por mim, que direi tudo o que você precisa saber para salvar seu filho e permito que você o veja — sugeriu ela. — Mas se recusar, estalarei meus dedos e esse colar em seu pescoço — apontou Leya para o pingente de pentagrama —, sumirá, e você voltará para o submundo, seu filho sofrerá nas mãos dos anciãos quando completar seus 18 anos. Então?
Nolan Shiny abaixou o olhar, pensando por um breve momento na proposta. Para ele, significava uma segunda chance. Seus lábios se curvaram em um sorriso aconchegante, enquanto lembranças lhe atingiam como batidas suaves. Ele recordava o riso de seu filho quando tinha 7 anos, imaginando como estaria agora, com 16 anos. Outra lembrança clara em sua mente era a de sua esposa, o amor de sua vida, a mulher mais linda que ele já havia visto.
Leya pigarreou, chamando a atenção do homem.
— Não tenho todo o tempo do mundo — disse ela. — Então, o que vai ser?
Ele franziu o cenho e cerrou os punhos, dando um passo à frente.
— Eu aceito sua proposta! — disse ele com a voz decidida.
A mulher, com os olhos frios como gelo e semicerrados, olhou para ele e sorriu de maneira travessa, com a mesma expressão de uma criança que acaba de aprontar.
— O Josh ficará feliz em rever o pai — disse Leya por fim
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𝗝𝗼𝘃𝗲𝗻𝘀 𝗦𝗼𝗯𝗿𝗲𝗻𝗮𝘁𝘂𝗿𝗮𝗶𝘀: ᴜᴍ ɪɴɪᴍɪɢᴏ ɴᴀs sᴏᴍʙʀᴀs
De TodoJosh um jovem bruxo ao retornar para Fuerza uma cidade pacata e misteriosa, para comprir um dever desconhecido para a sua irmandade, mas sua vida toma outro rumo, quando ocorre uma morte misteriosa na escola onde estuda, um bilhete encharcado de san...