A noite estava escura, e as ruas de Astoria, bairro na parte oeste do condado de Queens, Nova Iorque, eram iluminadas apenas pelos postes de luz municipais. Lyra parou na calçada, olhando para todos os lados antes de atravessar para o outro lado. Em uma das mãos, ela carregava uma mala de couro escuro e na outra um jornal com as notícias do dia, e a manchete em letras grandes dizia: "Soviéticos lançaram nave espacial rumo à lua, ela será o primeiro objeto já feito pelo homem a tocar a superfície lunar."
A mulher de longos cabelos escuros bufou e revirou os olhos ao terminar de ler. Em seguida, jogou o jornal na lata de lixo e continuou andando na calçada, passando em frente a várias lojas de roupas masculinas e joalherias. Ela parou em frente a uma delas, onde a iluminação de um poste permitia que ela se visse no reflexo do vidro, dando uma leve ajeitada nas madeixas.
Prosseguindo seu caminho, ela chegou pouco tempo depois em frente a uma bela residência de um rico burguês chamado Theo, também conhecido como "homem de sorte." Lyra passou pelos portões e se dirigiu à residência com fachada em tons claros e pilares antigos, lembrando muito a arquitetura grega. Ao subir os degraus, ela parou, deu algumas batidas na porta larga e pesada de madeira, sem sucesso. Bateu mais três vezes seguidas, finalmente, alguém a abriu.
— Olá, boa noite. Em que posso ajudar? — cumprimentou um homem alto de terno fino em tons de marrom, olhos azuis como lápis-lazúli, e no rosto, um sorriso caloroso. Ele aparentava ter pelo menos vinte e três anos, com um queixo quadrado e uma mandíbula destacada.
Lyra olhou para ele, cerrando os olhos, e pousou a mala que carregava no chão em frente à porta. Então, disse:
— Ora, ora, quando me disseram que você havia fugido para a América, não imaginei que estivesse vivendo nesse luxo todo, meu querido Theo, ou como todos te chamavam na Grécia, Pistós. — Ela sorriu, com um tom travesso. O homem de cabelos castanhos pegou a mala do chão e puxou Lyra para dentro da casa. Antes de fechar a porta, ele deu uma olhada para todos os lados da rua.
Os olhos azuis profundos do homem mudaram para um branco brilhante e intenso, como se estivesse vendo através de Lyra, ou talvez sua alma. Ele piscou algumas vezes, e seus olhos voltaram à cor natural.
— Você não deveria estar aqui, Lyra — disse ele. — Como você fez para vir parar em 1859? Você só deveria ter nascido em 1989. — Theo a olhou de cima para baixo, com as sobrancelhas erguidas. — Como isso é possível?
— Então é verdade, oráculos não conseguem ver o futuro de quem mora no submundo. — Ela parecia surpresa. Lyra pegou na alça de sua mala e saiu andando, Theo a seguiu em direção à grande sala chique, com móveis claros de ótima qualidade e detalhes em ouro. — Eu precisava disso. — A mulher gemeu ao se acomodar em uma das poltronas aconchegantes do cômodo.
— Mas como você está aqui? — questionou Theo, desabotoando dois botões de seu paletó. Ele estava se sentindo sem ar, com a mulher que deveria estar no futuro, mas por alguma razão, estava ali, em sua frente.
— Resumindo, nasci em 1989, meu irmão me prendeu nos calabouços do Castelo Vermelho. Armei um plano para tomar o trono dele e dei a coroa para um demônio. Então, fugi pelo portal da Montanha. Só que, como estava fraca, vim parar aqui no século XIX.
Os sapatos de Theo ecoavam pela sala de mármore enquanto ele andava de um lado para o outro, apreensivo com a situação. Além da sensação agonizante que lhe dava arrepios na espinha, havia a impressão de que mais alguém, ou algo, estava presente ali, invisível na sala. Era como se Lyra tivesse trazido consigo o mal mais cruel das eras antigas.
— Pistós, desse jeito você vai chegar no submundo — disse Lyra com um tom de voz tranquilo.
— Meu nome é Theo — corrigiu ele, com firmeza. — Lyra, responda a uma pergunta, e não minta.
— Diga, estou toda ouvidos. — Lyra cruzou as pernas e, com uma mão, abriu o zíper de sua jaqueta de couro, fazendo Theo olhar com mais atenção para as roupas que ela vestia: calça jeans escura e botas de cano alto. — Gostou? Essa é a moda de 2007. — Lyra riu.
Theo balançou a cabeça, passou uma das mãos pelo queixo e disse:
— Por que você veio até mim? — Ergueu uma das sobrancelhas e cerrou os olhos.
— Não finja ingenuidade. Viemos até aqui porque você era o único oráculo que eu conhecia e queremos saber algumas coisas.
— Nós? — retrucou Theo, olhando para a porta. Será que havia mais alguém lá fora que ele não viu? — Responda...
Então, de repente, uma força sobrenatural o atingiu, e ele foi arremessado na parede. Era como se mãos estivessem agarrando seu pescoço, seu corpo estava preso na parede, os pés mal tocavam o chão.
Das sombras pouco iluminadas da sala, surgiu uma fumaça escura e macabra que logo tomou forma humanoide, com olhos brilhantes e amarelos, ardendo como chamas solares.
Theo arregalou os olhos diante daquela figura macabra. Lyra estava aliada a essa criatura, uma tolice confiar nesse monstro ancestral.
— Theo, conheça meu novo amigo, Kaimmos — disse ela, com um olhar travesso. — Quer dizer, metade dele. Só a sombra, para ser mais exato.
— Você se aliou à sombra desse demônio? — esbravejou ele, ainda preso na parede, sentindo o poder do ser sombrio.
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𝗝𝗼𝘃𝗲𝗻𝘀 𝗦𝗼𝗯𝗿𝗲𝗻𝗮𝘁𝘂𝗿𝗮𝗶𝘀: ᴜᴍ ɪɴɪᴍɪɢᴏ ɴᴀs sᴏᴍʙʀᴀs
RastgeleJosh um jovem bruxo ao retornar para Fuerza uma cidade pacata e misteriosa, para comprir um dever desconhecido para a sua irmandade, mas sua vida toma outro rumo, quando ocorre uma morte misteriosa na escola onde estuda, um bilhete encharcado de san...