𝗝𝗼𝘃𝗲𝗻𝘀 𝗦𝗼𝗯𝗿𝗲𝗻𝗮𝘁𝘂𝗿𝗮𝗶𝘀: ᴜᴍ ɪɴɪᴍɪɢᴏ ɴᴀs sᴏᴍʙʀᴀs

37. Seres sombrios

Josh colocou um dos pés no peitoril e se esgueirou cuidadosamente pelo enorme buraco na janela de vidro, tentando não se cortar nos cacos ao redor. "O que são alguns arranhões comparado à morte?", pensou ele. Do lado de fora, Samila, de pé em frente à janela, estendeu a mão ensanguentada para Josh, ajudando-o a passar pelo buraco. Assim que ele colocou os pés nas tábuas da varanda, virou-se rapidamente para ajudar os outros dois que ainda estavam na casa.

— Pode ir primeiro — disse Biel a Ellio. O garoto não pensou duas vezes e começou a atravessar.

Ele estendeu as mãos para Josh e Samila, que o agarraram e o puxaram para fora. Ellio sentiu seu corpo estremecer e seu pé escorregar do peitoril interno, e assim que seu corpo passou completamente, ele caiu sentado no piso da varanda como um saco de batatas.

— Desculpe — disse Josh com um riso contido, percebendo que ele e Samila talvez o tivessem puxado com força demais. Tudo estava por um fio e não podiam perder tempo.

Ellio apoiou os cotovelos nos joelhos e deu de ombros.

— Relaxa — respondeu ele, olhando ao redor da varanda com um suspiro aliviado. — Pelo menos estamos vivos.

Josh voltou sua atenção para a janela, onde Biel já estava quase passando por completo. Então, o que todos temiam aconteceu: o som da caixa de Arconte ecoou por todo o interior da casa. Os olhos de Biel se arregalaram enquanto ele olhava por cima do ombro em direção ao corredor que levava à cozinha. Seu coração batia descompassado, e seu corpo suava e tremia de medo, temendo não conseguir sair a tempo.
"Eu não vou conseguir", disse ele para si mesmo, sentindo um arrepio soprar em seu rosto e uma pontada na espinha, como se a morte estivesse lhe dando sinais de sua chegada. Nesse momento, lembrou-se do que Josh havia dito: saber da existência do mundo sobrenatural é o mesmo que saber que, a qualquer momento, a morte irá bater à sua porta.

— Vamos, rápido! — gritou Josh, tirando Biel de seus pensamentos. — Vamos!

Os três agarraram o garoto e o puxaram para fora rapidamente. No processo, Biel cortou seu braço direito em um dos pedaços de vidro que pareciam facas afiadas transparentes. Assim que Biel estava na varanda, sentiram a casa estremecer, como se um terremoto estivesse atingindo a região. As tábuas nas paredes começaram a rachar, e um novo som estridente ecoou.

Todos sabiam o que viria em seguida. Eles se entreolharam com olhares cansados e dolorosos.

— Corram!! — gritou Samila, assim que o último som estridente ecoou.

Eles correram para fora da varanda o mais rápido que puderam, mas tudo parecia estar em câmera lenta. A explosão dentro da casa a destruía de dentro para fora, e toda a estrutura começou a se desmanchar. As janelas explodiram com a força das chamas que se forçavam para fora de todas as maneiras: pela chaminé da lareira, pelas frestas das portas, e principalmente pelo buraco na janela de vidro.

O impacto da explosão atingiu os quatro jovens enquanto desciam a escada da varanda, arremessando-os para o jardim junto com os destroços em chamas da casa. Os escombros se espalharam por todos os lugares, e o teto subiu com as chamas. Ao fim, a residência já não era mais uma típica casa americana, mas sim tábuas e cinzas em meio a chamas que não pareciam se apagar.

◇◇◇

O sol brilhava no céu azul como uma bola de fogo quente e brilhante. Os grandes pinheiros e outras árvores altas, com seus galhos e folhas, faziam sombra no chão da floresta. Jana Wood olhou para cima e viu um corvo estranhamente grande observando-a de um galho, como se a estivesse seguindo. Já o havia visto antes, empoleirado na caixa de correio de sua casa, quando se despediu de seu pai e sua mãe. Eles insistiram em acompanhá-la até o portal que a teletransportaria para a Academia Flores Negras — uma das escolas para seres sobrenaturais, mas esta era diferente; era frequentada exclusivamente por bruxas e bruxos.