Savage

⎯9.

Kathryn Fox.

Existem momentos da vida em que eu me sinto em uma série. Talvez em um filme.
Agora, eu sentia o vento bater contra meu rosto e bagunçar meus cabelos enquanto eu estava na garupa de JJ abraçada a ele. Eu me sentia anestesiada, me senti assim desde a noite passada. Me sentia uma garota boba, mas eu e JJ estávamos mais inseparáveis do que o normal desde que tivemos a nossa primeira vez. Dormimos abraçados enquanto eu sentia seus dedos acariciando minhas costas, ele fez café da manhã para mim e não ficamos mais do que dez minutos separados.
Isso pareceu deixar minha mente ocupada. Não pensei sobre minha briga com Kiara, não pensei sobre minha conversa com Rafe e nem no fato dele quase ter me matado.

—Tem certeza que tá de boa em voltar aqui? —a voz de JJ me afasta de meu pensamento.

Entramos novamente naquele frigorífico abandonado, as janelas permaneciam abertas exatamente como havíamos deixado aquele dia.

—Claro, tá tudo bem —digo. —Acho que seria muito azar ser trancada naquele lugar duas vezes.

—Nem brinca. E ainda mais, dessa vez eu vou estar aqui —ele me abraça de lado e me olha com um sorriso. —Mas eu não combino muito com o lance de cavalheiro de armadura. Como acha que eu ficaria de armadura?

Olho para ele e acabo rindo.

—Eu acho que você deve continuar com o estilo surfista —brinco. —Combina com você.

—Você acha? —ele responde no mesmo tom, sorrindo e com a boca extremamente próxima da minha.

—Acho... —sussurro com um leve sorriso.

Paramos de andar, e mesmo que estivéssemos desajeitadamente abraçados de lado, selamos os nossos lábios em um beijo lento e calmo, mas não prolongado. Sorri com seu selinho no final do beijo.

—Eu adoro isso —falo baixinho.

—Não mais do que eu, Kit Kat —ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

—Sabe... Acho que um frigorífico abandonado é um péssimo lugar para vivermos um romance —digo em um tom brincalhão. —Mórbido.

Acabamos rindo quando nos olhamos e continuamos andando.

—É uma cena que facilmente aconteceria em Todo mundo em Pânico —ele diz.

—Meu Deus, sim!

Enquanto caminhávamos até a câmara fria continuamos conversando e brincando um com o outro, era bom, era algo leve. Liguei a lanterna que eu segurava ao chegarmos lá, JJ empurrou a porta de ferro e aquele som agoniante e odioso ecoou.
Adentrei aquele cômodo, apenas dois passos. Olhei ao redor e pude me lembrar aquela exata sensação, o frio cortante e insuportável, o jeito que aquilo me deixou fraca e com dor de cabeça, a certeza que eu tive de que iria morrer. A última parte foi sem dúvidas a pior.
E saber quem era o responsável trazia uma nova visão.
Porra, Rafe Cameron...

—Kat?

Tive minha atenção tomada outra vez. Mas isso foi bom, me fez sair daquele transe.

—Tá tudo bem —esfrego um pouco os meus olhos e respiro fundo. —Eu tenho certeza que estava por aqui.

Segurei a lanterna com mais firmeza e passei a luz pelo piso. Eu não estava alucinando, eu me lembro de ter visto algo diferente, algo brilhando.
Eu e JJ ficamos longos minutos examinando um canto limitado daquele lugar, não era uma área grande, não deveria ser tão difícil.

—Tudo bem. As pessoas se enganam, você tava quase morrendo e pensou ter visto isso —ele falava da forma enérgica dele, parecia estar tentando me convencer e se convencer de que estava tudo certo.