Savage

⎯11.

Narrador.

Kiara poderia ter pensado que esqueceria aquilo tudo mais rápido do que o esperado, mas agora ela tinha certeza que havia se enganado.
As vezes você sabe que algo jamais aconteceria e mesmo assim finge para si mesmo que aquilo seria possível. Foi o que aconteceu com ela. Depois de beijar Karen na praia, ela teve a inocente ilusão de esperar que ela mandasse alguma mensagem. Obviamente, Kiara sabia que aquilo não aconteceria, mas por algum motivo sua mente achou interessante fantasiar aquele cenário. Ela podia dizer e repetir a si mesma que estava disposta a esquecer tudo aquilo, não era nada, não tinha significado, era só um beijo... Dois. Dois beijos. Porém isso não aumentava o significado, não era nada, não significava nada. Kiara se sentia idiota por se deixar levar daquele jeito, não era nada parecido com o que ela sentia com os garotos nos quais já havia se relacionado, e ela não entendia porque estava assim quando se tratava de Karen.
Kiara não se importava em se apaixonar por uma garota, desde que isso não significasse se apaixonar por Karen Monroe.

...

Mas ela não estava apaixonada. Kiara sabia que nem sequer conhecia Karen o suficiente para estar apaixonada por ela, e ela não fingia o contrário. E Kiara sabia genuinamente que dizer que sentia algo por aquela garota era uma mentira, mas existia algo desafiador e instigante nisso tudo.
E quando ela refletia consigo mesma, ela percebia que podia dizer que entendia em partes o que Kathryn havia sentido. Mas havia uma diferença, Kathryn realmente havia vivido algo com Rafe, conhecia ele e mesmo assim se apaixonou por ele. E Kiara sabia que Karen e Rafe não eram muito diferentes, ambos mesquinhos, cruéis e narcisistas, eram Kooks. E agora ela poderia dizer que sabia em parte o que Kathryn havia sentido, podia até mesmo imaginar o que Kathryn sentiu quando descobriu que ela havia sido a responsável por seu término com Rafe. Agora Kiara notava que Kathryn tinha razão, não era da conta dela. Ela não deveria ter feito aquilo, mesmo tendo boas intenções.

—Kathryn? —ela chamou ao entrar no castelo.

—Oii... —o certo grau de animação sumiu na voz de Kathryn quando ela viu quem era. Ela revirou brevemente os olhos e virou o rosto para o lado. —O que você quer, Kiara?

—Quero conversar —mentalmente Kiara
prometeu a si mesma que iria resolver aquilo.

"Vou resolver aquela briga, não vou criar outra.
Dessa vez é uma promessa.
Prometo ao universo, a qualquer ser celestial que existe e também a mim mesma."
Foi o que ela disse a si mesma.

—Não temos nada a conversar. Vai embora, Kiara —ela vira as costas, caminhando em direção a sala. —Por favor.

—Eu sinto muito, tá bom? —Kiara ergueu um pouco a voz para que Kathryn pudesse ouvir e a seguiu. —Kathryn, eu sinto muito, de verdade. Eu me arrependo por tudo o que eu fiz pra você.

Ela se sentou no sofá, momento nenhum olhou para Kiara, apenas manteve seu olhar fixo em um canto qualquer enquanto mordiscava seus próprios dedos.

—Eu te amo, Kathryn —diz Kiara. —Eu preciso que você me perdoe. Você não faz ideia do quanto eu preciso disso...

O silêncio reinou por alguns segundos, poderia estar tudo quieto, mas conseguia ser ensurdecedor. Deixava Kiara aflita e receosa.

—Você faz ideia de como foi pra mim? —a voz de Kathryn parecia lutar para permanecer firme. —Kiara, minha vida toda foi um inferno. O dia que eu fui expulsa pelos meus pais foi o pior dia da minha vida, mas sabe o que me manteve segura? Foi o fato de que eu sabia que poderia contar com você. A única família que eu realmente tinha.

Kathryn olhava com os olhos marejados quando se levantou novamente.

—Você faz ideia de como foi ouvir você me mandar embora de uma casa que nem sequer é sua? —ela se aproximava. —Você foi capaz de me fazer reviver o pior dia da minha vida de um modo muito mais cruel.