Savage

⎯13.

Kathryn Fox.

Nas sombras do passado, o silêncio sempre ecoava mais alto do que palavras gritadas, deixando o trauma e a dor florescerem no terreno poluído.
Eu sabia bem o que era viver sobre o manto cruel de alguém que deveria ser seu ponto seguro. Sabia qual era a diferença entre viver com a família e sobreviver a sua família.
Eu pensava ter esquecido disso, mas as lembranças vieram vívidas na minha mente com o choro de JJ e lembrava de tudo com rancor enquanto ele dormia com a cabeça apoiada em meu colo. Saí do sofá, acomodando JJ cuidadosamente às almofadas para que ele não acordasse. Sabia que aquele não era um comportamento ideal, mas sabia que não era um erro tomar aquela atitude.

Peguei a chave da minha moto e o meu capacete, mas antes conferi algo dentro do banco da moto de JJ. E a arma estava lá dentro, assim como eu esperava, conferi se ela estava carregada e a coloquei sobre o cós do meu short. Aquilo era loucura de um certo modo, mas sabia que não precisaria usá-la, pelo menos esperava que não. Não precisava ter outro crime na minha ficha criminal.

Ao chegar na casa de JJ senti um certo remorso por tê-lo feito dormir lá na noite passada, mas naquele momento remorso não me levaria a lugar nenhum. Encontrei Luke na área de fora da casa, aquele era o limite entre a casa e o quintal. Ao adentrar vi que ele estava mexendo com algumas peças, ergueu o olhar para mim por um mísero segundo antes de voltar sua atenção para as peças.

—O JJ não está aqui —ele diz com rispidez.

—Ah, eu sei disso —respondo, me aproximando em passos lentos. —Eu vim falar com você.

Luke finalmente foca em mim, minhas palavras chamando sua atenção e fazendo ele largar aquelas peças sobre a mesa. Ele me olhou com certa desconfiança e limpou as mãos sujas de graxa sobre o tecido de sua calça jeans.

—Você quer conversar? —sua voz continha uma quantidade absurda de sarcasmo. —Sabe, a última conversa que eu tive com um Fox foi bem interessante. Herdou o temperamento do papai, bonequinha?

As palavras, as feições, até mesmo o tom de voz. Tudo de Luke era cruel e irritante, quase me causava enjoo.

—Não vim falar sobre mim —o interrompi com pouco humor e até uma certa frieza, não daria para Luke a satisfação dele ganhar aquele joguinho. —Vim falar sobre o JJ.

Ele riu.

—Então, você veio ao lugar errado.

Ele pegou uma das peças metálicas em sua mão e ficou brincando com ela entre os dedos, tirando sua atenção de mim. Tomei a peça de sua mão e a joguei em um canto qualquer.

—Eu não sou idiota, não ouse tentar a sorte comigo —retruco.

Luke me encara com impaciência, conhecia aquele olhar desde que me lembro por gente. Ele agarrou a minha mandíbula e no mesmo instante saquei a arma, colocando a ponta do cano sobre a parte de baixo seu queixo. Pude notar quando ele ficou imóvel, o som da minha arma engatilhada ecoando. Luke me olhou nos olhos, ainda possuía raiva, mas agora havia receio junto. Meu olhar sobre ele poderia ser firme, mas minhas mãos não eram, por isso eu precisava lutar para que não tremessem. Honestamente, não sei se eu conseguiria puxar aquele gatilho caso fosse necessário.

—Eu tenho algumas coisas para te dizer —seguro a gola da camisa de Luke apenas para empurrá-lo para trás, o afastando de mim. —E você vai me ouvir.

Ele cambaleou quando eu o empurrei, podia sentir seu olhar queimando de raiva sobre mim e tenho certeza que a arma apontada em sua direção era o único motivo pelo qual Luke ainda não havia partido para cima de mim.