31 - Memória e Questionamento

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  Yibo estava lutando. Xiao Zhan podia ver que ele estava em conflito. Talvez consigo mesmo ou talvez com seu passado, por um motivo que ainda não conseguia entender, mas que era grande o suficiente para afetar o homem forte e determinado que ele conhecia de uma forma que nunca viu antes.

  Ele se lembra vividamente do semblante abatido de Yibo quando estava no hospital, quando tudo o que podia fazer era abrir os olhos fracamente na tentativa de confortá-lo. No entanto, a forma como este estava agora era diferente. Não era o desespero cru emanando de cada um de seus poros; era como se fosse algo tão profundamente enraizado que ele simplesmente não conseguia pôr para fora. Xiao Zhan percebia o quão anormalmente quieto Yibo estava porque, a essa altura, eles já moravam há mais de dois meses juntos. E se ele não conhecesse o homem com quem dormia todas as noites, quem mais o conheceria? Contudo, para qualquer outra pessoa, Yibo facilmente passaria a ideia de que estava tudo bem.

  Faziam três noites desde aquele súbito momento de coragem onde entrelaçou seus dedos após sentir o carinho leve em sua testa. Verdade seja dita, Xiao Zhan sequer estava dormindo quando Yibo se acomodou ao lado dele; permaneceu imóvel em seu lugar porque não sabia o que fazer ou sobre o que conversar para tentar amenizar a distância invisível que parecia haver ali. Mas então ele sentiu aquele pequeno toque após o beijo breve anterior, e isso foi o suficiente para fazê-lo querer mostrar que estava aqui, esperando por ele.

  Duas noites atrás, algum tempo depois de Yibo ter deitado na cama ao seu lado, ele se aproximou de mansinho sob os cobertores e se aconchegou o mais próximo que pôde sem incomodar aquele que acreditava estar dormindo. Xiao Zhan não queria nada além de sentir o calor reconfortante do corpo de Yibo mais próximo do seu. Mas então, uma mão se firmou em sua cintura silenciosamente, descansando ali brevemente enquanto as pontas dos dedos faziam uma carícia quase imperceptível em sua pele sobre a camisa de seu pijama. Um momento depois, Yibo se moveu, diminuindo a distância que havia ali um pouco mais. Ainda não era a proximidade com a qual se acostumaram ao longo de suas noites juntos, mas era o suficiente para sentir a respiração e o calor do corpo um do outro.

  Na noite anterior, Yibo não esperou que Xiao Zhan se aproximasse, o próprio tomou a iniciativa de se aconchegar contra ele assim que deitou na cama ao seu lado. Quando a manhã daquele novo dia chegou, eles estavam dormindo abraçados como costumavam estar no que pareciam ser inúmeras noites atrás, seus membros emaranhados de tal forma que era difícil distinguir onde um começava e o outro terminava.

  Era como se eles estivessem recomeçando o processo de descobrir a própria intimidade um com o outro, dando passos lentos, sondando até onde poderiam ir e se havia de fato um limite com o qual lidar. Mas a questão era: eles simplesmente não podiam e não queriam mais ficar longe um do outro.

  Xiao Zhan estava ciente de que o afastamento de Yibo se devia principalmente pelo fato de não conseguir se abrir e lhe contar o que aconteceu. Era como se pensasse que, já que não podia fazer isso por ele, não deveria usufruir de qualquer coisa que o outro quisesse lhe dar. Mas não era isso que queria. Tudo o que desejava nesse momento era poder cuidar dele como ele próprio foi cuidado por Yibo quando precisou.

  Sem dúvidas, estava apreensivo com tudo o que estava acontecendo. Mas, principalmente, estava preocupado com a segurança de Yibo. Aquele homem certamente não teria desistido e, assim que tivesse uma oportunidade, com certeza se aproximaria. Xiao Zhan não sabia o que fazer, muito menos podia prever como o outro reagiria caso isso acontecesse. Entretanto, não forçaria Yibo a dizer algo que claramente ainda não estava pronto para dizer. Ele acharia alguma outra solução para esta situação.

  Quando acordou, o outro lado da cama estava vazio, mas ainda não totalmente frio, indicando que aquele que dormia ao seu lado levantou-se a pouco tempo. Xiao Zhan também levantou, sanou suas necessidades, fez a higiene matinal e caminhou para fora do quarto, vendo Yibo parado em frente a janela da sala de estar, observando o céu azul e o horizonte banhado de amarelo pelo sol.

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