30 - Marcas e Lembranças

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  Yibo estava preso em sua própria cabeça há dias. Ele sabia disso, mas simplesmente não conseguia sair; não conseguia falar, não conseguia ser ele mesmo novamente.

  Aquele nome… Apenas a menção daquele nome trouxe de volta consigo uma avalanche de lembranças e sentimentos os quais demorou muito, muito tempo para conseguir esquecer. E foi exatamente o homem que ele amava que os despertou novamente.

  A parte racional de seu cérebro lhe dizia que Xiao Zhan não tinha culpa; afinal, como ele poderia saber? No entanto, suas emoções conturbadas não o deixavam agir de acordo com a sua razão. Por qual motivo ele reviveu aquele fantasma do seu passado? Yibo não conseguia entender.

  Ele sabia que estava distante. Droga, ele sentia isso. E sabia pelo semblante cabisbaixo de Xiao Zhan que este sentia tanto quanto.

  Yibo ainda dormia ao lado dele todas as noites, preparava seu café da manhã todos dias, levava-o à fisioterapia, ajudava-o nos exercícios na piscina e fazia o que quer que o outro precisasse que fizesse. Mas era como se fosse apenas uma concha vazia agindo roboticamente, era como se ele de fato não estivesse lá. Sequer conseguia sentir o prazer que sempre sentiu ao fazer essas pequenas coisas para o modelo, e sabia que era porque ele conscientemente estava anulando todas essas boas sensações como uma punição a si próprio.

  Eles mal se tocaram desde aquela noite, sem beijos de despedida ao sair, sem abraços na cama, sem toques ocasionais apenas para se confortar na presença um do outro… Yibo percebia todas as vezes em que Xiao Zhan queria se aproximar, ele via sua mão se estendendo e recolhendo no último minuto antes de alcançá-lo, como se tivesse medo de pressionar demais e ele desaparecer. Ele via, ele desejava aquele toque mais que tudo, mas Yibo não se sentia pronto para recebê-lo. Então, ele fingia que não doía ver a hesitação de Xiao Zhan em se aproximar quando eles sempre foram tão livres um com o outro.

  Havia uma distância que parecia ser intransponível entre eles. Foi ele quem a colocou lá, mas agora não fazia ideia de como tirá-la; não fazia ideia de como fazer com que tudo voltasse a ser como era antes. Antes daquele nome sair dos lábios de Xiao Zhan.

  Era sexta-feira, quase 19:00 horas da noite, e ele ainda estava na BookPeople, sentado na cadeira de seu escritório enquanto olhava para o céu noturno pintando com pequenas estrelas esparsas. Algumas nuvens escuras apareciam aqui e ali, como se anunciassem uma tempestade que estava por vir. De alguma forma, isso combinava exatamente com seu humor, com a forma como ele se sentia. Yibo estava tenso de tal modo que sequer conseguia ter uma boa noite de sono. Sempre que fechava os olhos sentia que, quando os abrisse, enfrentaria a luta para a qual se preparou durante todos esses anos. No entanto, agora que o momento finalmente chegou, ele se sentia pequeno, como sua versão jovem de cerca de dez anos atrás.

  Talvez suas noites péssimas de sono também sejam resultado da falta do calor reconfortante de Xiao Zhan contra seu corpo, ou dos braços dele à sua volta. Ele sentia falta de ter aquelas pernas longas jogadas sobre as suas, os dedos dele apertando a barra de sua camisa, o rosto dele enterrado em seu pescoço… Em alguns dias, Yibo prolongava seu trabalho por horas para chegar tarde o suficiente para que o modelo já estivesse dormindo, porque ele queria mais que tudo apenas agarrá-lo e enterrar o rosto em seu peito, sentir seu cheiro suave e aqueles dedos delgados acariciando seus cabelos gentilmente. Mas Yibo não podia, não enquanto não pudesse dizer a verdade a ele; não enquanto não conseguisse se abrir e dar-lhe uma resposta sincera para a pergunta que fizera.

  Uma brisa quase fria entrou pela janela entreaberta, a mesma pela qual ele vasculhava o céu em busca de um sinal da lua, não a encontrando em lugar algum. Talvez seja o sopro do vento, talvez a escuridão; ou talvez fosse o silêncio que o acompanha que leva seus pensamentos de volta àqueles muitos anos atrás, quando ele ainda era jovem e estava apenas começando a descobrir a vida e tudo o que ela significava.

Cowboy da GucciOnde histórias criam vida. Descubra agora