Pecadores de Paudalho

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[X-Lilian-X]

Às 5h26, nós desmontamos acampamento e prosseguimos viagem. Dom Chibata disse que estamos bem perto de Paudalho, agora. Antes mesmo de dar meio-dia já estaremos lá. Agora, são 6h47. Nós terminamos de descer uma ladeira de terra seca, chegando a um chão cinza de asfalto esburacado, seguindo caminho sobre uma avenida larga e extensa, passando por diversos veículos sucateados pelo caminho. Carros, caminhões, motocicletas, até um caça da aeronáutica e uma aeronave desmantelada.

Prouft! Um papafigo cai estatelado.

— Papafigo de merda — resmunga Calango Preto, recarregando a espingarda.

Eu e Tião caminhamos lado a lado atrás do jiga, enquanto Calango Preto, Dom Chibata e Cara de Faixa andam na frente. Murilo Quatro está voando alguns metros acima do jiga, com os olhos girando em trezentos e sessenta graus. O drone decidiu não ativar o chip sintonizador para evitar atenções indesejadas. Os papafigos parecem se atrair por sinais de radiofrequência. O único problema é que ficaremos no tédio. Mas, se isso vai garantir de que chegaremos vivos à cidade, vamos ter que engolir isso.

Eu aproveito a calmaria para iniciar uma aproximação com Tião.

— Já esteve em Paudalho alguma vez?

— O quê? — o jovem parecia desatento. — Ah, sim, eu... já estive lá com o meu pai algumas vezes... Foi lá onde a Janinha nasceu...

— Você não parece estar empolgado...

— Eu nunca gostei daquele lugar. Só tem gente escrota e interesseira. E ainda tem aquele bosta do coronel Silva Torres, o desgraçado que matou Gustavo Vinte e Sete, o maior herói dos Ermos Nordestinos... Como acha que eu vou gostar de um lugar daqueles?

— É. Ouvi muito falar desse coronel Silva Torres, o Homem Que Superou a Máquina.

— É só um velho carcomido com o pé na cova. Até hoje eu me pergunto como uma porra daquela continua viva ainda...

— Já encontrou com ele alguma vez?

— Ele e o meu pai são velhos conhecidos, mas não mais do que isso. Eu só tive a oportunidade de ficar frente a frente com ele uma vez, e foi um dos piores dias da minha vida...

— Mesmo? — lanço um olhar de interesse. — O que aconteceu?

— Quando a gente entrou no palácio da cidade, os guardas guiaram a gente até a sala de reuniões pra se encontrar diretamente com o coronel porque ele queria ter uma palavrinha com a gente. Não disseram o motivo, apenas apontaram as armas e forçaram a gente a ir. Ameaçaram atirar se a gente recusasse. Então, quando chegamos à sala de reuniões, o coronel tava vestido com um terno e um chapéu branco, sorrindo, só esperando a gente se sentar. Depois... — ele cai em um silêncio abrupto depois disso.

Mas a curiosidade me faz insistir:

— Depois...?

Ele abaixa a cabeça, com uma expressão encabulada.

— Não quero mais falar sobre isso...

Eu, sem nada mais a dizer, desvio o olhar para o caminho à frente. Fazemos uma longa curva para a esquerda, seguindo a avenida. Após alguns minutos, avisto um grande muro feito de sucata quase dois quilômetros à frente. Dou um ligeiro zoom na minha visão. Há um portão alto feito de grades de metal branco, e atrás dessas grades estão dois androides vestidos com armaduras metálicas reforçadas com restos de sucata de carro. Ambos estão armados com fuzis MP7.

— Lá está a cidade de Paudalho — anuncia Dom Chibata. — Parece que chegamos mais cedo do que previ, e eu digo graças a Deus por isso.

Deeeeeeus — grita Cara de Faixa. — Obrigaaaaaaado!

URCASUL - Entre Santos e MáquinasOnde histórias criam vida. Descubra agora