[X-Lilian-X]
São 05h55. O dia está amanhecendo, com as nuvens cobrindo parcialmente o céu. Eu caminho sobre a calçada de uma rua repleta de casas velhas e decrépitas, com alguns humanos moribundos se movendo por trás das janelas abertas, os vidros quebrados cintilando como olhos vazios nos rostos desgastados das construções. As fachadas apresentam paredes deterioradas cobertas por rachaduras. Pichações em tinta branca mostram desenhos de caveiras sorridentes com dois chifres. Outro desenho representa um cogumelo de fogo que faz alusão à guerra nuclear. Em outra pichação está escrito: "PERIGO".
Não há membros da Milícia do Coronel aqui, o que indica que estamos perto do tal Distrito da Morte.
Murilo Quatro flutua ao meu lado direito, acompanhando-me.
— Gabriele contou tudo que aconteceu — ele fala, olhando apenas para frente. — Ela viu Tião sacar a arma e atirar no próprio pai sem hesitar.
— Você acredita nela? — olho-o de lado.
— Por que ela mentiria? Juca e Vânia também confirmaram isso!
— Quando conheci a Gabriele, ela dizia se chamar Andrea, sabia? A mentira corre no sangue dela. Não devemos confiar em tudo que ela diz.
Os olhos de tubo dele balançam em negação.
— Não. Eles não têm o que ganhar mentindo sobre isso. Você só tá tentando me acalmar pra não matar o Tião assim que encontrar ele. Fique sabendo que eu ainda tô disposto a fazer isso.
Eu não expresso reação a isso, porém solto um bufo do nariz. Isso vai ser mais difícil do que eu pensei... Que merda você foi fazer, Tião? Odeio pensar isso, mas talvez Murilo esteja certo e não tenhamos outra opção a não ser matá-lo mesmo. Dependendo da situação em que ele estiver, pode ser um ato de misericórdia. O problema é que Calango não vai aceitar isso. Acredito que nenhum pai aceitaria. Nunca vou ter a oportunidade de ter um filho, mas não é difícil de imaginar o amor que um pai e uma mãe sentem por um filho quando o trazem ao mundo. É uma coisa sua, saída de dentro de você, para você. Espero um dia poder experimentar isso.
Caminhamos por mais alguns minutos, passando na frente de uma escola arruinada e abandonada. Todo o interior está soterrado pelo teto que desmoronou, restando apenas as paredes encardidas e esburacadas. Um edifício metálico ao lado está com a frente coberta por escombros e detritos, como se tivessem colocado para manter algo perigoso selado dentro. Fios elétricos expostos, vidros quebrados, luzes neon piscando freneticamente em defeito por trás das janelas e placas holográficas mostrando imagens distorcidas e defeituosas em um tom colorido...
Mais à frente, nós encontramos um grande portão feito de grades enferrujadas. Há uma placa amarela com algo escrito em tinta preta: "Distrito da Morte".
Paramos diante do portão, analisando a rua suja e sombria atrás dele.
— É, parece que chegamos — falo, cruzando os braços.
— Ué, não tem ninguém aqui? — Murilo gira os olhos para todos os lados. — Não era para ter ao menos um guarda vigiando?
— Olha pelo lado bom, pelo menos podemos entrar. Vamos logo, antes que alguém chegue — aproximo-me do portão para escalá-lo.
— Ei — um grito masculino ecoa atrás de mim. Eu paro imediatamente, virando o rosto. Um androide armado com uma espingarda está correndo para cá. — Esta é uma área restrita — ele para perto de nós, mirando-nos com os olhos castanho-brilhantes. — Vocês não podem...
Djiun! O androide se estatela para trás, com uma marca preta no centro da testa. Eu, boquiaberta, viro os olhos para Murilo.
— Que porra você tá fazendo?!
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URCASUL - Entre Santos e Máquinas
Science FictionEntre 2040 e 2050, o progresso tecnológico transformou o Brasil na maior potência na área de robótica e inteligência artificial de todo o mundo, ameaçando ultrapassar a economia dos Estados Unidos e da China em poucas décadas. Tal sonho foi desmoron...