Seguindo Rastros

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[X-Leila-X]

Relaxar era tudo que eu precisava. Não que eu seja uma mulher ocupada e que vive estressada pelo trabalho, longe disso. Sou a ministra que menos trabalha aqui, já que a espionagem é feita pelos meus drones. Tudo que eu preciso é dar as ordens e eles farão sem questionar. Essa sempre foi a beleza da inteligência artificial. Eles são altamente customizáveis e submissos. Ao menos foi assim, até decidirem replicar a humanidade neles. Agora, até eles sofrem com crises existenciais.

Exceto os meus drones, claro. Eu os programei para não terem personalidade. Se eu faço isso, eles se rebelam. Há sempre que se manter os servos longe da vontade própria. Não é à toa, dizemos que liberdade é escravidão. É simples, na verdade. Capitalismo para nós da elite e socialismo para os servos de baixo. Um cinismo mórbido, mas que deu todos os privilégios que eu queria. Agora, só falta eu ter Mauro de volta nos meus braços.

Agora mesmo eu estou relaxando em uma piscina de espuma, com luzes suaves e azuis dançando como se fossem reflexos de um céu noturno. A água é quente, com bolhas espumosas me cobrindo até o peito enquanto eu me encontro recostada, com os olhos fechados, desfrutando de uma música lenta e relaxante emitida por um holograma de um dos olhos de Edmundo que se encontram aqui. A música tem um estilo oriental e, de acordo com Janus Fujimori, tem o poder para desligar a mente dos problemas. De fato, ele não estava errado. O gerador de músicas de Edmundo Quarenta e Seis consegue capturar qualquer estilo.

Após alguns minutos, eu decido abrir os olhos.

— Ligar rádio — lanço a ordem para Edmundo.

— Certo — Edmundo responde e imediatamente o volume da música oriental diminui. — Em qual sinal você quer que eu sintonize?

— Na Rádio Comunismo, é claro. Acha mesmo que vou querer ouvir aquele panaca do Trevizol Sessenta e Quatro?

— Claro, claro — ele diz em um tom debochado. — Como quiser, majestade.

O rádio começa com o som de uma guitarra dando fade out.

Olá, olá, olá, meus lindoooooos — narra a voz animada de Eduarda Quarenta e Seis. — Olha só quem voltoooooou! Isso mesmooooo, sou eeeeeu! Eduarda Quarenta e Seeeeeeis! Vamos para as notícias, meus lindos?! Certo. Vamos ver aqui. Hum... Ah, olha só! Parece que houve um tiroteio insano no assentamento de Umirim, nos Ermos Cearenses, ontem à noite! Minha gente, o que será que aconteceu?! Será que morreram muitos demônios cristãos burgueses filhos da puta do capitalismo opressor no meio dessa confusão toda?! Esperemos que a resposta seja sim!

Sim, sim, sim — cantam várias vozinhas robóticas. — Sim, sim, sim!

— Opa, acabei de receber uma notícia fresquinha aqui, meus lindinhos! Parece que a Força Letal Desligadora acaba de estabelecer postos avançados por todo o território dos Ermos Paraibanos para tentar conter a horda de androides exterminadores que está infestando a região. Eu tenho um recadinho pra vocês, putinhas da FLD... ESPERO QUE VOCÊS MORRAM PRA EU PODER ENCHER A COVA DE VOCÊS DE BOSTA!

Ecoa um riso de plateia falsa. Eu presto atenção e escuto atentamente. A FLD... Se Mauro ouvisse isso, ia ficar maluco. É até bom que ele não esteja aqui, agora.

— Oh, olha só! Acabo de receber novas notícias sobre o estado do Alagoas. O famigerado Império de Otomã está cada vez mais se expandindo pela região. Agora mesmo eles estão atacando as cidades de Jacuípe e Jundiá. Tudo indica que eles vão sair vitoriosos, e como essas duas comunidades estão bem pertinho da fronteira sul de Pernambuco, tudo indica que eles já estão se expandindo por esse estado também! Isso é tudo por agora, meus lindinhos! Um beijo na bundinha de todos vocês e fiquem com um pouco de música!

URCASUL - Entre Santos e MáquinasOnde histórias criam vida. Descubra agora