Marcha Feminazi

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[X-Lilian-X]

O Distrito do Vício tem um aspecto pior do que o seu nome sugere. Não se trata apenas de uma área de convivência entre drogados e traficantes, com sujeira e gente perturbada para todo lado, não. Trata-se de uma favela rodeada de edifícios arrasados, com letras neon brilhando nas sombras. Pichações cobrem as paredes dos prédios em ruínas. Fumaça e podridão são o que predomina no ar, tornando o ambiente escuro e opressivo. Becos lixosos, entradas escuras tomadas por detritos, janelas tapadas por tábuas de madeira, painéis de propaganda colorida piscando defeituosamente nas paredes altas, cadáveres humanos e robóticos jogados pelas calçadas...

São 19h52. Eu e Murilo perambulamos lado a lado pela estrada esburacada, olhando para becos e janelas, onde olhos observam a nossa passagem com malícia e perversidade. Uma criança nos mira boquiaberta através de uma janela de grades metálicas. Um homem de aspecto bruto e truculento fuma um cigarro eletrônico enquanto escorado em uma parede, analisando os dois lados de um revolver calibre 69. Olhando de relance para um beco, vemos uma garota nua sendo penetrada por um homem de aspecto rabugento, e pelos gritos, claramente se trata de um estupro. Em outro beco, um grupo de crianças conversa enquanto exibindo suas pistolas e revolveres. Elas olham para cá e fecham a cara imediatamente, suas peles sujas e roupas rasgadas.

— Então este é o Distrito do Vício — comento em voz baixa, observando os arredores. — Parece que o próprio Inferno caiu na Terra.

— O lugar tá pior do que eu me lembrava — diz Murilo, também olhando para os lados. — Era muito mais cheio de gente, traficante e drogado pra todo lado. Agora...

Claramente, ele não sabe das Feminazis. Faz sentido, pois, de acordo com Eletropaulo, faz pouco mais de uma semana que elas chegaram aqui. Contar isso para Murilo agora pode fazê-lo se acovardar. É melhor que ele veja com os próprios olhos. Talvez ele tenha o privilégio de me ver acertando um tiro em Adriana Hetler. Mas, se ele quiser fugir, não irei impedi-lo. Ninguém precisa morrer por mim aqui.

— Ei, vocês — um garoto de aspecto magro e degenerado se aproxima pela nossa frente, mais tropeçando do que andando. Ele veste um moletom cinza rasgado e uma calça comprida azulada ainda mais cheia de rasgos, deixando as coxas ossudas todas de fora. — Vo... Vocês tem um pouquinho de Fidra pra me dar, não? Eu pago vocês quando puder! Por favor — ele fala num tom nervoso e ofegante, claramente desesperado. — Nada mais me faz feliz como Fidra... Nada... Nada...

Troco um rápido olhar com Murilo, depois faço um escaneio no garoto. Nome: Daniel Filho. Idade: 14 anos. Personalidade: desesperado, impaciente e ansioso. Melhor abordagem: fingir ser traficante de Fidra.

As informações me fazem olhá-lo com interesse.

— Talvez — isso faz Murilo me olhar com espanto. — Se você me levar para onde fica a maioria dos viciados em Fidra desta área, talvez eu possa te dar alguma coisa.

— Lilian, o que você...

S-sim, eu sei onde é — o garoto responde com um sorriso trêmulo e chacoalhante. — Venham... Venham comigo! Venham — faz sinal com a mão enquanto se afasta, invadindo rapidamente um beco à nossa esquerda. — É por aqui! Venham, venham!

Eu ando rapidamente para lá, com Murilo me seguindo atrás.

— Lilian, que porra tu tá fazendo?! — sussurra o drone, aparecendo ao meu lado. — Não podemos confiar em um viciado!

— Ele pode nos levar até Tião — sussurro de volta, entrando no beco, onde no final está o garoto fazendo sinal para nós nos aproximarmos. — Deixa ele pensar que a gente tem Fidra pra dar.

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