[X-Leila-X]
As coisas têm ficado estranhas desde que Mauro me agrediu. Não me permitem visitá-lo. Sequer me dão notícias dele. A ansiedade tomou conta de mim desde então. Estou tendo que dormir a base de anestésicos fortes. Não sei como ainda não fiquei doente. Minha única opção é tentar ocupar a mente com alguma coisa. Não é à toa, estou agora mesmo no meu escritório oficial, no Ministério da Espionagem, que é totalmente vigiado por drones espiões. Eles fazem a segurança, a limpeza e estão sempre prontos para me servir quando der a ordem. Eles fazem quase tudo e eu, quase nada. Nós humanos trabalhamos a vida inteira para fazerem as máquinas trabalharem por nós.
Meus dedos chacoalham, digitando freneticamente no teclado do computador holográfico, cuja tela é grande e alaranjada, intensamente brilhosa e iluminadora de ambientes. Mantenho as pernas cruzadas na cadeira giratória de couro preto por trás do balcão de metal platinado e cintilante. Meu escritório oficial é espaçoso suficiente para caber cinquenta geladeiras robôs dentro. Poltronas, divãs e cadeiras estão organizados na parte leste, enquanto na parte oeste está uma pequena cozinha, onde um robô liquidificador está me preparando um suco de limão gelado.
Três faixas de luzes cortam o teto lado a lado em linha reta, indo de uma parede à outra. As paredes são de um tom laranja, feitas de metal com textura similar a de um diamante, cheia de cortes finos e cintilações confusas. Alguns dos meus drones espiões fazem a minha guarda aqui, flutuando sempre próximo ao teto, de modo que não corro o risco de me esbarrar com eles ao andar. Por muito tempo, isso tem me sido um pé no saco, até que decidi usar a maldita cabeça.
Digito a tecla "Enter" no teclado digital e abro a minha pasta de arquivos confidenciais.
— Muito bem, vamos ver aqui — murmuro, analisando a imensa lista de nomes e códigos. Entre esses nomes está Ferdinando Albores, Elimar Fontana, Gustavo 27, Antônio da Silva Torres, Jaques Litiev, Maria Cortana, Érica Gelatina... Eis que encontro o que procuro. — Aqui está — clico na pasta "Lilian 74" e a tela processa uma imagem 3D da androide, dando um zoom em sua face, mostrando-a de frente. Suas descrições são mostradas em uma mini tela que se abre no canto direito da tela. — Modelo A74B. Fabricada em 15 de Maio de 2069 pela empresa IA Redentora. Sua aparência foi baseada em Anya Glebovna, antiga diplomata russa no Brasil que foi morta em um ataque à bomba na cidade de São Paulo em 14 de maio de 2064, aos trinta e três anos de idade. Função: segurança privada.
Toco o dedo na tela e expando as descrições, aparecendo mais texto para ler.
— Programa de combate tático foi instalado previamente durante a fabricação. O programa Modo de Concentração Tática, idealizado pelo presidente da IA Redentora, Geovani de Freitas, proporciona a todos os androides A74B as habilidades de mira rápida e concentrada, originalmente conhecida como efeito câmera lenta em videogames de tiro, que faz o usuário se mover normalmente enquanto vê o mundo correndo mais devagar ao seu redor...
Giro o dedo e desço a tela para continuar lendo o resto.
— Também foi adicionada ao programa a possibilidade de leitura inteligente em tempo real, podendo processar características e informações relevantes de indivíduos tanto humanos como robóticos através de um escaneio rápido. Em 2072, o programa recebeu sua primeira grande atualização, passando a incluir um algoritmo capaz de processar, em tempo real, opções de diálogos e decisões para melhor se adequar às situações do momento, podendo ser utilizado para auxiliar em escolhas morais ou mesmo em situações de vida ou morte... — franzo os lábios em um olhar concentrado. — Então a androide Lilian recebeu várias atualizações ao longo dos anos... Hum... — fico pensativa por alguns segundos, até que me surge uma ideia. — Edmundo, você tá aí?
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URCASUL - Entre Santos e Máquinas
Science FictionEntre 2040 e 2050, o progresso tecnológico transformou o Brasil na maior potência na área de robótica e inteligência artificial de todo o mundo, ameaçando ultrapassar a economia dos Estados Unidos e da China em poucas décadas. Tal sonho foi desmoron...