Oportunismo Dourado

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[X-Lilian-X]

Eletropaulo me guia para o seu escritório.

— Tome um assento e fique à vontade — ele se dirige ao sofá vermelho posicionado atrás do balcão de metal vermelho-alaranjado, balcão esse que é cheio de luzes de linhas brancas simulando teia de aranha acendendo e apagando em uma animação similar a sangue correndo nas veias de um homem. — Seu nome é...?

— Lilian Setenta e Quatro — sento o traseiro em uma poltrona branco-metálica frente ao balcão. — Precisava confiscar as minhas baterias antes de entrar aqui?

— Precaução é tudo, minha querida — ele dá risada. — Vão estar de volta na sua mão logo, logo.

Atrás de mim, dois androides milicianos ficam de guarda nos dois lados da entrada, ambos armados com fuzis MP7. Enquanto Eletropaulo se move para se sentar no sofá vermelho, eu ativo o MCT e faço tudo correr mais lento ao meu redor, e com isso eu giro os olhos para analisar o ambiente à minha volta.

Trata-se de um escritório quadrangular relativamente pequeno, com um espaço de 25 metros quadrados. Parte das paredes vermelho-cromadas estão enfeitadas com quadros holográficos exibindo imagens do próprio Eletropaulo fazendo poses. Um deles mostra Eletropaulo sorrindo de frente com as mãos na cintura, enquanto outro o mostra sentado em um trono de ouro maciço, com uma coroa quadrada de diamantes reluzindo no topo da própria cabeça. O chão do escritório é de concreto marrom levemente esburacado, de modo que qualquer um pode tropeçar se não tomar um mínimo de cuidado. Não há janelas ou meio de escapar em caso de perigo iminente.

Eletropaulo abre uma garrafa de vidro contendo Cunhão Eletrônico e enche dois copos altos de metal branco.

— Quer? — ergue um copo. Sem dizer nada, eu estendo a mão e pego o copo. Ele senta o bundão quadrado no sofá e ergue o seu copo, sorrindo largamente. — Um brinde pelo nosso oportunismo dourado, sim?

Isso me deixa um pouco cismada, mas decido não expressar isso.

— Tudo bem — levanto o copo também e assim realizamos um brinde rápido. Ele abre o bocão e arremessa todo o líquido dentro, engolindo em um glup bem alto. Eu ponho o copo perto da boca e finjo beber um gole, depois deposito de volta no balcão.

— Muito bem — ele deita as costas no sofá, apoiando as mãos nas laterais do cômodo. — Vamos começar.

— Por que me trouxe aqui? — pergunto. — O que você quer de mim?

— Digamos que eu sou uma máquina que vê valor naquilo que os outros costumam considerar lixo. Todos os estrangeiros podem servir como chaves para abrir novas portas.

— Está bem, qual é o trabalho?

Ele dispara uma gargalhada cínica.

— Oh, não. Eu não estou te contratando como mercenária, se é isso que você quer saber. Não, não. Eu te trouxe aqui para mostrar uma oportunidade de ouro. Veja bem, eu sou uma máquina que gosta de construir boas amizades e alianças, sobretudo amizades com poder de influência. O que quero propor a você é a chance de fazer um nome dentro da cidade e ganhar respeito entre os milicianos do coronel Silva Torres, quem sabe até virar uma das supervisoras dele, já pensou?

Minhas sobrancelhas dão uma leve arqueada.

— Está propondo uma chance de eu fazer parte da Milícia do Coronel?

— É muito mais do que isso, minha querida. Estou propondo uma chance de você se tornar uma autoridade dentro da cidade. Imagine o seguinte cenário: você é uma viajante que entra num vilarejo e recebe o trabalho de matar um dragão que mora dentro de uma caverna nas proximidades. Você mata o dragão e todos os moradores do vilarejo te proclamam a nova rainha local. Legal, não é?

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