Recobrando a Consciência

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[X-Lilian-X]

Meus olhos voltam a se abrir, estando o meu rosto afundado em cima de um chão de gramado verde. Emano um suspiro longo do nariz, levantando a cabeça, visualizando um céu azul-marinho com nuvens em forma de pixels negros flutuando para um lado e para o outro como um tráfego de carros voadores. Estou de volta...

Estou de volta no mundo pós-morte dos androides A74B.

— E assim foi como aconteceu — ouço uma voz masculina à frente, estranhamente familiar. — É por isso que eu estou aqui, não é? Eu não estou morto de verdade?

Olho para frente. Zuria Setenta e Quatro está conversando com um androide de cabelos negros e roupas negras feitas de couro.

— Você foi apenas desativado por eles — Zuria está sentada em cima de uma pedra, olhando diretamente para as chamas de uma fogueira acesa no chão. — Muita coisa pode estar acontecendo enquanto falamos.

Ver isso faz a minha boca se abrir como se prestes a dar um grito para chamar a atenção deles, porém hesito. Ao invés disso, eu levanto um joelho e depois o outro, voltando a ficar de pé.

O androide masculino, que também está sentado em uma pedra, percebe Zuria virar o olhar para mim. O androide olha para trás logo em seguida, saltando rapidamente da pedra ao notar a minha presença.

Mas o que... — seus olhos amarelo-brilhantes me encaram, atônitos e arregalados. Sua boca abre ao olhar bem para o meu rosto. — Lilian?! — caminha suavemente em minha direção, estendendo a mão. — É você mesma?!

Paro dez passos diante dele, analisando bem o seu rosto e recordando a sua identidade. Então, com a boca ainda aberta, eu sussurro:

— Marcos Setenta e Quatro...

Marcos Setenta e Quatro...

Marcos Setenta e Quatro...

Uma luz branca invade a minha visão e me puxa de volta ao passado. Lá estou eu no Palácio do Planalto, em Brasília, junto com o último primeiro-ministro do Brasil, durante o Holocausto Cibernético. Todos estão parados como se fossem uma foto ou um vídeo pausado. Marcos Setenta e Quatro estava ao lado esquerdo de Zuria nesse dia, posicionado com uma postura ereta, expressão séria e as duas mãos unidas nas costas. Sua aparência é a representatividade de um indígena brasileiro: pele morena, lábios carnudos, cabelos negros meio compridos e escorridos para trás, olhos amarelo-brilhantes e um corpo levemente musculoso.

A luz invade os meus olhos e me traz de volta ao presente. Marcos me encara com um olhar confuso e transtornado.

— Caralho, eu nem acredito que tô te vendo de novo, você e a Zuria. Pensei que era o último A74B vivo.

Olho de relance para Zuria, que permanece sentada na pedra, sorrindo calmamente para mim. Olho novamente para Marcos, determinada a extrair o máximo de informações dele.

— Você fugiu deles, não foi? — indago, dando alguns passos para perto dele. — Dos comunistas e o Foro de São Paulo?

— Sim — a voz dele é grave e um pouco elevada. — Consegui fugir deles usando uma nave do heliporto assim que recebi de volta as minhas memórias. Foi impossível não me rebelar naquela hora — de repente, ele começa a rir. — Eduarda Quarenta e Seis ficou muito puta quando eu atirei em um dos olhos dela. Ela até enviou drones pra tentar me matar.

— Edmundo Quarenta e Seis também fez o mesmo — falo. — Mas eu consegui repelir todos eles.

— Independência ou morte — ele fala com suavidade. — Você se lembra dessas palavras?

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