[X-Lilian-X]
Sou guiada para dentro do Quartel Nova Guarda, o mesmo que estive presa depois de perseguir Tião, quando estávamos esperando Chibata e Calango naquela igreja. O pátio principal está lotado de androides milicianos fazendo patrulha. Sobre os muros de concreto, drones ficam girando os seus olhos de tubo em trezentos e sessenta graus constantemente.
Vasco Dezenove caminha lado a lado comigo, com milicianos nos acompanhando tanto na frente como atrás. O jeito como andamos dá a impressão de que estou com eles, e não sendo levada como prisioneira, que para mim é o que mais está parecendo.
— Para onde estão me levando? — indago, mas nenhum deles me responde, simplesmente agem como se eu não tivesse falado nada. — Ei, para onde estão...
— Cala a boca — um golpe na nuca me faz cambalear.
Decido ficar em silêncio depois disso. Estou sendo direcionada para uma estrutura alta e robusta feita de tijolos cinzentos. A porta de entrada é metálica, similar à porta de um elevador. Essa porta se abre automaticamente para os dois lados quando nos aproximamos. Assim, adentramos uma série de corredores e salas, com a área central quadrangular servindo como armazém para os diversos caixotes de armas empilhados lado a lado.
Sou guiada para o que aparenta ser a sala de reuniões, onde uma mesa oval metálica jaz no centro, com cadeiras cromadas preenchendo a maior parte do espaço. As paredes reluzem em prata, com um drone X04 vermelho passando pano molhado nas partes sujas. Um holograma de globo azul reluzente no teto proporciona uma iluminação ampla para toda a sala.
Para a minha surpresa, Eletropaulo está ocupando uma das cadeiras à mesa, uma cadeira maior e mais larga, similar a uma poltrona feita para caber duas pessoas lado a lado. A geladeira está com uma expressão fechada e carrancuda, com um trio de milicianos armados fazendo a guarda nas suas costas.
— Já estava ficando impaciente — ele fala através de um bufo. — Sabe que eu odeio ficar esperando.
— Ela já está aqui — diz Vasco, apertando o botão para trancar a porta, que se fecha automaticamente e faz um bip que indica tranca automática. — Conseguiu sobreviver a um ataque da Hetler no Distrito do Vício — aponta gentilmente para a cadeira na ponta sul da mesa. Eu assinto para ele e me sento. Ele se move e ocupa a cadeira na ponta leste, de modo que fica ele ao meu nordeste e Eletropaulo ao meu norte. — Ficou frente a frente com ela.
— Eu que pedi pra ela fazer isso — diz Eletropaulo, encarando-me como um pai decepcionado. — Não botei muita fé de que ela conseguiria sair viva. Hetler é pior do que qualquer cangaceiro que eu tenha lidado antes, e olha que eu já lidei com muitos cangaceiros.
Olho para os dois sem entender.
— O que vocês querem de mim?
— Temos um plano para assassinar Hetler — diz Vasco. — Vamos precisar de você para executá-lo o quanto antes.
Sigo os mirando com um olhar confuso.
— Por quê?
— Por quê?! — Eletropaulo ri. — Ora, porra, você ainda pergunta?! Eu não te falei que as Feminazis eram uma bomba prestes a explodir?! Acontece que essa bomba precisa explodir o quanto antes! Só assim para podermos controlar o incêndio que vai vir depois do estrago que será causado!
— O coronel é o único que está mantendo a Hetler no canto dela — diz Vasco. — Se formos esperar o coronel morrer de velhice para lidar com as Feminazis, vai ser tarde demais para fazer qualquer coisa. Porém, se começarmos essa guerra enquanto o coronel ainda está vivo, vamos ter uma chance muito maior de conseguir vitória. Precisamos fazer com que o coronel bote ordem na casa e, para isso, vamos precisar fazer com que essa guerra exploda logo.
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URCASUL - Entre Santos e Máquinas
Science FictionEntre 2040 e 2050, o progresso tecnológico transformou o Brasil na maior potência na área de robótica e inteligência artificial de todo o mundo, ameaçando ultrapassar a economia dos Estados Unidos e da China em poucas décadas. Tal sonho foi desmoron...