Morte à Queima-roupa

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[X-Lilian-X]

A casa de Andrea não passa de um barraco feito de sucata localizado em uma área isolada ao noroeste da cidade, onde estão várias casas desmoronadas e montanhas de escombros de antigos edifícios, deixando o ambiente similar a um grande lixão. No entanto, o lugar não está necessariamente abandonado. Há outros barracos improvisados espalhados por aqui, onde consigo ver moradores humanos se movendo por trás das janelas abertas. Um deles parece estar soldando algo com um maçarico.

A hora é 11h12. O sol está brilhando forte no céu sem nuvens. Eu caminho dando passos normais, como se estivesse em uma caminhada descompromissada. Ninguém parece reparar na minha presença, exceto por uma garotinha suja e careca que está sentada no chão de terra seca frente à porta de um barraco de madeira, teclando os dedos em um laptop preto. Ela para e me observa passando, com os olhos semicerrando em desconfiança.

Em outro barraco, um homem de aspecto rabugento está arrastando o corpo de um cachorro de duas cabeças para fora. Um frigobar vermelho está cavando uma montanha de escombros vários metros à frente, tentando encontrar algo minimamente valioso. Um rapaz e um garoto estão praticando tiro ao alvo contra pedras no quintal de um barraco de metal, ambos utilizando pistolas 9mm.

Não vejo nenhum membro da milícia aqui. Talvez eles não andem por estas partes por não achar o ambiente agradável, ou talvez porque os moradores não os aceitam por perto. Também é possível que tenham feito um acordo com o coronel Silva Torres para que sejam deixados em paz. Seja o que for, parece ser o lugar perfeito para se esconder da Milícia do Coronel.

Enquanto caminho rumo ao barraco de Andrea, ouço dois homens conversando perto de um cercado de madeira onde estão várias galinhas radioativas ciscando terra.

— Eita que o calor tá brabo hoje, hein! Vixe nossa senhora!

— Nem me fale. Fiquei todo me coçando ontem de noite, suado até o talo. Quase não dormi direito.

— Diz aí, Vânio. Quantos filhos tu perdeu ao longo da vida?

— Todos. O último morreu em um ataque de papafigos enquanto escoltava uma caravana, e o primeiro eu precisei matar porque nasceu com cinco pernas. A desgraçada da minha mulher bebeu muita água contaminada durante a gravidez. Aliás, fiquei sabendo que a sua filha voltou a engravidar. É verdade isso?

— É sim. Ela começou a sair com um dos milicianos do coronel Silva Torres. Era um moleque bacana, mas morreu no último ataque de cangaceiros aqui na cidade. É o terceiro neto meu que vai crescer sem um pai... Mas, pô, fazer o que, né? Vida que segue.

A entrada do barraco é uma porta de madeira vermelha cheia de marcas de arranhões, provavelmente de lâminas. Não há janelas, logo não consigo ver se há uma mulher morando dentro, entretanto estou ouvindo passos.

Aproximo-me da porta, analisando as marcas de arranhões. Faço um escaneio e as informações vão surgindo na minha interface. Foi feita por um canivete doze dias atrás, às 19h34. Provavelmente para testar se a lâmina estava bem afiada.

Ergo o punho e bato na porta tóc tóc tóc. Espero alguns segundos.

Quem é?! — ecoa a voz de uma mulher madura. Só pode ser ela.

— Gostaria de falar com Andrea.

Quem quer saber?!

— Lilian Setenta e Quatro. Disseram que você pode me ajudar com um problema.

Quem te falou isso?!

Neste momento eu ativo o Modo de Concentração Tática, processando algumas opções de resposta.

URCASUL - Entre Santos e MáquinasOnde histórias criam vida. Descubra agora