Dear Dad

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Agatha Rouge Samirez

Maratona - 3

Toda vez que lembro da minha infância tenho vontade de vomitar com algumas lembranças. Por que? Eu posso te explicar. Se não quiser entender, pule os próximos 14 parágrafos. Ou pule esse capítulo todo, na verdade.

Uma dessas lembranças que eu tenho nojo, eu tenho 11 anos e estou no jardim da minha antiga casa. Brincando com algumas flores e plantas, como eu já disse e faz tempo, eu amo plantas e natureza.

Suja de lama, meu vestido "branco" que não era mais branco todo encardido até na parte da barriga. Eu estava aproveitando a infância. A inocência de acreditar que nas partículas de uma flor há de ter uma cidadezinha de micro-bichinhos que vivem do néctar da flor e que eles vivem felizes por tomar sol e tomar chuva. Detalhe; nunca me deixaram tomar banho de chuva.

Até que um moço chega no portão de casa. Todo de preto, parecendo que ia velar algum parente. Se aproximou de mim e perguntou sobre meu pai.
Eu respondi. Disse que ele estava lá dentro, ocupado e trabalhando.

O problema é que esse moço era de uma parte interna da AMA onde existe um grupo inteiro de pessoas que podem emprestar de tudo oque você imaginar pra você, em troca de algo que eles precisarem, sendo isso dinheiro, mulheres, mortes encomendadas ou até drogas leves. E ele era desse grupo.

Meu pai quase morreu por conta de um acerto de contas. Sorte ele ter um cofre que eu sinceramente não sei pra que serve e é cheio de dinheiro.

Bom, foi aí que eu comecei a odiar o porão. Lembra? No começo de tudo isso, eu disse que ele havia me prendido no porão e me deixado com receio de tudo. É aí que todo essa bolha enorme de trauma começa.

Meu pai me trancou no porão e me deixou como Joseph me deixou no começo do noivado: sem comida e sem bebida. Deve ser por isso que aguentei tão fácil aquela sua punição. Meu pai me deixou 15 dias sem comida, já Joseph só me deixou 6. Bebi água da pia do banheiro que lá tinha. Depois que saí de lá fiquei três dias bebendo água e lembrando do gosto de cloro que a água do banheiro do porão possuía.

Isso tudo por eu ter entregado ele sem mesmo saber que aquele homem era mau. Depois disso, os castigos foram piorando. Quando eu fiz 13 e descobriram que eu beijei um menino na boca, meu pai me trancou no porão e contratou um casal pra mostrar como é um estupro. Sim. Ele fez isso. E fez muita coisa pior. Por isso eu disse que fiquei com receio de tudo.

Meu pai me mostrou o mundo da forma que ele é. Só que fez isso de uma forma tão cruel e crua que me traumatizou pela vida toda.

Ele contratou um ator pra demonstrar uma overdose de drogas quando eu saí pra uma festa escondida, pra me fazer ficar longe das drogas. E funcionou. Até hoje eu não encostei em um cigarro se quer.

Use esse método com o seu filho se quer que ele fique com vários traumas e alguns problemas mentais na vida adulta.

Só não contratou alguém pra interpretar alguma tragédia horrível ou algo nojento quando eu apostei com a minha amiga pra ver quem ganhava uma racha clandestina. Só gritou na minha cara dizendo que se eu perdesse pra um cara maluco, o cara maluco provavelmente arrancaria minha cabeça. Nisso eu concordo um pouco.

Meu pai me violentou da forma mais dolorosa possível dentro daquele porão sem mesmo tocar um dedo em mim. Conseguiu me deixar desnorteada só com traumas e cenas nojentas por mais ou menos 10 anos. Digo isso por que depois que consegui meu trabalho e meu dinheiro paguei minha terapia. Foi um acontecimento grande pra mim e tudo na minha vida pareceu ter uma carga muito mais leve do que antes.

E aí que você me pergunta; por que você perdoou ele?

Eu não perdoei meu pai.

Eu aprendi a conviver e conversar com ele normalmente, mas ele sabe que no fundo ele nunca vai conquistar meu perdão. Ele foi um pai horrível pra mim e ainda sinto isso na minha pele quando as lembranças me atingem aleatoriamente no dia-a-dia.

Acho que esse é o dilema da minha vida.

Acho que esse é o dilema da minha vida

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O Mafioso de Las VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora