04- Queria Gozar

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Nos primeiros dias ainda me via pensando em Daniela, mas logo foi caindo no esquecimento e a vida foi seguindo, assim como novos e antigos clientes foram surgindo. O bom é que sempre fui uma pessoa controlada, então quanto mais programas, maior ficava o meu "pé de meia".

Na nova faculdade ninguém sabia sobre o meu trabalho, pois sempre que me perguntavam eu dizia que trabalhava com vendas, o que não era uma mentira, já que estava sim vendendo. Eu sempre olhei pra isso com naturalidade e não era porque fazia programa que todos os sexos eram algo profissional, havia também os casuais, embora fossem poucos, já que, pra mim, aquilo era algo do meu dia a dia.

Quantas vezes fui a lugares e esbarrei com clientes, o que era engraçado, dependendo da pessoa, pois nos tratávamos como amigos, mesmo que não desse pra fazer isso com todos, até porque sempre tem aqueles que não conseguem ter um mínimo de respeito, pois confundem as coisas.

Já passei por situações de ciúmes, por estar em bares com amigos e ficantes, e um cliente aparecer querendo fazer graça, mas, por sorte, sempre consegui contornar a situação. São coisas que fazem parte da vida e não se tem muito o quê fazer a respeito, embora tente evitar, controlando e me afastando quando vejo que estão passando da linha profissional.

Isso me lembra de algumas propostas que recebi, sobre amor eterno, ou amante eterna, dependendo do estado civil da pessoa que fazia a proposta. Houveram vários tipos de coisas, como me oferecerem casa e etc., mas sempre com a exigência de exclusividade, por isso nunca aceitei nenhuma, pois nunca me senti emocionalmente envolvida pra poder oferecer essa tal fidelidade.

– Ta pensando em quê? – Me perguntou Gabi, minha colega de faculdade, enquanto aguardávamos o professor entrar na sala.

– Em nada, por quê? – Perguntei um pouco assustada, porque estava lembrando de Daniela.

– Você tava olhando pro nada e sorrindo. – Sorriu.

– Ah, é? – Fiquei constrangida. – Nossa, nem percebi.

– Por isso que perguntei. Quem é o boy?

– Não tem boy, você sabe que não sou assim. – Sorri com cara de plenitude.

– Eu sei que um dia essa tua muralha pode vir a baixo, isso sim. – Brincou. – Isso se já não estiver caindo.

– Não tem nada caindo aqui não, nem viaja. – Falei com um tom mais sério, porque aquilo realmente me incomodou.

– Se você diz. – Sorriu.

Não vou ser hipócrita, eu realmente fiquei preocupada com aquela ideia, ainda mais porque já fazia quase um mês e, por mais raro que fosse, às vezes me pegava pensando a respeito, mas pra mim era óbvio que o fazia por causa do que ela me havia feito sentir, pois seria de mau tom dizer que não gostei, sendo que foi um dos melhores sexos da minha vida... e olha que disso eu entendo.

– Fez de novo. – Sussurrou Gabi, do nada, no meio da aula.

– Fiz o quê? – Sussurrei de volta.

– Olhou pro nada e começou a sorrir.

– Tu não acha que ta prestando muita atenção em mim, não? Me deixa. – Sorri, pra amenizar a grosseria e tentar disfarçar meu constrangimento.

– Ta bom, então. – Disse ela sorrindo.

– O que houve? – Perguntou Bia, outra colega nossa e que sentava sempre conosco, também aos sussurros.

– Acho que alguém ta conseguindo fisgar o coração da Yasmim. – Sussurrou Gabi.

– Será, gente? – Brincou Bia.

– Repara só, de vez enquando ela fica suspirando e sorrindo sozinha.

Elas riram, mas tiveram que parar, porque o professor nos pediu silêncio. Eu as olhei sorrindo e, sussurrando, disse:

– Bem feito pra vocês.

Era impossível que isso realmente estivesse acontecendo, ainda mais comigo, em tão pouco tempo, mas dizem que quando o sexo é bem feito, ele gera memórias mais fortes que muitas paixões, então, sei lá, só sei que pensei que era bom mesmo a Daniela não ter mais entrado em contato, já que até as outras pessoas estavam reparando nas minhas reações.

Depois das aulas, fui pra casa correndo, pois tinha um cliente antigo marcado pra dezenove horas, e precisava me preparar. Esse tipo de programa é sempre mais importante do que os primeiros, porque conquistar a fidelidade de alguém, nesse aspecto de retorno, é extremamente importante pra manter as contas em dia, e acho que isso vale pra qualquer tipo de comércio.

Fui pro banho, como de costume, ouvindo minhas músicas sensuais, pra já ir criando um clima interno, como se fosse uma motivação, ou criatividade, ainda mais porque não dava pra contar que isso surgiria durante o trabalho, já que o objetivo de ambos é satisfazer meu cliente e não a mim... na maioria das vezes.

Saí do banho plena, porque é sempre uma delícia esse tipo de preparo, pois você se sente extremamente limpa e cheirosa. Acho que o antes é sempre o melhor momento, principalmente dependendo do tipo de cliente que eu vá pegar, por mais que faça uma seleção prévia.

– "Boa noite, ta livre hoje?" – Me enviou Daniela, pouco antes de sair de casa.

Me sentei, já pronta, no sofá, e fiquei olhando pra notificação daquela mensagem. Me senti confusa, ainda mais me lembrando da zoação que havia acontecido naquele mesmo dia, poucas horas antes, mas precisava tomar uma decisão, por mais complicada que estava sendo.

– "Tive um problema, não vou poder te encontrar hoje." – Enviei pro meu cliente.

Era burrice? Sim, mas foi o que consegui fazer... eu queria gozar.


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