31- Pra Onde Ir

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– Do que você ta falando? – Perguntei já irritada, mas tentando me segurar. – O que foi que eu fiz?

– Você acha que eu não sei? Você acha que não percebi o seu joguinho? O que você queria com isso?

– Com isso o que, exatamente? – Insisti.

Era lógico que não podia sair dando informações de "mão beijada", eu precisava calcular cada palavra que saísse de mim, por mais difícil que estivesse sendo, já que minha raiva era grande. Gabi havia espalhado a meu respeito, mas não pode ter conseguido as provas sozinha e era isso o que mais queria saber.

– Me empurrou pra Dani, sua cliente. – Respondeu ela, com deboche e mágoa no final.

– Mas foi você quem quis conhecer ela. – Retruquei.

– Mas se ela era sua cliente, você não devia ter feito isso!

Como eu poderia dizer que fiz isso porque queria me afastar de Dani e achei que assim seria a melhor forma? Sinceramente, essa brecha me fez me sentir mal, por mais puta que estivesse com a situação, mas mesmo assim não acho que seria motivo pra ela contar pra todo mundo a respeito da minha profissão.

– Como você soube disso? – Perguntei, porque era isso que eu realmente queria saber.

– Dani me contou. – Sorriu, com deboche.

Aquela pequena frase fez meu coração palpitar de forma diferente dentro do peito."Dani me contou.". O meu maior medo estava se tornando real, que tivesse sido justamente quem eu menos esperaria que fizesse isso, até porque ela sabia, mesmo que não profundamente, que aquela informação era pra ser segredo.

– O que ela disse? – Perguntei, arrasada. Gabi sorria.

– Ela me contou que te conheceu há alguns meses num aplicativo. Enfim, eu sei de tudo e só queria olhar pra você e ver sua reação. Agora todo mundo sabe quem você é de verdade.

Gabi saiu do banheiro sem nem olhar pra trás, como quem se sente com o dever cumprido e acho que era isso mesmo, tipo, a vingança estava feita, meu segredo estava revelado e agora eu que lutasse com essa situação. O que fazer com aquela informação? Deveria acreditar que Dani tenha realmente feito isso? O que pensar a respeito?

Me encostei no lavatório, respirei fundo e fiquei pensando, enquanto meus olhos se perdiam em qualquer coisa diante de mim. Não queria acreditar que aquilo havia mesmo acontecido, por mais possível que pudesse ser, porque realmente era, como já falei, afinal, as pessoas sempre são imprevisíveis.

Hoje fico pensando nessa situação e imagino que a expectativa desse embate pudesse até ser outro, mas a vida não é como queremos, mas sim como as coisas simplesmente são, ou seja, não tinha muito o que falar com a Gabi e ela só queria jogar na minha cara o que havia feito... e foi o que fez.

– "To bem, só to processando umas coisas aqui." – Respondi pra Dani.

Como disse, eu não queria ser injusta, então não quis sair falando a respeito do que houve, até porque, mesmo que seja verdade, não sabia com qual intenção esse assunto possa ter sido mencionado e eu, que sou experiente com pessoas filhas da puta, não poderia me deixar levar pela primeira informação recebida.

Respirei fundo e decidi ir embora, mas não por estar fugindo de algum constrangimento, mas sim porque precisava pensar sobre tudo aquilo e, com isso, não conseguiria prestar atenção em nada, fora que os olhares também não me deixariam em paz, nem pra refletir e nem pra estudar.

Tomei o rumo de casa, apreensiva e reflexiva, sem dizer nada pra ninguém e foda-se o que fossem pensar a respeito, pois sabia do que precisava e não era estar ali. Cheguei, tomei um bom banho e, com uma cerveja em mãos, me sentei em meu sofá... na verdade eu tava tão jogada que estava mais deitada, do que sentada.

Minha cabeça fervilhava com aquilo tudo, meu peito se apertava de angustia, mas não conseguia encontrar nenhuma outra possibilidade... havia sido Gabi, mas ela não tem cadastro no aplicativo, então realmente não tinha como ter feito sozinha, ela teve ajuda e a única pessoa que conhecia que pudesse ajudar era exatamente quem menos poderia ter feito isso.

– "Também tenho muitas coisas pra processar." – Respondeu Dani.

Realmente tinha, afinal de contas eu assumi estar apaixonada antes de sair de sua casa e esbarrar com Gabi na porta do elevador, mas fiquei me perguntando se era somente sobre isso que ela tinha que refletir, ou se, de alguma maneira, ela tava tentando me dizer que existia mais coisa do que o esperado.

– "Os últimos dias foram bem loucos." – Falei, instigando.

– "Concordo, muitas coisas pra absorver."

– "Tipo o quê?" – Perguntei de forma mais direta.

– "Ah, tudo, principalmente nossa última conversa." – Respondeu ela.

Confesso que aquela conversa me angustiou mais do que antes, porque ela não tocou no assunto que eu queria e isso me deixar com mil questões em mente. Ela sabia do que tava acontecendo? Ela teve mesmo envolvimento nisso? Ela estava me enrolando? O que estava realmente passando em sua mente?

– "Realmente nossa última conversa foi tensa, ainda mais com a chegada da Gabi logo em seguida." – Comentei.

– "Sim, mas ela não importa mais, é menos uma preocupação na minha cabeça."

Aquela sua ultima frase me deixou ainda mais tensa do que já estava. Como assim era menos uma preocupação? O que tava acontecendo? Por impulso, me levantei e me troquei, peguei minhas coisas e saí. Eu precisava entender o que tava acontecendo e só tinha um lugar pra onde podia ir naquele momento.

– Você aqui? – Perguntou Dani ao abrir a porta.

Eu sorri, como se nada estivesse acontecendo, a abracei, beijei, e disse:

– Eu precisava te ver.


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