24- Destino

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Subi as escadas por dentro do bar, pois os banheiros ficavam no segundo andar, e lá encontrei Dani, que era a última da fila. Nós apenas nos olhamos e não falamos nada. Ela usou o banheiro e em seguida entrei. Fiz o que precisava fazer e me olhei no espelho, enquanto lavava as mãos.

Me olhei nos olhos e senti uma emoções brotar por eles, como se estivesse diante de outra pessoa que sabia exatamente como estava me sentindo com tudo aquilo... até mais do que eu mesma. Respirei fundo. Verdade era que sim, a pessoa do espelho sabia de tudo e acho que foi por isso que, só de olhar, já me emocionei.

Abri a porta e me surpreendi, pois Dani ainda estava por ali, sozinha, já que não havia mais ninguém pra usar o banheiro. Após constatar nossa privacidade, nos olhamos nos olhos, novamente em silêncio, e foi aí que alguma coisa aconteceu e nem sei explicar o que foi, só sei que avançamos uma na outra e nos agarramos com tanta paixão que quase parecia uma violência.

Meu corpo pegava fogo, ele se arrepiava de uma maneira diferente e sim, ficou mais quente, tanto que eu mesma conseguia perceber. Dani me colocou contra a parede mais próxima e me beijou o pescoço. Era como se estivesse enlouquecendo ao toque da sua pele, fosse pela mão, ou por sua boca, mas ali não tinha como ir alem... mesmo que tivesse, eu não devia.

Em um impulso, eu a empurrei e dei alguns passos pra longe, onde tentava respirar e me acalmar. A emoção foi tanto que até me senti um pouco mais sóbria depois daquilo. Eu a olhei e Dani estava, ofegante, encostada na parte onde estávamos antes... bem, ofegante eu também estava.

– Desculpa. – Pediu ela.

– É melhor eu ir embora.

– Espera, Yasmim! – Disse já vindo em minha direção e me segurando por um dos braços. – Você não precisa ir, deixa que eu vou... já ta estranho pra mim de qualquer maneira.

– Como assim? Por que ta estranho pra você?

– Porque não to confortável... eu vim só pra te ver, essa é que é a verdade.

– Mas é a Gabi?

Eu estava surpresa e excitada com o que estava ouvindo, mas precisava de mais detalhes pra conseguir entender. Dani disse:

– Não ta dando certo... eu já esperava por isso, na verdade.

– Fala com mais clareza, desenvolve isso melhor, por favor.

– Eu e Gabi não tá dando certo, ela espera algo que não vou poder dar, ela fica se comportando de uma maneira que me afasta e já falei sobre isso. – Respirou fundo. – Ela é legal, gente boa e tá realmente muito afim de mim, mas não tá afim de MIM! Ela gosta do que criou na cabeça dela, ou dessa aparência "feminina", e não me deixa ser eu... é tão difícil explicar isso.

– Calma... eu to te ouvindo.

Dani parecia realmente angustiada com aquele sentimento e, pelo que parecia, não era algo de uma pessoa só, na verdade parecia uma junção de várias coisas, várias frustrações, talvez, não sei, mas, por mais difícil que fosse pra mim, eu estava realmente tentando entender... parecia ser o que ela precisava.

– Cada pessoa tem seu processo e eu tenho o meu, só que não sei mais o que fazer pras pessoas gostarem de mim por quem eu realmente sou e não pelo que pareço ser, e isso é muito cansativo... eu só quero ser eu.

Seus olhos estavam emocionados, úmidos, por causa de seu desabafo e, sei lá, de alguma forma eu conseguia entender aquele sentimento, porque percebi que ninguém me olhava por quem eu era, então, por mais que os motivos sejam diferentes, assim como o sentimento, ainda assim acho que conseguia entender, por causa de algumas semelhanças.

– Você pretende mudar sua aparência? – Perguntei, séria.

– Não sei... tenho algumas questões a esse respeito, não é algo assim tão simples, mas gostaria sim.

– Tipo o quê?

– Ah... complicado... – Abaixou a cabeça. Me olhou. – eu sei que isso não facilita, eu sei que quando olham pra mim vêem uma mulher, por isso que não dá pra namorar uma lésbica, porque se algum dia eu resolver mudar, acabou o namoro, porque ela tem tesão no feminino e não num cara barbudo, então não dá pra sermos hipócritas, se quero ser respeitado, preciso respeitar também... acho que só não ando tendo sorte, sei lá.

– Respeitado? – Perguntei, me referindo a terminação masculina da palavra.

Dani respirou fundo e disse:

– É... as vezes sai assim.

Me aproximou e o abracei, pois dessa vez era ele quem precisava daquele conforto. Depois nos olhamos e eu disse:

– Eu gosto de você por quem você é.

– Sim. – Me disse emocionado. – Mas você também foi embora.

Dani saiu andando enquanto eu fiquei sem reação ao que tinha acabado de ouvir, porque sim, foi o que fiz, mas meu motivo era outro, o problema era não poder falar dele, por isso travei e fiquei vendo ele se afastar.

– Ah! – Disse ele prestes a descer e me olhando. – Não precisa mesmo me tratar no masculino, eu até prefiro não mexer nisso... pode me dar gatilho e não quero lidar com isso agora.

– Espera. – Pedi.

– Relaxa, to precisando mesmo ir embora, depois a gente se fala... quem sabe. – Sorriu, triste, no final, e desceu.

Meu sentimento era de confusão, ou dúvida, ou sei lá de que, mas era nesse sentido, porque não sabia o que pensar, embora a ideia parecesse simples, era estranho como tinha dificuldade pra definir dessa maneira, mas foi como falei, por mais que minha vivência seja outra, acho que conseguia entender um pouco do sentimento... acho.

Por fim também fui embora, afinal, depois do que aconteceu, não tinha como continuar ali fingindo que tava tudo bem, até porque, não vou mentir, se Dani não estivesse ali, eu já teria ido embora faz tempo, meu único problema foi que, de início, também não conseguia ir, mas, quando finalmente fui, meu destino não era a minha casa.


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