16- Boa Sorte

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Eu precisava me livrar daquele sentimento, então resolvi me arriscar e fazer o que não queria... resolvi aproximar Dani e Gabi. Parece loucura... talvez realmente seja, mas é que havia um desespero surgindo e crescendo, por isso cheguei a conclusão de que, se eu a visse com outra pessoa, quem sabe assim aquele meu sentimento não começasse a desaparecer.

Sei que ainda não comentei, mas sua resposta àquela minha mensagem foi positiva e isso me abalou, ou seja, ela me disse que eu também era alguém especial. Meu peito ardeu, fiquei nervosa, mas tinha que começar meu dia, já que já era de manhã quando vi sua mensagem.

– "Nem te falei, mas minha colega de turma gostou de você e me pediu pra fazer uma ponte entre vocês." – Enviei, ignorando o último momento fofo que havíamos tido.

– "Bom dia pra você também." – Riu. – "Então... não sei o que dizer, to surpresa. Isso foi do dia da Lapa?"

– "Foi." – Respondi, seca e tensa.

– "Me passa o telefone dela, então."

Sua resposta me fez ter um sentimento tão ruim, que nem sei explicar, mas era como se estivesse em crise de ansiedade, ou algo semelhante... sei lá. Enviei o número e larguei meu celular. Comecei a andar pela casa, enquanto minha mente parecia que ia explodir.

Havia um medo terrível de que soubessem de mim, mas essa não era a ideia que mais me consumia. Comecei a imaginá-las juntas, mesmo de olhos abertos conseguia visualizar essa cena. Todo aquele romance. Todas aquelas atitudes fofas. Tudo que mais gostava sendo direcionado pra outra pessoa... mas era disso que precisava.

Voltei e pedi discrição, pedi que não falasse a meu respeito, principalmente sobre o meu ramo de trabalho e sua resposta foi curta e objetiva, me dizendo que não faria isso, deixando em aberto a real possibilidade de haver uma interação entre elas.

Era muito louco me sentir daquela maneira, até porque não me lembro de já ter ficado assim alguma vez, mas não que nunca tenha tido sentimentos por ninguém, a questão é que nunca tinha me sentido daquele jeito e, por mais que pudesse ser o melhor e o certo, tive medo de não mais nos encontrarmos.

Fui pra faculdade dentro da maior normalidade que conseguia, embora houvesse uma grande ansiedade em saber se havia tido alguma troca entre elas, já que não perguntaria pra Daniela, minha esperança era que Gabi mencionasse alguma coisa a respeito... esperança e angustia, diga-se de passagem.

Nos encontramos, mas não falou nada sobre o assunto, então fiquei observando-a durante a aula. De vez em vez, Gabi pegava seu celular e sorria, e isso me angustiava. Minha perna balançava de ansiedade, minhas mãos suavam, mas não queria perguntar, pra não demonstrar algo que não podia.

– "Falou com ela?" – Me enviou Gabi, durante a aula.

Tomei um choque com sua pergunta... o que aquilo queria dizer? Respirei fundo, tentando me reencontrar dentro de mim mesma, e respondi, perguntando:

– "Ela não falou contigo?"

– "Como assim? Você já falou com ela?" – Me perguntou e me olhou.

– "Falei hoje de manhã, dei seu telefone pra ela... achei que vocês já deviam estar se falando."

– "Não recebi nada... será que ela não ta afim?" – Me enviou com uma carinha triste.

– "Não sei dizer, até porque foi ela quem me pediu o seu telefone."

– "Me passa o dela então."

Passei, mas, por algum motivo, senti um alívio tão grande em saber que ela ainda não havia feito contato, não sei o porquê, mas talvez fosse pela ideia dela não ter corrido atrás de outra pessoa logo em seguida. Eu queria perguntar a respeito, mas não sabia como fazê-lo sem demonstrar o que estava sentindo.

– "Depois me conta como foi." – Enviei pra Gabi, em forma de amizade, mas com outra intenção embutida.

Fui pra casa ainda angustiada, mas não mais como antes. Em todo o tempo tentava me convencer de que seria melhor assim, já que não estava conseguindo tomar uma atitude por mim mesma. Eu precisava parar com nossos encontros, precisava me afastar, precisava... terminar... mas não conseguia.

Cheguei frustrada e emocionalmente cansada, como nunca antes. Peguei uma cerveja e me sentei sofá. Fiquei ali, no silêncio da minha sala, olhando pro nada, e processando tudo que estava acontecendo por dentro... uma lágrima escorreu... meu peito ardeu... minha garganta secou.

Sim... eu sabia o que estava acontecendo. Respirei fundo, na tentativa de aliviar a pressão que estava dentro de mim, mas era isso, aquele era o caminho, Daniela precisava desfocar de mim pra que nossa separação acontecesse de forma natural e eu pudesse continuar vivendo minha vida, dentro dos planos que já tinha... mas não era o que eu queria.

É tão conflituoso esse tipo de coisa e não sei porque fazia isso comigo mesma, mas aquilo era uma clara ação de auto sabotagem, só que, do que adiantava alimentar e me iludir, pra no final escutar que ela não ficaria com uma puta... acho que ficar não seria a palavra mais adequada... ela não namoraria uma puta.

As lágrimas escorreram com mais vontade e, sinceramente, não fiz mais esforço pra detê-las, pois entendi que precisava daquele desabafo, já que não havia pra quem fazer, então que fosse assim, no silêncio da minha sala, com minha cerveja em mãos... confesso que, querendo ou não, eu só queria estar naquele abraço que só ela sabe dar.

– "Ela me respondeu." – Me enviou Gabi.

O que dizer? O que sentir? Não sei... olhei pro teto... chorei.

– "Que bom, boa sorte." – Respondi.


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