02- Foi Mesmo

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– "Nunca atendi mulheres, não sei como seria isso." – Enviei, em resposta, sendo bem sincera.

– "Não tem problema, acho que até prefiro assim." – Me respondeu ela.

Confesso que fiquei paralisada sem saber o que dizer, pois gostei de sua aparência na foto de perfil. Daniela era uma mistura de mulher feminina e mulher desfem, embora me parece mais neutra do que qualquer outra possibilidade. É estranho esse tipo de concepção, nem sei como descrever, mas acho que essa definição é a mais aproximada da realidade.

– "Podemos marcar, então?" – Me perguntou, antes que eu falasse alguma coisa.

– "E como seria? Onde seria melhor pra você?"

– "Se não se importar, prefiro te conhecer primeiro. O que acha de me encontrar em um restaurante?"

– "Por mim, tudo bem, mas não se esqueça que eu cobro por hora."

– "Não tem problema, eu vi aqui na sua descrição." – Disse ela. – "Pode ser hoje?"

Eu não entendia o porquê, mas aquilo tava me dando um frio na barriga e uma vontade louca de descartar, mas, ao mesmo tempo, cresceu uma curiosidade absurda, ainda mais porque sua proposta era me encontrar em um local público antes de qualquer outra coisa acontecer, então aceitei.

Era uma quinta-feira, por volta das dezenove horas, quando cheguei no restaurante e fiquei aguardando. Daniela já havia me passado um valor pro custo de transporte, o que me deixou mais tranquila sobre ser algum tipo de enrolação. Olhei ao redor e lá estava ela, com um sorriso discreto e um olhar penetrante.

– Tudo bem? – Me perguntou ao se aproximar.

Trocamos os tradicionais dois beijos no rosto enquanto lhe respondia que estava tudo bem e entramos, pois já havia uma reserva em seu nome. O ambiente era um misto de luxo e simplicidade, ou seja, não era um restaurante muito caro, mas que, ao mesmo tempo, parecia prezar por ambiência e conforto, já que usava luzes amarelas e não muito fortes.

– O que você vai querer comer? – Me perguntou ela.

Eu a olhava com desconfiança, tentando analisar cada um de seus movimentos, até porque poderia sim ser uma cilada, por isso era difícil relaxar, mas tentei sorrir, até porque sorrir fazia parte do meu trabalho, e perguntei:

– Por que você quis vir pra cá?

– Porque queria te conhecer primeiro.

– Entendi. E gostou do que viu?

– Do que vi, sim, mas quero saber um pouco mais sobre você.

– E de onde surgiu esse interesse? – Perguntei, realmente curiosa.

– Um amigo esteve contigo recentemente e tava falando muito bem de você, então pensei que talvez fosse interessante pra mim também.

– E você já fez isso antes?

– Não, essa é minha primeira vez. Mas vamos pedir, depois a gente continua a conversa. – Sorriu.

Acho que era por isso que queria primeiro me conhecer, talvez pela falta de costume sobre esse tipo de coisa. Normalmente não gosto disso, prefiro ir logo pro que interessa e acabar com minhas obrigações, mas fiquei muito curiosa do porquê uma mulher tão bonita estar me contratando pra estar ali com ela.

Pedimos nossa comida e conversamos mais um pouco enquanto esperávamos, falamos sobre sua vida, me contou que trabalha com programação pra uma boa empresa e me mostrou fotos, provavelmente pra comprovar aquilo que estava me dizendo... o que achei muito interessante e de bom tom.

– Mas e você, faz isso a quanto tempo? – Me perguntou ela.

– Há dois anos, mais ou menos. Mas prefiro não entrar muito nesse assunto, não gosto de falar da minha vida, ainda mais pros meus clientes.

– Entendo, imagino que já tenha encontrado muita gente chata.

Eu sorri, com verdade, até porque era desse jeito mesmo, e disse:

– Você não faz ideia.

– Olha, não sei como é no seu ramo, mas gente chata existe em todos os lugares.

– Sim, mas esses são mais complicados, porque acham que podem fazer o que querem só porque estão pagando.

Naquele momento eu paralisei, porque senti que fui sincera demais com alguém que estava ali justamente pra me pagar. Daniela sorriu, pois pareceu realmente achar graça da minha reação, e disse:

– Relaxa, não to aqui pra te julgar e concordo com o que você disse, acho que é uma situação complexa, porque a ideia de estar pagando é justamente por querer que algo seja do seu jeito, mas dependendo de que jeito seja esse, deve realmente ser complicado.

– Bem isso, eu diria. – Sorri, constrangida.

Nossa comida chegou e continuamos a conversar enquanto nos alimentávamos, mas nossos assuntos não se prenderam a nós, pois começamos a falar de coisas variadas, como por exemplo ambientes de trabalho, e me parecia que havia muito mais sujeira debaixo do tapete do que pensei haver.

Terminamos de comer e continuamos a conversar. Ela era cordial, educada e gentil no seu jeito de se expressar, mas nosso tempo estava acabando e percebi que Daniela sabia disso, pois pediu a conta faltando quinze minutos.

Saímos do restaurante e paramos ali, debaixo de uma chuva fraca que caía, e perguntei:

– É isso então? Era isso o que queria?

Ela me olhou com um olhar sedutor, estreitando um pouco seus olhos, e disse:

– Lógico que não é só isso o que quero, mas gostei... gostei de você. Agora você pede seu táxi e eu vou ficar esperando aqui com você.

Foi o que fiz, pedi meu táxi e ficamos aguardando, enquanto seu olhar se mantinha mais sedutor do que havia ficado em outros momentos. Assim que o carro chegou, nos abraçamos, pra nos despedir, mas foi tão bom, que poderia ter ficado mais um pouco ali. Nos olhamos, ainda dentro do abraço, e nos beijamos, com tensão, mas sem afobação.

– Foi um prazer te conhecer. – Disse ela comigo já dentro do carro.

Foi mesmo.


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