Minha atual agonia seria esperar pelo próximo mês, já que nossos encontros estavam sendo assim. Foquei em atender meus demais clientes, tentando fingir que estava adorando estar com eles, mas não que já não fizesse isso no dia a dia, é só que esse sentimento andava mais aflorado do que antes.
Entrei de férias na faculdade e não é que esteja ignorando o fato dos meus colegas terem me questionado sobre aquela noite na Lapa, é apenas a ideia de que não é algo que me importe, ou que mude alguma coisa dentro da minha história... ou será que muda?
Ta bom, eles realmente perguntaram sobre o ocorrido e sobre o meu sumiço, mas inventei uma desculpa qualquer a respeito do meu ex cliente, dizendo que era apenas um cara enrustido, que tentou diversas vezes ficar comigo, e que não se conformava pelo fato de eu nunca ter tido vontade... era uma meia verdade.
O mais difícil foi enrolar Gabi, que parecia mais decidida em entender o que tava acontecendo, principalmente a respeito de Dani. Pra ela, sobre isso, disse que já a conhecia sim, do trabalho, e que, por coincidência, ela também conhecia o tal sujeito, já que aquilo era bem óbvio.
Ela não pareceu acreditar completamente na minha história, embora fosse bem aproximada da verdade, e digo isso, pois sua fisionomia era de desconfiança. Quando encerramos o período, eu dei graças a Deus, já que ganharia tempo pra que essas coisas caíssem no esquecimento.
Falando assim parece que não considero as pessoas ao meu redor, mas é que me fodi tanto e de tantas maneiras, que fica difícil permitir que as pessoas façam parte da minha intimidade, ainda mais tendo a profissão que tenho... não é todo mundo que compreende, ou simplesmente respeita, existe muito julgamento e pregação contrária.
Acredito que cada um saiba da sua própria vida e que não devemos nos intrometer, isso, é claro, me referindo a coisas que não afetam pessoas inocentes, mas, no meu caso, somos todos adultos e donos de si, então não vejo nada demais em estar vendendo algo que me pertence... alugando, no caso.
Acho que essa era uma das coisas que gostava em Daniela, pois nunca senti um tratamento diferenciado por eu ser quem sou, pelo contrário, sempre me tratava com respeito, e até com carinho, o que era incomum, mas não porque esse tipo de coisa nunca aconteça, isso é apenas diferente do dia a dia.
Pra ser mais clara, na minha semana, eu costumava atender quase todos os dias e, como já mencionei, às vezes mais de um cliente, dependendo da disposição que eles tivessem, pois sabemos que algumas pessoas são muito rápidas e mal fazem cosquinha, já existem outros que demoram, então, se souber administrar, dá pra deixar todo mundo feliz e ainda lucrar um bom dinheiro.
Não sei se já disse, mas não falo isso estimulando alguém a trabalhar com o que trabalho, até porque, como já expressei, existem muitos contras, ou seja, existem muitas coisas que são realmente desagradáveis, sem dizer que não é fácil ficar transando sem querer transar.
Como entrei de férias, aumentei um pouco o meu número de clientes por dia, o que era muito difícil, pois me cansava mais, mas me trazia um bom retorno financeiro e, se soubesse administrar, se tornava útil pras contas do meses seguintes. Trabalhar por conta própria não era algo fácil, mas já tentei trabalhar com representantes, o problema era o olho grande dessas pessoas em cima de um esforço que era meu.
– "Você ta bem?" – Me enviou Daniela, no meio das minhas férias.
– "to bem e você?"
– "Tudo bem. Não quero quebrar o protocolo, mas é que me deu vontade de te dar um oi e saber como você ta."
De fato aquela era uma interação que quebrava as minhas regras, mas como era um dia de folga, usei esse pensamento de desculpa pra não me importar em fazer uma "inocente" interação. Seria realmente inocente? Até porque continuava me alimentando de minha curiosidade e pesquisando mais coisas a respeito daqueles temas nunca antes pensados.
– "Hoje é sábado, né. Você quer fazer alguma coisa?" – Perguntei, pensando em passeio.
– "Não recebi ainda."
– "Não to falando de programa, não, to falando de dar uma volta... como amigas."
– "É engraçado pensar na gente como amigas." – Riu.
– "Verdade, mas hoje to de folga, imagino que você também esteja."
– "Quer dar uma volta na Lagoa? Ainda ta cedo, acho que dá tempo."
– "Topo."
Me levantei do sofá, onde estava desde cedo, e fui tomar um banho. Me arrumei de forma mais comportada, ou seja, camiseta, short e tênis, já que era um passeio ao ar livre e não um programa sexual, sem dizer que o sol finalmente tinha aparecido. Peguei minhas coisas, coloquei em uma bolsa simples e saí.
Durante o caminho fiquei me perguntando sobre o que estava fazendo, porque aquilo ia além de uma simples quebra de protocolo. Eu sabia o que tava acontecendo, mas, por algum motivo, permanecer em negação estava sendo a melhor das opções, embora não parecesse ser a mais inteligente.
Eu sei que não sou uma das pessoas mais simpáticas do Mundo, ainda mais com as experiências de vida que tinha. Normalmente, na minha profissão, é cada um por si e Deus por todos, mas acho que tava começando a me cansar da solidão a qual me afundei por pura proteção.
De qualquer maneira, voltando pra situação, eu fui, enquanto tentava me convencer de que não havia nada demais no que estava fazendo. Como disse, pensei nisso durante todo o trajeto e, principalmente, em uma das regras mais que fundamentais de todos que trabalham com sexo: não se apaixone por seus clientes... "homem foi feito pra sentar, não pra amar", já diz a frase tradicional... mas e Daniela?
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Cap novo toda sexta
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LGBT - Encontros
RomanceYasmim é uma jovem garota de programa que se deparou com algo inusitado depois de seus dois anos de profissão. Ela conhece Daniela, uma pessoa diferenciada e que, sem perceber e querer, começa a envolvê-la em uma mistura de tesão e paixão. Mas por q...