29- Eu Pago

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– Claro que não. – Respondi tentando sorrir e fingir normalidade. – Já to indo embora.

Não a toquei, nem pra abraçar e muito menos pra beijar, porque não me senti nada a vontade com aquela situação. Seria falsidade da minha parte fazer isso? Agi como se estivesse com pressa, o que não era mentira, passando por ela e entrando no elevador enquanto a ouvia dizer:

– Tudo bem, amanhã a gente se vê então.

Disse tchau enquanto a porta se fechava e senti uma mistura de alívio com preocupação durante a descida. A sensação era como fugir de um problema, mas que ao mesmo tempo não estava resolvido, pelo contrário, ele tinha cara de que estava apenas começando, ainda mais pela cara que Gabi fez ao nos encontrar no corredor.

Saí pela portaria angustiada e pensando em como o porteiro já poderia ter deixado ela subir sem nem perguntar primeiro se podia, mas, enfim, eu fiz o mesmo pouco tempo antes, então era complicado. Já na rua optei por pegar um ônibus, até porque não estava com paciência pra esperar e milagrosamente ele já estava parado no ponto.

Me sentei sozinha e fiquei olhando pra janela. Fiquei me perguntando sobre o que poderia estar acontecendo depois que fui embora. Será que Dani seria capaz de fingir que nada aconteceu e tratá-la com normalidade? Isso seria muito estranho e não parecia ser o tipo de coisa que ela faria. Faria?

Me afundei na cadeira e senti minha mente viajar ainda mais do que já estava, mas não tinha o que fazer, até porque não acho que Dani havia marcado alguma coisa com ela e isso me fez pensar que o que Gabi fez foi dar um bote, ou seja, ela devia estar desconfiada de algumas coisa e apareceu pra ter certeza.

Não vou julgar, já fiz tanto isso e paguei minha língua, mas que é estranho é, até porque elas não tinham um relacionamento, sem dizer que fazia pouco tempo que haviam começado a ficar, mas sei lá, às vezes a expectativa era tão alta, que o tempo era apenas um mero detalhe, não sei.

Só sei que cheguei em casa ainda processando nossa última conversa... eu assumi que estou apaixonada, falei isso em voz alta e o fiz pra pessoa que era o motivo daquele sentimento. Meu coração parecia que ia explodir, tanto por medo, quanto por tesão, porque sim, aquela ação me deu muita vontade de ficar em seus braços.

Tomei meu banho e me deitei em meu sofá, ainda era cedo e sabia que não conseguiria dormir. Fechei meus olhos e revivi aquele momento quinhentas vezes, uma atrás da outra. Meu peito se apertava em angustia, mas a realidade era aquela, por mais que tivéssemos assumido nossos sentimentos, ainda haviam questões entre nós que tornavam tudo mais complicado.

– "Você ta bem?" – Me enviou Dani.

– "Nem sei o que dizer. Gabi ainda ta aí?"

– "Não, ela já foi."

– "E ficou tudo bem? Ela pareceu desconfiar da gente." – Perguntei realmente preocupada.

– "Então, não assumi nada, mas acho que ela entendeu sim. Na verdade a gente sentou pra conversar, primeiro porque não gostei dela aparecer assim do nada, ainda mais porque quando me ligou ela falou de vir e eu disse que tava ocupada, sem falar meus motivos."

– "Ah, então ela entendeu sim."

Era óbvio que sim, ainda mais depois dessa, porque se a pessoa vira pra mim e diz que eu não posso aparecer porque ta ocupada e, quando eu chego, tem outra mulher na casa dela, então não há muito o que dizer, por mais que ela pensasse que éramos amigas, sei lá, acho meio difícil não levar essa hipótese em consideração, mesmo que não haja confirmação verbal.

– "Com certeza." – Respondeu Dani.

– "O que mais você falou com ela?"

– "Eu meio que terminei o que tinha, porque, enfim, já era o que queria mesmo."

Saber disso me deu um sentimento de alegria, não vou negar, mas continuo dizendo que era complicado por causa das circunstâncias e não falo isso em tom de critica, porque eu super entendo o problema, afinal, quem gostaria de namorar uma pessoa que transa com outras pessoas o tempo todo, seja por dinheiro ou não? Não posso ser hipócrita, isso é um fator complicado.

– "Não fez isso por minha causa não, né?" – Perguntei.

Eu tinha que perguntar, ainda mais depois do que falamos antes desse tal "término". Dani me respondeu, dizendo:

– "Não, isso já era algo que queria fazer desde antes."

– "Entendi. Bem, preciso dormir, depois a gente se fala melhor."

Encerrei o assunto porque sabia que o nosso surgiria a qualquer momento e não me sentia bem pra falar a respeito. Fui pro quarto, mas não conseguia dormir, ainda mais com essas novas informações. Dani terminou com Gabi e isso me gerava um misto de emoções, por mais que tenha sido eu quem proporcionou essa aproximação.

É muito louco tudo isso, a ideia de ter definido o que é melhor, mas mesmo assim se sentir feliz por aquilo ter dado errado. Definitivamente eu não era mais a mesma pessoa, não tinha como ser, não importava o que tentasse fazer pra disfarçar, ou pra tentar voltar, não havia jeito... eu estava mudando, só não sabia se isso era bom.

No dia seguinte tentei seguir minha vida com a maior naturalidade possível, fingindo que nada havia acontecido, porque acho que é isso que adultos fazem, a gente ignora problemas, joga pra debaixo do tapete, e tenta seguir, mesmo sabendo que nossos problemas ainda estão lá, prontos pra serem revirados, e o meu foi.

Fui pra faculdade e percebi olhares diferentes das pessoas na minha direção, até porque eles vinham acompanhados de sorrisos maliciosos e isso logo despertou meus gatilhos. Cheguei na minha sala e tudo continuava estranho, até que um dos meus colegas se aproximou e, no meu ouvido, perguntou:

– Quanto você cobra? Eu pago.


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Cap novo toda sexta

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