– O que você quer dizer? – Perguntei.
– Queria saber como você ta?
– Não foi por isso que você veio aqui, foi?
– Vim trazer a Gabi e fiquei te esperando.
– Ah sim, claro, a Gabi.
– Sim, a Gabi. – Respondeu, ela.
– Sinceramente não quero saber sobre isso.
– Você ta com ciúme?
Aquela pergunta foi como um choque de realidade, porque, se ela estava querendo saber sobre isso, então significava que estava visível o que eu estava sendo àquele respeito e isso não era bom, ao menos não pra mim e, principalmente, pro meu ego, tão pouco acostumado com esse tipo de coisa.
– Não tenho motivo pra sentir ciúmes. – Respondi tentando disfarçar.
– Tudo bem, entendi errado então.
– Enfim, eu to bem e você?
– Eu to com saudade de você.
Seu olhar era misterioso, acompanhado por sua fisionomia séria... era como se houvesse muito mais coisas a serem ditas, ou que, talvez, esperasse algo recíproco depois daquela frase. Na verdade eu também sentia sua falta, isso era óbvio, ao menos pra mim, mas não podia voltar atrás.
– Não faz isso. – Disse. – Foi justamente por isso que precisei parar.
– Tudo bem, mas eu precisava te dizer e queria fazer isso olhando nos seus olhos.
– Você ta com a Gabi.
– E você se importa com isso?
– Deveria? – Sorri, tentando ser insensível. – Acho que quem tem que pensar nisso é você.
– Verdade... mas mesmo assim queria saber.
– Olha, eu acho que essa conversa não vai chegar a lugar algum, então talvez seja melhor você ir embora, eu to atrasada e preciso subir.
– Por que você ta falando assim comigo?
– Assim como?
– Você nunca falou dessa maneira.
Eu sabia sobre o que ela tava falando, porque estava fazendo de propósito, o que tava sendo bem difícil, confesso, mas não tinha como ser de forma diferente, pois precisava fazê-la ir embora antes que pulasse em seus braços ali mesmo, diante de todos que passavam pela rua.
– Acho que te acostumei mal, então. – Falei.
– Pode ser.
– Você não deveria estar trabalhando? – Perguntei por causa do horário.
– Sim, mas entrei de férias.
– E Gabi tava na sua casa?
– Sim, dormiu lá.
Minha mente criativa viajou com aquela informação. Ela dormiu ela... elas transaram essa noite. Era como se conseguisse ver, as duas juntas, braçadas no pós sexo. Conversas e risadas, olhar adocicado, momentos fofos, momentos quentes. Como era ruim pensar naquelas coisas, mas não conseguia não fazer... era mais forte que eu.
– Que ótimo, fico feliz. – Menti.
– Enfim, fico feliz que esteja bem.
Dani começou a caminhar pra longe e isso me deu um sentimento estranho, como se fosse uma ansiedade, sei lá. Por impulso, perguntei:
– Ta gostando?
Ela parou, se virou pra mim e perguntou:
– De quê?
– Da Gabi.
Houve um breve silencio enquanto apenas nos olhávamos. Dani respondeu:
– É muito cedo pra dizer.
– Ela é bonita e ta muito afim de você.
Dani se aproximou novamente e, ainda com sua expressão séria, disse:
– Ela gosta do que vê, ou do que imagina a meu respeito, mas não sei se vai gostar de quem eu realmente sou... não costumo ter muita sorte com isso.
Suas palavras me tocaram o coração de uma maneira diferente, tanto que acho que, por um instante, baixei a guarda. Seus olhos estavam mais emocionados, embora não escorresse nenhuma lágrima. Eu sabia que havia uma dor por detrás de suas palavras, mas não entendia a quê se referia... falei:
– Gosto de quem você é.
– Você também não sabe, embora saiba muito mais que muita gente. – Sorriu... um sorriso triste.
– E quem você realmente é?
– Todos temos nossos segredos, você esconde sobre o seu trabalho e eu escondo quem eu sou... pode parecer idiota, mas nem todo mundo namoraria comigo.
– Eu não consigo entender, porque não vejo nada de errado em você, ainda mais sobre namorarem ou não contigo... eu sou puta, você acha que alguém namoraria comigo?
– Eu namoraria.
Eu ri... ri por diversos motivos, mas eu ri.
– Vou fingir que acredito nisso. – Falei.
Com ainda mais seriedade, Dani disse:
– O Mundo ta cheio de putas e putos, gratuitos inclusive, então foda-se se você é puta porque o mais difícil hoje é ter conexão, ou amar as pessoas por quem são e, no meu caso, não é qualquer mulher, seja lésbica ou hétero, que vai me amar genuinamente.
– Por quê? – Insisti.
– Porque eu sou trans... – Respirou fundo. – eu sou um homem num corpo de mulher.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Dani foi embora, mas desta vez não consegui fazê-la ficar... fazê-la? Pois é... fiquei confusa, por isso não falei mais nada. Dani era trans, mas o que é uma pessoa trans? O que isso significava pra... ele? O que isso significava pra... mim?
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Cap novo toda sexta
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LGBT - Encontros
RomanceYasmim é uma jovem garota de programa que se deparou com algo inusitado depois de seus dois anos de profissão. Ela conhece Daniela, uma pessoa diferenciada e que, sem perceber e querer, começa a envolvê-la em uma mistura de tesão e paixão. Mas por q...