08- Te Aviso

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Eu estava bêbada, afinal estava há algumas horas bebendo, então entendia que precisava pensar bem antes de falar qualquer coisa, pra não me comprometer e acabar falando demais pra uma pessoa que era apenas minha cliente. Aquela era a minha visão, Daniela era apenas mais uma da minha lista, embora que, no fundo, houvesse uma outra classificação surgindo.

– Toma, come. – Disse ela, ao colocar uma bandeja, com nossos lanches, sobre nossa mesa.

– "Brigada" pelo seu cuidado, não precisava. – Disse enquanto abria meu sanduíche.

– Relaxa, eu sou assim.

– Sim, mas é exatamente por ser assim que você merece o meu agradecimento. – Sorri.

– Ta bom, vou aceitar. – Sorriu. Ficamos em silêncio por um instante. Daniela perguntou. – Quem era aquele pessoal com você?

– Colegas de faculdade. – Respondi sem pensar muito e fiquei apreensiva.

Acredito que minha fisionomia mudou ao dar aquela resposta, pois ela sorriu e disse:

– Não precisa me contar o que você não queira contar, ta tudo bem.

Respirei fundo e perguntou:

– Entende que é complicado ter esse tipo de interação?

– Bom, vendo a reação do Wagner, entendo que sim... deve ter muita gente sem noção no seu dia a dia.

– Muita.

– Por isso entendo quando você não quis que eu te deixasse em casa e etc. Você precisa se preservar sim.

– Já tive muita dor de cabeça. – Confessei.

Juro que tentava fazer o que falei, mas ela tinha alguma coisa que me fazia me sentir confortável pra desabafar certos sentimentos, sem dizer que ainda estava sob efeito do susto, além do álcool. Daniela era o tipo de pessoa confortável e acolhedora, por mais que tivesse uma atmosfera enigmática e fechada... era uma mistura gostosa de se ver.

– To zonza. – Falei, pausando o meu lanche e levantando a cabeça pra respirar.

– Deve ser porque você tava bêbada quando o estresse aconteceu, então come devagar, daqui a pouco melhora e eu to aqui com você.

– Mas e seus amigos? Não vão ficar putos por você ter sumido comigo?

– Não me importo, mas, de qualquer forma, depois eu invento uma desculpa e ta tudo certo.

– Não lembro se te perguntei, mas eles sabem da gente?

– Não sabem, ainda mais com o Wagner obcecado por você. – Sorriu. – Eu não sou tão íntima deles, então tem muita coisa que prefiro guarda só pra mim e você é uma delas.

– É quase um romance proibido. – Brinquei.

– Quase isso sim. – Sorriu. – Mas, me conta, se quiser, existem outros clientes simpáticos como eu?

– Sempre tem, mas prefiro não aprofundar muito pra não dar merda, porque já me decepcionei com muita gente que parecia legal.

– Então é raro isso que estamos fazendo aqui?

– Muito. – Sorri, enquanto voltava a comer.

– Vou tentar não me sentir especial. – Brincou, sorrindo.

– Não faça isso, se não vou ter que parar de te encontrar.

– Não ta mais aqui quem falou. – Brincou.

Nos olhamos, em silêncio, sorrindo, pois era engraçada aquela ideia, além de verdadeira, de que era muito raro isso que eu estava fazendo, embora foi desde o começo, me lembrando do primeiro dia, que foi sem sexo, onde nos encontramos em um restaurante, tipificando realmente um encontro.

– Ta melhor? – Me perguntou.

– To ficando. Mais uma vez "brigada".

– Não tem de quê.

Peguei meu celular e havia milhares de mensagens dos meus colegas me perguntando onde estava e se estava bem. Respondi apenas pra Gabi dizendo que sim, pois era a pessoa mais próxima, então avisei que conheço Daniela e que saímos dali pra comer algo e espairecer, mas que tava tudo bem e que já ia pra casa, porque não tinha condições de voltar depois do que houve.

– Você nem tocou no seu sanduíche. – Comentei.

– Tava preocupada com você, depois vou comer, vou pedir pra botarem pra viagem, acho melhor, sei lá.

– Então já pede, porque acho que já vou embora.

– Tem certeza que ta bem pra ir embora sozinha? De verdade, não to perguntando pra me infiltrar na sua vida não.

– To sim, já fiz coisa pior nessa vida. – Brinquei. – Já consigo ir embora sozinha sim.

Daniela pediu pra embrulharem seu lanche e assim que retornaram, fomos pro lado de fora, onde ficamos aguardando meu carro de aplicativo chegar. Em todo instante, ela ficou ali, aguardando junto comigo, e parecia tensa, olhando ao redor, provavelmente preocupada pra que não acontecesse mais o que houve... sei lá.

Meu carro chegou e nos olhamos, por um longo segundo. Nos abraçamos. Que abraço gostoso era aquele. Nos olhamos e nos beijamos. Era um simples selinho, repetido umas cinco vezes, mas era. Abri a porta traseira, mas antes de entrar, ela me disse:

– Queria poder te pedir pra me avisar quando chegasse, mas sei que isso foge do tradicional, então só espero que você chegue bem.

Seu olhos eram tão sinceros que aquilo fez arder meu peito. Soltei a porta, a abracei novamente, lhe beijei e, sorrindo, disse:

– Te aviso quando chegar, me avisa também.

– Aviso.

Pois é... nós realmente avisamos.


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