12- Eu Deveria?

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Dormimos juntas, emboladas e, por mais que não tenha sido extremamente confortável, ao mesmo tempo foi uma delícia passar a noite daquele jeito. Nem me lembro quando foi a última vez que fiz isso, mas preferi não pensar muito a respeito e só vivenciar o que estava acontecendo.

Esse era o problema, pois havia uma mistura de que aquilo não deveria ser assim com o desejo de simplesmente deixar rolar. Minhas regras estavam sendo quebradas, passo a passo, e eu sabia, mas o sentimento estava sendo mais forte e não estava conseguindo evitar, como costumava fazer.

No dia seguinte, domingo, acordei antes dela e, a princípio, me senti perdida, por não reconhecer onde estava. Olhei ao redor, um pouco assustada, mas logo me lembrei, principalmente quando a vi ao meu lado. Seu quarto ainda estava escuro, por mais que entrasse um pouco de luz pela lateral da cortina.

Me levantei, tentando não despertá-la, e saí. Fui até o banheiro, fiz o que precisava fazer e, quando saí tive a sensação de estar me localizando. Olhei ao redor, pois agora sim estava prestando atenção, e achei seu apartamento bem legal. O lugar era bom, não era nem pequeno e nem grande, ou seja, ele tinha o tamanho ideal pra alguém que morava sozinha.

Fui até a cozinha, peguei um pouco de água e me encostei na pia. Vários pensamentos me tomavam de assalto, mas não havia o que pudesse fazer, pois já estava ali e tudo já tinha acontecido... não tinha como voltar atrás. O que fazer? Como agir? Deveria ir embora, ou esperar que ela acordasse?

Minha vontade era tanto de ficar, quanto de voltar pra casa, isso tudo movido pela confusão que nascia dentro de mim. Como já disse, eu sempre fui uma pessoa muito livre e sempre fiz o que me dava vontade de fazer, mas sei que muitas das coisas também tinham um sentimento de auto proteção.

Enquanto refletia sobre tudo, ainda na cozinha, Daniela surgiu. Ela sorria, mesmo parecendo um pouco constrangida, ou talvez receosa, até porque não sei por quanto tempo já estava parada na entrada daquele cômodo. Nós nos olhamos por um breve segundo. Meu peito ardeu e meus pensamentos foram substituídos pela constatação de sua beleza... eu sorri.

– Ta aqui há muito tempo? – Perguntei.

– Parei aqui quase agora. Ta tudo bem?

– Ta sim. – Menti. – To só acordando, tomei um susto quando não reconheci seu quarto, faz tempo que não faço esse tipo de coisa.

– Você tem uma regra sobre não dormir com clientes, não é?

– Tenho, porque não gosto, e porque algumas pessoas podem confundir as coisas, e isso se torna complicado.

Daniela se aproximou e nos abraçamos, sem nada dizermos, enquanto mantínhamos o silêncio. Não sei por quanto tempo ficamos assim, mas era tão bom, que mal consigo descrever, principalmente sobre o conforto que seus braços me causavam. Talvez esses pequenos detalhes sejam parte do que estava me confundindo... será que estávamos criando conexão?

É óbvio que Daniela não era mais uma pessoa qualquer pra mim, independente do que realmente estivesse sentindo por ela, e não precisava ser um gênio pra perceber isso, ainda mais levando em consideração as últimas atitudes que tive por causa dela, não só daquela noite, mas também me referindo aos outros encontros.

– O que quer fazer? Se quiser ir embora, tudo bem, eu vou entender, mas, se quiser ficar, será um enorme prazer pra mim. – Disse ela, me olhando com um sorriso fofo.

– Você não facilita, né. – Brinquei.

– Ué, por quê? – Sorriu. – Não to fazendo nada.

– Acho que esse é problema, – Ri. – da pra ver que é natural... você é muito fofa.

– Não sei se sou, mas acho que tento. – Sorriu.

– Eu não sei o que quero fazer, só sei o que deveria fazer.

– Então você sabe o que quer fazer. – Rebateu, sorrindo.

– Como assim?

– Você classificou o ir embora como dever, então pra parte do "querer" só restou uma opção... você quer ficar, só acha que não pode.

Aqueles olhos... aquele sorriso... aquele jeito fofo de agir e falar... tava realmente difícil agir com a razão, ainda mais com ela ali, envolvida em meus braços, me olhando olho no olho, mas eu sabia o que tinha que fazer, por mais que não fosse mudar de imediato o que tava acontecendo dentro de mim.

– Preciso ir. – Disse, frustrada enquanto tentava sorrir, pois queria amenizar a situação.

– Sim senhora, senhora.

Daniela começou a me soltar ao me responder, mas eu a segurei e a puxei pra mim e nos beijamos. Voltamos pro quarto assim, agarradas, e transamos novamente, até porque não sabia quando iria vê-la novamente, ou se iria haver um próximo encontro, pois precisava pensar, por isso me permiti senti-la, mais uma vez, antes de ir embora.

Tomamos banho juntas, também entre safadezas e higiene, o que dificultava ainda mais a decisão que havia tomado, mas era o que precisava fazer... era o que tinha que fazer, voltar pra minha casa, pra minha vida, e conseguir neutralizar aquele sentimento que estava queimando dentro do meu peito.

Por fim, Daniela me levou até a porta, a qual ela fez questão de abrir e dizer:

– Como dizem por aí, eu abro a porta pra que você possa voltar outras vezes.

– Você já abriria independente disso. – Brinquei.

– Isso é verdade, mas também é verdade que quero que você volte.

Segurei seu rosto com ambas as mãos e lhe beijei, como se aquela fosse a última vez e saí, mas é lógico que ela ficou esperando o elevador comigo e novamente abriu a porta pra mim. Fui embora, como era pra ser, mas com um turbilhão de emoções explodindo dentro de mim... ela abriu a porta pra que eu voltasse outras vezes... eu deveria voltar?


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