23- Fica Tranquila

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Como dizem por aí: "sextou". E nesse dia fui pra faculdade, como de costume, mas a galera tava animada e começaram a me perturbar pra sairmos à noite, já que nossa aula terminava no começo da mesma. Relutei, até porque Gabi era uma das mais eufóricas e, como andava ficando com Dani... já viu.

Convencida, me rendi a insistência deles, ainda mais porque sentia que também precisava espairecer, mesmo que houvesse medo de como isso iria ser, ou sobre o que poderia vir a acontecer, mas fui, um pouco apreensiva, mas me venceram e, ao final da tarde, saímos juntos pra um bar.

Conversas, risadas e zoações... era disso que necessitava, de verdade. Por muito tempo vivi pensando que não precisava de ninguém, mas não é que fosse uma mentira, eu realmente me sentia daquela maneira, ou seja, aquele era um sentimento sincero, só que não andava mais sendo assim.

Chegar em casa e ficar sozinha não era mais o melhor dos Mundos pra mim, e nem sei explicar o porquê disso, só sei que comecei a me sentir diferente a esse respeito. Talvez, por ter começado a acessar novos sentimentos, essas coisas também começaram a mudar dentro de mim... era uma hipótese.

Enfim... tudo corria bem até que aconteceu o que já esperava... Dani chegou. Todos olharam com um olhar apreensivo, pois devem ter se lembrado da Lapa, mas Gabi se adiantou em dizer que estavam juntos, ou juntas.

Eu a olhei através do álcool, pois já estava no começo de uma embriaguez, e concluí que estava ainda mais linda do que antes. Seria a saudade? Não sabia, mas com certeza era, pois meu último sexo de qualidade havia sido com Dani e isso era inegável, mas não pela performasse, a questão era o contexto inteiro... que era perfeito.

Nos abraçamos, até mesmo pra disfarçar, e seu cheiro me penetrou a alma. Como eu sentia falta de estar em seus braços. Era inexplicável a sensação, ainda mais depois de tanto tempo sem sentir. Por sinal, acreditava estar melhor, achei já estar superando, mas naquele momento percebi que não era bem assim.

– Bom te ver. – Me disse Dani, em meu ouvido.

Sua voz me fez arrepiar. Olhei em seus olhos e, tentando sorrir, disse:

– Digo o mesmo.

Eu queria poder me expressar melhor sem revelar o que realmente sentia a respeito, tanto pra me preservar, quanto pra não confundir ninguém sobre o que havia entre nós... não queria que Dani percebesse minhas emoções... não queria que entendesse algo que eu não pudesse sustentar depois, mas era difícil.

Fiquei afastada o resto da noite, conversando com outras pessoas e negando uma cantada aqui e outra ali. Falando assim parece que sou o centro das atenções, mas não é sobre isso, eu apenas me refiro a fatos, pois são coisas que realmente acontecem, ainda mais entre os rapazes da faculdade.

Naquela noite não queria ficar com ninguém... sei lá, me bateu um sentindo estranho depois de abraçar Dani, era como se tivesse ficado triste, ainda mais vendo Gabi pendurada em seu pescoço boa parte do tempo. Nós trocávamos olhares, não era o tempo todo, mas acontecia... com uma certa frequência.

– Como andam as coisas? – Me perguntou ela, em um momento em que Gabi saiu pra ir no banheiro.

– Tudo bem e você?

– Tudo bem.

– Que bom. – Sorri, mas estava sem graça.

Nós costumávamos ter tanto assunto, mas agora parecia uma missão quase impossível conseguir interagir sem pausas estranhas. Não me lembro de já ter me sentido exatamente daquele jeito e isso só me fazia ter ainda mais certeza de que minha decisão era a mais sensata... por mais difícil que fosse.

– Eu sei que não é o melhor momento e lugar pra perguntar isso, mas só pra eu entender, eu tenho que te tratar no masculino? – Perguntei, da maneira mais discreta possível.

– Não precisa, de verdade, comigo não precisa.

– Mas por quê? Eu andei vendo que tem muito disso.

– É porque no meu caso eu não me importo, não é que não queira ou ache que é mais certo ou mais errado, só é uma necessidade minha do momento, tipo, nesse momento eu prefiro não pensar a respeito, então não faz diferença pra mim, aí eu prefiro deixar em aberto.

– Entendi, acho. – Sorri.

Dani sorriu e me olhando com um brilho diferente nos olhos, disse:

– Já fico feliz de você ter se importado em perguntar.

Me senti hipnotizada, por um breve momento enquanto suas palavras era proferidas, mas Gabi voltou e se juntou a nós. Era tão bizarro vê-la chegando e abraçando Dani pela cintura, mas o mais estranho era não ver, ou sentir, uma certa reciprocidade... na verdade parecia haver um desconforto.

– Você quer alguma coisa? – Perguntou Gabi pra Dani.

– Não, não, to de boa. – Respondeu parecendo tentar sorrir.

– Tem certeza? Eu posso pedir algo pra você comer.

– Fica tranquila. – Sorriu novamente. – Vou no banheiro também.

Sabe quando você assiste algo com um olhar mais observador? Pois é, o que tinha acabado de acontecer havia sido muito estranho pra mim, porque nunca vi Dani agindo e reagindo daquele jeito, mas o pior é que Gabi parecia não perceber, pois continuou com a mesma energia e foi conversar com um de nossos colegas, que estava bem ao seu lado.

Olhei Dani se afastar, caminhando por entre as pessoas, e fiquei me lembrando de quando me disse que era mais difícil pra ela encontrar alguém que a amasse genuinamente por quem é e do jeito que é. Respirei fundo e senti um leve ardor sobre meu peito. Eu poderia ficar parada e fingir que nada havia acontecido? Poderia. Foi o que fiz? Não... afinal, eu também precisava ir no banheiro.


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