30- Traidora

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– Do que você ta falando? – Perguntei, tentando me fazer de idiota.

Ele pegou seu celular e me mostrou uma foto direto do aplicativo que uso pra divulgar meu trabalho e, por mais que lá tenha um reforço quanto a nossa privacidade, é lógico que todo sistema é falho. Alguém acessou a plataforma, abriu o meu perfil e tirou uma foto, de outro celular, pois não seria possível de outra maneira.

– Qual o seu preço? – Insistiu ele enquanto sorria.

Fiquei em silêncio, pensativa, porque eu poderia dizer que era mentira, que aquilo era falso, mas, sinceramente, meu momento atual não era mais como da outra vez. É tão bom quando nossa realidade é outra, por mais delicado que fosse aquele assunto, e digo isso me referindo às minhas necessidades.

Quando aconteceu da outra vez eu ainda estava no começo da minha profissão, ou seja, minha condição financeira era muito inferior a atual, e isso me tornava muito dependente e muito preocupada com a aparência que uma notícia assim poderia causar. Como disse, não é que hoje, ou naquele momento, isso não fosse importante pra mim, só não era mais como antes, porque eu não era mais a mesma pessoa inexperiente.

Existem acontecimentos que vem pra nos derrubar e outros que vem pra nos mostrar o quanto evoluímos ao longo do tempo. Falando assim parece que nada mais me abalava, o que não era verdade, até porque era a primeira vez que acontecia depois do último ocorrido, então ainda havia um certo trauma a ser trabalhado.

Enfim, aquele rapaz já havia me paquerado muitas vezes e, em todas, o havia rejeitado, então vê-lo se comportar daquela maneira me deu um sentimento ainda maior de repulsa. Eu o olhei nos olhos com muita seriedade, enquanto digeria o meu ódio e, tentando sorrir em deboche, disse:

– Pra você eu não dou nem pagando. Me dá licença.

Me levantei e sai de sala, fingindo que nada daquilo estava me afetando, fui pro banheiro, me tranquei em uma das cabines e respirei fundo. Havia uma enorme confusão na minha mente e uma vontade louca de ir embora pra nunca mais voltar, mas, como disse, eu não era mais a mesma pessoa da outra vez... eu só precisava respirar um pouco sozinha.

Fiquei me perguntando como aquilo poderia ter vazado justamente dentro da minha faculdade. O aplicativo que uso exige uma assinatura, de baixo valor, pra que seja acessado e, normalmente, isso já é uma forma de filtrar as pessoas que entram e vêem nossas informações... não é qualquer um que paga mensalidade em uma plataforma de puta.

Depois dessa etapa temos o primeiro contato, que também é feito depois do pagamento de mais uma taxa, ou seja, o cliente vê informações básicas e uma única foto, antes de seguir pra etapa seguinte, que é quando ele tem acesso a todo o conteúdo e, aí sim, pode entrar em contato conosco, através do mesmo aplicativo.

Pelo que vi da foto que me foi mostrada, alguém que já passou por essas etapas estava com o celular aberto e um outro celular registrou meu conteúdo, até porque não deixo minha foto de rosto acessível na parte anterior, mas ele constava no que havia sido mostrado a mim em sala de aula.

Continuei dentro da cabine, sentada sobre a tampa do vaso, enquanto administrava minhas emoções e processava todas essas ideias. Minha duvida ainda girava sobre como aquilo havia vazado, mas é lógico que havia uma hipótese na minha cabeça, eu só não queria acreditar naquela possibilidade.

– "Você ta bem?" – Me perguntou Dani.

Por alguns instantes fiquei parada olhando pra meu celular enquanto sentia uma pulga atrás da minha orelha. Será que Dani seria capaz de fazer isso de propósito? Já conheci tantos clientes doidos, sem dizer das histórias que outras colegas de profissão me contaram sobre os seus, mas aquela também era uma possibilidade, por mais difícil que fosse de acreditar.

Minha outra opção era ainda mais óbvia, Gabi, o problema era a respeito de seu acesso às minhas informações e isso fazia a situação ser ainda mais bizarra. Como ela conseguiria fazer isso sem ajuda, já que os obstáculos eram enormes? Afinal de contas, primeiro ela teria que saber o nome da plataforma pra depois passar por todos os demais obstáculos.

Eu realmente não era mais a mesma pessoa, mas era justamente por isso que não podia descartar nenhuma possibilidade, até porque as pessoas conseguem nos surpreender, principalmente se for de forma negativa, por isso a junção dessas duas ideias parecia fazer muito sentido e era isso o que mais me incomodava naquele momento.

– "To bem e você?" – Respondi.

Me fiz de idiota, não falei do assunto, até porque achei bem estranho Dani entrar em contato ao mesmo tempo com o que tava acontecendo, só que não queria me precipitar e acabar cometendo alguma injustiça por estar motivada pelo sentimento ruim que estava me consumindo.

Respirei fundo e guardei o celular, já que isso não ia resolver meu problema. Eu precisava definir como iria me comporta, o que iria fazer, como iria reagir, porque pelo tanto de gente que passou por mim sorrindo de forma maliciosa, era nítido que aquela notícia havia se espalhado e esse sim era o meu problema.

– Eu sei que você ta aqui, Yasmim. – Aquela era a voz de Gabi.

Senti todo o meu corpo se arrepiar e uma louca vontade de agredi-la, até porque sobre isso não havia mais dúvida, ainda mais com ela usando daquele tom de voz. Saí da cabine e a olhei, vendo um ar de deboche ao seu redor, que mostrava sua satisfação pelo que estava acontecendo, e perguntei:

– Por que você fez isso?

Minha perguntar era uma afirmação sobre o seu ato e isso era doloroso de se fazer... eu gostava dela. Ela se aproximou de mim com os olhos marejados e carregados de rancor, seu rosto ficou a centímetros do meu e, me olhando olho no olho, disse:

– Porque é isso que uma puta traidora merece. 


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