07- Vou de Graça

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Me arrumei, ainda na esperança de que surgisse algum cliente, mas nada aconteceu, então fui, nem tão produzida, mas também nem tão à vontade, pois minha intenção nem era ficar com ninguém, o que, pra mim, parecia ser um comportamento diferente, ou pelo menos fora do padrão.

Cheguei na Lapa e metade já estava lá. Às vezes um pouco de socialização faz bem pro coração e era nisso que estava focada, queria sair um pouco da rotina e só relaxar com meus amigos, por mais que muitos deles tivessem a intenção de me pegar... eu sabia, até porque alguns deixavam isso bem claro no dia a dia.

Não sei se já falei a respeito, mas dizem que a gente acostuma com esse lance do dinheiro e acho que existe uma verdade nisso, porque pra me fazer transar de graça tinha que ser um tesão muito forte, muitas das vezes mais da minha parte em si, do que vindo das pessoas, justamente porque era difícil alguém conseguir me convencer do contrário.

Enfim... comecei a beber e a dançar, do jeito que não fazia já há algumas boas semanas, e isso estava sendo extremamente agradável, até que um ex cliente surgiu me puxando pelo braço e perguntando:

– Ta se achando muito pra não responder mais minhas mensagens, não é, sua puta?

Eu mal me lembrava daquele sujeito, mas com aquela abordagem, não custou muito pra refrescar minha memória. Não sei seu nome, mas ele havia sido um babaca comigo, quando fizemos o programa, pois ficava tentando me enrolar e tirar a camisinha, além de falar comigo como se eu fosse um lixo.

– Me deixa em paz. – Respondi, encarando-o com muita seriedade.

Meus colegas de faculdade começaram a se juntar ao nosso redor e o mandavam me soltar, ameaçando agredi-lo, mas nem assim ele o fez. Aquela era uma situação delicada, porque não queria que soubessem de mim e aquele homem não estava se importando com isso, pelo contrário, se percebesse a situação, tenho certeza que seria a primeira coisa que falaria a respeito.

– Eu quero você e você vai me dar. – Disse ele, agressivo, me encarando.

– Eu não fico mais com você nem que você pague. – Disse, sussurrando, mais próxima de seu rosto.

Nesse momento, pra minha surpresa, outras quatro pessoas surgiram puxando-o por todos os lados e uma dessas pessoas era Daniela. Eu fiquei em choque, olhando-os levar o doido arrastado enquanto ele gritava coisas ofensivas, mas sem sentido... pra minha sorte eu diria.

– Você ta bem? – Me perguntou ela, depois que seus amigos se afastaram.

Meus colegas estavam todos ao meu redor e eu não sabia como reagir àquilo, pois todos estavam fazendo as mesmas perguntas, principalmente aqueles que sabia que tinham outras intenções comigo, mas só consegui ouvir sua voz se direcionando a mim.

– Estou bem. – Falei, de forma generalizada, depois a olhei, ainda em choque e confusa.

Meus colegas a olhavam com um olhar estranho, talvez não só por ela conhecer o maluco, mas porque sua aparência sugeria a respeito de sua sexualidade, por mais que não fosse completamente "tradicional", ou seja, havia uma energia que chamamos de masculina, mas com traços femininos... ainda não sei explicar essas coisas, ainda to aprendendo.

– Me dêem um minuto. – Pedi pros meus colegas.

Peguei-a pela mão e me afastei de todos, mas não que tenhamos ido longe, ou saído completamente do meio das pessoas, eu só precisava sair de perto do pessoal da faculdade pra poder falar com ela sem interferência, ou sem receio de que descubram a meu respeito, já que esse era meu maior objetivo.

– Você conhece aquele louco? – Perguntei, ainda chateada.

– Ela trabalha no mesmo lugar que eu, foi por causa dele que fiquei sabendo de você, mas ele não sabe o que rola entre a gente. Ele falou muito de você, mostrou fotos e tals, mas ele é escroto, então... enfim, acho que é isso.

– Que loucura. – Falei comigo mesma, refletindo sem olhá-la.

– Muita. – Sorriu. – A outra loucura é que não esperava te encontrar por aqui.

– Muito menos eu. – Eu ainda não conseguia sorrir, mas senti que minha voz foi mais branda ao falar aquilo. – Acho que é melhor eu ir embora.

– Mas por quê? Ainda ta cedo.

– Complicado. – Falei, pensando nos meus colegas de faculdade. – Mas pra mim já acabou a noite... odeio barraco.

Eu realmente estava muito puta com o que havia acabado de acontecer e devia haver apenas uma ou duas horas que estava na Lapa, ou seja, quando a noite ia começar a ficar boa me vem aquele imbecil e faz a merda que ele fez. Pra mim não tinha mais clima pra ficar ali, eu só queria ir embora, fosse pra onde fosse.

– Eu tava pra te chamar por esses dias, mas se aceitar, vem comigo, te levo pra comer alguma coisa e tentar espairecer, depois vejo o que faço... qualquer coisa te vejo mês que vem.

Eu olhei pra trás e vi Gabi me olhando de longe, mas não era só ela, como alguns dos rapazes que estavam com a gente. Olhei de volta pra Daniela e tentei entender aquilo que havia dito. Ela estava pra me chamar pra um programa, mas estava dizendo de me dar esse dinheiro pra me tirar dali, sem saber se teria como me chamar depois, se fosse o caso, já que iria gasta-lo comigo naquela noite.

– O que me diz? – Perguntou ela me estendendo uma das mãos.

Eu não poderia falar, mas seria hipocrisia mentir e dizer que não queria sair dali com ela pra outro lugar, até porque já pretendia ir embora mesmo. Olhei de novo pros meus colegas. A tentação era enorme, por isso havia um conflito, mas também não achava justo que gastasse seu dinheiro em uma situação tão inesperada... alem do mais, não queria ter que esperar mais um mês.

A olhei novamente e, me aproximando abruptamente, olhando no olho, disse:

– Vou de graça.


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