19- Pagando a Língua

415 34 0
                                    

Todos os dias eram angustiantes depois daquela mensagem, principalmente quando estava na faculdade, porque qualquer risinho que Gabi desse pro seu celular, era um arrepio percorrendo por meu corpo. Dani havia apenas me respondido com um simples "ta bom", o que era ótimo, porque demonstrava compreensão, mas, ao mesmo tempo, parecia seco demais perto do que aquilo significava.

Era difícil ignorar e seguir a vida, era quase impossível não pensar nela... eu queria voltar atrás, mas não podia, precisava seguir minha vida da melhor forma possível, ciente de que aquele sentimento ia passar, mesmo não sabendo quanto tempo levaria pra que isso viesse a acontecer.

Tudo parecia sem graça, como se a vida agora fosse em preto e branco, simplesmente uma grande repetição... estudar... transar... dormir e acordar. Eram tantas lembranças... tantos bons momentos, independente do sexo. Seus olhares. Seus carinhos. Seus beijos... seus abraços.

Chorei, confesso... vários foram os momentos que não consegui me segurar, mas a escolha era minha e eu sabia os motivos que tinha pra fazer isso, embora os tenha questionado. Era realmente necessário fazer isso? Eu de fato tinha que me afastar de alguém tão... especial?

Quantas foram as vezes vi outras iludidas como eu e que, no fim, foram abandonadas porque, obviamente, seus amantes não iriam assumi-las pra sociedade. Entre centenas de casos, poucos são aqueles que realmente seguem adiante, entregues a esse sentimento, ao qual chamam de amor.

Seria esse o meu medo? Amar e acabar como elas? Seria por isso que havia criado tantas regras? Digo isso porque pouco pensava a esse respeito, afinal, nunca havia me apaixonado por um cliente, mas talvez, por ver outras pessoas nessa situação, isso também tenha me motivado a ser como era... seria isso?

Em dois anos a gente vê e ouve muita coisa, porque esse é um meio muito complicado, até por isso que é difícil explicar a respeito, porque tem coisa que só quem vive que vai conseguir realmente entender, mas sim, vi muito cara, que parecia ser maneiro, se comportando como escroto, depois de assumir algum relacionamento com uma de nós.

Com isso, continuei seguindo a minha vida, pouco a pouco, esperando que aquele sentimento finalmente me deixasse em paz. Queria que esses coisas tivessem um manual, com datas de início e término, mas não, porque isso funciona de maneiras diferentes pra cada pessoa, então era isso, eu precisava viver o meu processo até o fim.

– Vou encontrar a Dani esse fim de semana. – Me disse Gabi, toda feliz.

Todo meu corpo se arrepiou e, ao mesmo tempo, fiquei me perguntando de onde vinha aquela alegria de Gabi, já que só haviam se visto uma vez na vida, mas tudo bem, escolhi respeitar.

– Fico feliz por você, mas achei que vocês já tinham feito isso. – Respondi.

– Eu até tentei, mas ela disse que tinha terminado um relacionamento há pouco tempo e que precisava esperar um pouco pra respirar.

Aquela frase me bateu de uma maneira diferente, até porque senti que ela era a meu respeito. Por um momento me perdi em mim mesma, como se o tempo parasse. Haviam duas informações ali, uma de que elas iam se ver e, a outra, de que houve um tempo pra que isso acontecesse porque Dani estaria precisando, por ter terminado um relacionamento.

– Você ta me ouvindo? – Perguntou Gabi, me trazendo de volta a realidade.

– "Pera", o quê? – Atordoada, perguntei.

– Tava te falando o que a gente vai fazer, mas você parecia em outra dimensão.

– Ah, foi mal, lembrei de um problema, mas não é nada contigo não. – Meias mentiras... meias verdades.

– Me dá um conselho.

– Como assim?

– Ué, você conhece ela, então me da alguma dica, sei lá.

– Você ta realmente muito afim, não ta? – Incomodada, perguntei, porque aquela insistência tava demais pra mim.

– Você acha que eu to emocionada demais? – Surpresa, perguntou.

– Acho. – Fui sincera. – Você nem encontrou com ela e já ta assim, imagina se vocês ficarem e for bom, né.

– Tem razão, preciso segurar a onda.

– Pois é, acho que seria melhor. – Respondi.

Aquela minha frase me despertou um gatilho... e se for bom. Comecei a arrumar minhas coisas, pois não havia condições de continuar ali, ainda mais depois daquela conversa doida que havia acabado de ter com Gabi, que por sinal ficou me olhando com espanto.

– Já vai embora? – Me perguntou ela.

– Lembrei de um compromisso.

– Vai acabar reprovando de tanta falta.

Já me levantando eu a olhei e disse:

– Deixa que depois me viro. Beijos.

Saí às pressas, enquanto tentava conter aquelas emoções doidas que ferviam dentro do meu peito. Minha mente era criativa e eu já conseguia vê-las em um encontro, com Dani sendo tão gentil quanto foi comigo, porque, obviamente, não acreditava que aquele comportamento seria exclusivamente comigo.

Fui pra casa, já com um convite pra um programa engatilhado e com a intenção de fazer com que aquilo me fizesse esquecer o que estava pensando e sentindo, mesmo sabendo que não seria tão simples assim. Me arrumei, com o olhar vago durante todo o processo, mas o fiz, da melhor forma possível e fui.

Eu não fazia ideia de como era sentir tudo aquilo e ainda ter que manter uma aparência de que tudo está bem. Confesso que julguei muitas conhecidas de profissão, quando mencionavam coisas do tipo, mas, desta vez, era eu quem estava pagando a língua... e nem era de uma maneira gostosa.


Curte, comenta e compartilha

Me segue no insta: kakanunes_85

Cap novo toda sexta

LGBT - EncontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora