18- É Melhor

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Sabe quando você fica com um gostinho de "quero mais"? Era assim que me sentia no caminho de volta pra casa, enquanto me lembrava, não só do sexo, mas também de nossos momentos de carinho, pois sim, eles existiam. Dormir em seus braços me trazia uma paz muito estranha, por mais que não fosse extremamente confortável, eu simplesmente não conseguia soltá-la.

– Eu to apaixonada. – Confessei, baixo, pra mim mesma.

Acho que foi a primeira vez que falei isso assim, a primeira vez que realmente assumi o que estava sentindo e não fazia ideia do que fazer a respeito, porque sim, o certo seria me afastar e eu realmente quis isso quando pensei em aproximar Gabi de Dani, situação que não havia sido abortada, mas que eu só não queria ir adiante... mas tinha.

Pelo caminho, resolvi descer e caminhar um pouco, aproveitando que não estava tão quente, mesmo o dia estando lindo. Acho que era a minha ansiedade gritando dentro da minha alma, me pedindo por ar, por mais que meus pulmões estivessem cheios dele... que ar era esse pelo qual sentia tanta falta?

Quando a gente fala das partes boas, parece que as ruins nunca existiram, mas eu sei como é ter uma crise de ansiedade, sei o que é sentir seu corpo gritando sendo que não há um motivo concreto por aquilo... tenho até medo de falar a respeito e pecar de alguma maneira em minhas palavras, mas acho que cada um tem sua própria experiência e é sempre sobre ela que podemos falar.

Já passei por muitos momentos assim, tendo em vista a solidão da minha vida e o fato das pessoas quererem não só me usar, como abusar também. Acho que quando ambas as pessoas estão de acordo sobre se usarem, tudo fica bem, mas quando começa a haver o abuso, aí é onde as coisas ficam complicadas de verdade.

Na minha profissão as pessoas tem a tendência a achar que podem fazer de mim o que bem quiserem, justamente por causa da desclassificação que nos impõem, pois esquecem que também somos seres humanos e não objetos, então, mesmo pra quem realmente gosta do que faz, existem muitas situações bem complicadas de se viver sozinha, como aquela da Lapa.

– "Foi muito bom ontem." – Me enviou Dani.

Eu vi sua mensagem, mas não quis responder, até porque estava me sentindo confusa. Continuei minha caminhada, decidida de que não iria pra faculdade, pois não tinha a menor estrutura pra encarar nem as aulas e nem Gabi falando sobre o que eu não queria ouvir.

– "Podemos nos ver?" – Me enviou um cliente.

Eu estava exausta? Estava, muito, mas aquele era daqueles simpáticos e rápidos, tão rápido que mal faz cosquinha, então resolvi aceitar, até porque seria bom distrair um pouco a cabeça com alguém diferente e que não me causa nenhum tipo de emoção diferente da que realmente importava.

Combinei pro fim da tarde, que era o horário entre a saída dele do trabalho e sua ida pra casa... sim, ele é casado. Parece ruim da minha parte e confesso que realmente não gosto dessa situação, mas encaro realmente como deve ser, ou seja, esse é o meu trabalho, quem deveria pensar no que está fazendo é ele.

Cheguei em casa e continuei ignorando a mensagem de Dani, pois não sabia o que responder, já que minha vontade era concordar, mas, ao mesmo tempo, tudo dentro de mim me dizia pra não fazê-lo. Fiz o que tinha que fazer, dentro do tempo que tinha. Tomei meu banho, mas não sentia o mesmo prazer que costumava sentir naquele processo.

Esse negócio de ter sentimentos é algo muito louco, pois quando você passa a ter, parece que tudo mais perde a graça, ou deixa de ser como antes, mas eu precisava manter meu profissionalismo, então não podia fazer algo de qualquer maneira só porque não sentia por meu cliente o mesmo que por Dani.

Me arrumei, como de costume, e fui pro meu encontro. Creio que não seja necessário detalhar a esse respeito, até porque a ideia já é auto explicativa, mas foi bom, ao menos pela parte onde me distraio e paro de pensar... não pelo sexo, mas pela parte simpática daquele meu cliente.

Fui extremamente mecânica no que tinha que fazer, encarnando meu personagem e fingindo que ali era onde queria estar, por isso consegui não pensar em mais nada, porque precisava fazer um grande esforço pra me manter no meu personagem. Fico pensando em como deve ser pra quem paga, mas não me referindo aos que não se importam, mas sim sobre os que são legais... como Dani.

Ainda não conseguia entender o porquê dela pagar por sexo, embora as coisas fossem ficando cada vez mais claras. Existem coisas que nossa mente simplesmente se nega a entender, não sei se já falei sobre isso, mas sinto que tinha muito desse problema, provavelmente por nunca ter feito parte desse mundo, que agora parecia ser tão meu.

Cheguei em casa cedo, até porque era essa a intenção, mesmo que tenha havido outro convite de trabalho, o qual rejeitei porque aí também já era demais, eu precisava descansar e o outro cliente não era tão simples quanto o primeiro. Eu queria ir pra casa, queria ficar quieta e sozinha, e esse também era um dos mais importantes motivos pra não ter pego o outro programa.

Me sentei no me sofá, eu e minha cerveja, e fiquei processando tudo que estava acontecendo, além do que havia confessado pra mim mesma naquele mesmo dia. Eu estava apaixonada por uma mulher, o que era algo que nunca achei que pudesse vir a acontecer, mas era real, era isso que sentia e não tinha mais como negar.

Tomei outro banho, e digo "outro", pois já o tinha feito antes de vir pra casa, mas aquele foi mais por uma necessidade emocional do que física. A água quente escorrendo desde minha cabeça até meus pés me gerava uma sensação de conforto tão grande que me fez perder a noção de tempo.

Deitei na minha cama me sentindo exausta, mas certa do que ia fazer... era inevitável... era?

– "É melhor a gente não se ver mais." – Enviei pra Dani e desliguei meu celular.


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